• 20 ago 2017

    100 anos da Revolução Russa – 77 anos do assassinato de Leon Trotsky

20 de agosto de 2017

Nessa campanha dos 100 anos da Revolução Russa, é obrigatório lembrar com os punhos erguidos o assassinato de Leon Trotsky, em 21 de agosto de 1940, em Coyoacán, México. Sua morte ocorreu a 23 anos e dois meses da Revolução de Outubro de 1917.

Trotsky travou uma luta implacável contra o revisionismo de Stálin e sua camarilha, desde a morte de Lênin em 21 de janeiro de 1924. Constituiu a Oposição de Esquerda Russa (1923-1928). Stálin utilizou o controle do poder do Estado e do partido para sufocar a divergência e impedir que as posições de Trotsky chegassem às bases operárias. No lugar da discussão organizada, segundo os fundamentos do centralismo democrático leninista, desenvolveram-se os métodos da calúnia, das falsificações, da perseguição e de medidas administrativas. Stálin chegou a manobrar ao ponto de evitar que Trotsky, adoentado, comparecesse no funeral de Lênin. Foi um sinal de que o aparato estalinista iniciava o isolamento do revolucionário que se elevou à altura de dirigente do Revolução Russa, ao lado de Lênin. Todos aqueles próximos de Trotsky foram sendo afastados dos postos no partido e do governo soviético.

Estavam em choque duas orientações distintas diante da tarefa de edificar o socialismo e desenvolver o internacionalismo proletário. A direção comandada por Stálin, Zinoviev, Kamenev e Bukarin caminhava para a tese da possibilidade do desenvolvimento do socialismo nas fronteiras da União Soviética (“socialismo em um só país”). A oposição de Trotsky e de seus camaradas indicou já de início que não se tratava de uma simples divergência circunstancial, mas sim programática e principista.

As críticas de Trotsky à política econômica do estalinismo, materializadas no documento “Novo Curso”, assentaram as bases de uma cisão que concluiu com a destituição de Trotsky da direção do partido, sua detenção e, finalmente, sua expulsão da União Soviética. Em sua biografia, “Trotsky Vida e Morte”, Victor Serge indica que o folheto “As lições da insurreição de Outubro” (setembro de 1924) provocou imediatamente a ira de Stálin, Zinoviev e Kamenev, que formariam o triunvirato na direção partidária. Eis: “O livro se tornou um atentado à ideologia do partido, ao leninismo (recentemente inventado), à unidade ao poder, uma espécie de traição que ainda não se ousava qualificar como tal”. Ocorre que neste folheto, Trotsky evidencia as fraquezas desses militantes nos momentos decisivos da Revolução Russa. A partir daí se vasculhou a vida política pregressa de Trotsky para mostrá-lo como adversário de Lênin.

Em janeiro de 1925, Trotsky foi destituído da presidência do Conselho Superior de Guerra. Tratava-se de afastá-lo do posto de comando militar. Em dezembro de 1927, o XV Congresso do Partido Comunista foi utilizado para condenar o “trotskismo”, exigir que a Oposição de Esquerda renegasse suas posições e decidir pela expulsão daqueles que não se curvassem diante daquele tribunal de inquisição. Em 1928, Trotsky é deportado para Alma-Ata, sem nenhum julgamento. Em janeiro de 1929, Trotsky foi informado de sua expulsão do País, acusado de praticar atividade contrarrevolucionária e de tentativa de formar um partido antissoviético. Em fevereiro, chegou a Istambul, Turquia. Foi confinado na ilha de Prinkipo. Teve início a formação da Oposição de Esquerda Internacional. Recrudesceu a perseguição da polícia política de Stálin – GPU – a Trotsky. Foi obrigado a deixar a Turquia e se exilar em 1933 na França. Em junho de 1935, era enviado para a Noruega.  Em 9 de janeiro de 1937, chegou a Tampico, México, o navio que levou Trotsky ao seu último exílio.

Nesse trajeto, Trotsky trabalhou incessantemente pela organização da Oposição de Esquerda Internacional e escreveu os seus principais documentos de crítica ao revisionismo estalinista. O que incitou a burocracia a apertar o cerco repressivo ao revolucionário. O passo mais importante foi a fundação da IV Internacional, tendo por base o Programa de Transição, em 3 de setembro de 1938.

É importante estudar a falência da III Internacional e a fundação da IV Internacional como parte dos 100 anos da Revolução Russa.

Abaixo publicamos uma declaração do Partido Operário Revolucionário da Bolívia, escrita dois anos após ao assassinato de Leon Trotsky. Trata-se de um documento histórico do trotskismo pela proximidade desse acontecimento trágico. Evidencia que o trotskismo nada mais é do que o desenvolvimento do leninismo, em outras palavras, do autêntico bolchevismo.

