• 06 out 2018

    Três dias para as eleições. Nossa luta pela independência de classe do proletariado e demais explorados

4 de outubro de 2018

Está praticamente concluída a campanha eleitoral do primeiro turno. Mantém-se a polarização entre Bolsonaro e Haddad. Representam políticas distintas. O candidato do PSL se identifica como ultradireita, e o do PT, como de esquerda. A ultradireita se caracteriza por expressar a fração capitalista, que se coloca pelos métodos militares de combate à luta de classes. A esquerda, por colocar-se, preferencialmente, pelo método da conciliação de classes e subordinação das organizações operárias à política governamental. Os explorados estão convocados a votar nessas duas variantes da política burguesa. A esquerda pequeno-burguesa, reformista e centrista, representada pelo PSOL e PSTU, não comparece como a via proletária e revolucionária. Nenhum dos dois partidos se apresenta com a estratégia própria de poder da classe operária. Estratégia essa que é a da revolução e ditadura do proletariado, da luta por um governo operário e camponês, que nascerá do combate direto das massas ao capitalismo.

No caso em que não se tem o partido revolucionário intervindo nas eleições com candidaturas próprias, subordinadas ao programa e à estratégia da revolução proletária, impõe-se o voto nulo, como manifestação da independência de classe dos explorados. É preciso, portanto, deixar claro que a polarização entre a ultradireita e a esquerda da política burguesa se passa nas condições em que os explorados não contam com a política do proletariado, a não ser por meio da defesa do voto nulo, sob a bandeira da construção do partido operário revolucionário.

Tudo indica que a decisão final será dada no segundo turno. No entanto, se observa um amplo movimento na classe burguesa para garantir a vitória de Bolsonaro, em 7 de outubro. Evidencia-se a poderosa influência das igrejas evangélicas, montadas em rede nos bairros empobrecidos e nas favelas. Rede essa centralizada por uma casta de pastores, que maneja rios de dinheiro e controla emissoras de rádio e televisão. É com esse império que difunde amplamente seus preconceitos religiosos, que correspondem à manutenção do capitalismo em decomposição e mergulhado na barbárie social.  Nos últimos tempos, as igrejas passaram a influenciar decisivamente o resultado das eleições. A bancada evangélica, no Congresso Nacional, alcançou 199 membros nas eleições de 2014. Distribui-se em vários partidos. Nesse final de campanha, os principais chefes das igrejas neopentecostais, tendo à frente Edir Macedo, da Igreja Universal do Reino de Deus, se lançaram à arregimentação de milhões de explorados, que se acham sob a influência de sua catequização. O mesmo movimento pró-Bolsonaro tomou corpo nas frentes parlamentares da segurança pública (bancada da bala), e na dos ruralistas (bancada do boi). Somadas, detêm a maioria parlamentar. Agrega-se a essa ofensiva as ações de grandes capitalistas do comércio, que obrigam seus empregados a fazerem campanha em favor de Bolsonaro. A ausência de um grande aparato partidário – o PSL não passa de uma sigla – é compensada pelos aparatos das igrejas, do comércio e dos latifundiários, que já não escondem seu apoio ao candidato da ultradireita. De maneira mais velada, setores do capital financeiro e da grande indústria também trabalham para derrotar o PT.

A constituição dessa frente burguesa se deu com a desintegração da frente de sustentação da candidatura de Geraldo Alckmin. A burguesia direcionou sua atenção para uma candidatura que melhor expressasse seus interesses gerais, e que fosse mais capacitada para dar continuidade ao programa econômico estabelecido pelo golpe de Estado e pela ditadura civil de Temer. A variante ultradireitista e fascistizante, encabeçada por um representante de um setor da pequena burguesia (classe média), não estava, no momento, em seus cálculos. Observa-se que o “centrão” abandonou Alckmin à sua própria sorte. O PSDB se dividiu, deixando em maus lençóis a sua ala considerada historicamente como democrata. A fração que já bandeou para as hostes dos bolsonaristas expôs, mais claramente, a medula reacionária do PSDB. O baixo desempenho de seu candidato representa um castigo que a população pobre lhe dá, por ter chefiado o golpe de Estado, e ter sido base de apoio ao odiado governo Temer, que desfechou um ferino ataque à vida dos explorados.