 

 

Faz dois anos que Leon Trotsky foi assassinado

 

(Declaração do Partido Operário Revolucionário, divulgada de La Paz, em 20 de agosto de 1942)

 

Stálin é o assassino de Trotsky

 

                                                               Guilhermo Lora

 

Leon Trotsky, dirigente, juntamente com Lênin, da Revolução Russa, morreu na cidade do México no dia 21 de agosto de 1940, vítima de uma agressão brutal desfechada por um assassino da GPU.

                Lutou contra a morte durante 26 horas, depois que o assassino a mando de Stálin golpeou seu cérebro com uma picareta de alpinista.

Foi sua última batalha. Mas não se entregou à morte até não ter acusado o monstro do Kremlin como planejador de seu assassinato. Não se entregou até que, em suas últimas palavras, insistiu em transmitir, antes de perder o sentido, a bandeira da IV Internacional aos homens e mulheres, por meio da qual os tinha reunido em várias partes do mundo em torno do Partido Mundial da Revolução Socialista.

“Diga a nossos amigos” – concluiu – “que estou seguro da vitória da IV Internacional. Avante!”

Enquanto caía sob os golpes mortais do assassino da GPU e quando seus Secretários, guardiães armados, se lançaram sobre o assassino, Trotsky gritou, repetidas vezes, “- deixe-o viver”. Não por bondade, mas para assegurar a possibilidade de que o assassino pudesse dar informações adicionais que ajudassem a condenar o Caim do Kremlin aos olhos da classe operária mundial.

A GPU de Stálin inquestionavelmente recorreu ao desesperado plano e obrigou a um de seus serviçais a matar Trotsky. Estava claro que o assassino não teria como cometer o crime e conseguir fugir. Isso porque em maio já havia fracassado um atentado contra a vida de Trotsky.

O poder ilimitado da GPU sobre suas criaturas se manifestou quando o assassino, ao ser agarrado pelos guardas, depois do ataque, disse: “me obrigaram a fazê-lo. Caso contrário, teriam matado minha mãe”. Não foi possível, posteriormente, arrancar-lhe nenhuma informação sobre o paradeiro de sua mãe. Depois de recuperar a tranquilidade, passou a representar o papel que a GPU lhe havia prescrito.

Para justificar o crime de Stálin, o assassino foi instruído a dizer que tinha “rompido com Trotsky”, quando este lhe pediu que fosse à Rússia cometer “atos de sabotagem”. Uma farsa absolutamente impossível, uma vez que todo aquele que conhece a política marxista sabe que tais métodos são estranhos a Trotsky e a IV Internacional. O arsenal de Stálin se reduz a tais argumentos absurdos, para ocultar de onde vinha a arma do assassino.

Jacques Monard – a mando da GPU -, com sua arma escondida em suas roupas, foi à casa de Trotsky às 5:30 horas da tarde, de 20 de agosto. Encontra-se com Trotsky, no pátio, perto do galinheiro, onde diz que tinha escrito um artigo e queria um conselho. Trotsky convidou Monard a ir até o escritório, sem avisar seus seguranças. A primeira indicação de que ocorria algo de ruim veio dos terríveis gritos e da violenta luta de Trotsky com o assassino. Os dois seguranças, mais próximos, correram até a cozinha que ficava próxima ao escritório de Trotsky. Depararam-se com Trotsky com o rosto banhado de sangue. Um dos guardas – José Hansen – dominou o assassino, derrubando-o com um golpe. O outro ajudou Trotsky a deitar-se sobre o piso. Aparentemente, o assassino esperava que Trotsky caísse inconsciente no primeiro golpe da picareta de alpinista. No entanto, Trotsky reagiu e lutou enquanto recebia repetidos golpes na cabeça e na garganta.

Trotsky acreditou que o primeiro golpe tinha sido um tiro, disse a Hansen: “me feriram com o revolver. Estou seriamente ferido. Creio que desta vez é o fim”. Hansen procurava convencer-lhe de que era uma ferida superficial. Trotsky não se deixava convencer. “Não” – disse -. “Eu sinto aqui – mostrando o coração -, que desta vez triunfaram”.

 

Sua preocupação final

 

Trotsky, em seus últimos momentos de vida, não se preocupou com o êxito de Stálin em assassiná-lo, mas com o que deveria ser feito por aqueles a quem pediu que levassem adiante da bandeira da IV Internacional.

No hospital, perguntou a Hansen se tinha uma caderneta para anotar uma declaração que continha dois pontos: uma acusação – “Estou perto da morte, ferido por assassino político”; e uma conclusão: “Diga a nossos amigos que Eu estou convicto da vitória da IV Internacional. Avante!”

Suas últimas palavras foram as de um lutador, exortando seus seguidores a continuarem a luta. Assim era León Trotsky!

 

(Extraído das Obras Completas, tomo I, 1942-1947, Guilhermo Lora)