A emersão da candidatura direitista, nascida no flanco da política burguesa dominante, surpreendeu os partidos históricos (PSDB, MDB e DEM). Não porque fosse um fenômeno novo, mas porque serviu para varrer das eleições as candidaturas de Alckmin e Meirelles. Há um precedente, que foi a eleição do franco atirador Fernando Collor de Melo, nas eleições de 1989, que venceu, fraudulentamente, Lula. Também não se esperava que o PT pudesse tomar a dianteira no segundo posto das pesquisas eleitorais, deixando muito atrás as demais candidaturas. Confirmou-se a possibilidade de Lula, desde a cadeia, transferir votos ao seu substituto.  A volta do PT à presidência da República será uma desventura para as forças burguesas, que protagonizaram o golpe de Estado e, principalmente, para a sua fração mais reacionária, que pretendia e pretende riscar os reformistas do mapa.

Não é estranho que importantes órgãos da imprensa imperialista não veem com bons olhos a vitória de Bolsonaro. À primeira vista, parece ser devido ao seu excessivo obscurantismo em torno a valores religiosos e, concretamente, por sua defesa da liberação das armas de porte individual, da criminalização da pobreza, do recrudescimento da lei contra menores infratores e total condenação do direito ao aborto, entre outras questões sociais. Há uma corrente da socialdemocracia internacional que recorre a tais manifestações para sobrepor o movimento de classe média ao movimento do proletariado. No entanto, a questão de fundo está em que não há confiança na possibilidade de tal governo impor às massas novas medidas antipopulares e antinacionais e garantir a aplicação daquelas que estão em curso, como a reforma trabalhista e a lei da terceirização. O PT é considerado mais adequado, uma vez que as massas rechaçaram a candidatura de Alckmin e de Meirelles, para amortecer os choques de classes.

A política de conciliação orquestrada nos 13 anos de governo do PT foi empurrada à beira do precipício pela crise econômica. O golpe de Estado objetivou substituí-la por uma centralização autoritária. O que não foi possível, precisamente pela persistência da crise e pela rejeição das massas ao governo Temer. O PT arrancou forças dessa fraqueza política do golpe e se reconstituiu como oposição burguesa. A prisão política de Lula e a cassação de seus direitos foram um dos últimos recursos usados pela reação para marginalizar o PT e concluir o governo de transição, por meio da eleição de um novo governo alinhado com o golpe. A projeção eleitoral de Haddad – um político pequeno-burguês sem nenhuma expressão entre as massas – ameaça o cumprimento dessa estratégia, que teve por arquiteto o PSDB.

O alinhamento de várias frações da burguesia à candidatura de Bolsonaro corresponde ao empenho de evitar o fracasso total do golpe de Estado. Chegou o momento eleitoral de maior ofensiva: o juiz Sérgio Moro destampou o lixo da delação premida de Antonio Palocci, as igrejas saíram a campo aberto, as bancadas parlamentares declaram apoio a Bolsonaro e empresários passaram a fazer campanha ostensiva contra o PT.

A frente ampla anti-PT se alimenta da alta classe média e de uma camada da classe média baixa, que arrastam um amplo contingente de pobres e miseráveis. A força ideológica das igrejas evangélicas se nutre dessa composição social heterogênea. O PT se ergueu eleitoralmente sobre as costas de uma camada da classe média, de uma massa popular de pobres e miseráveis, de camponeses e de uma importante parcela da classe operária. Os sindicatos continuam sendo um de seus principais aparatos. É importante assinalar o apoio de uma fração oligárquica do Nordeste ao PT. Tudo indica que a Igreja Católica pende mais para a candidatura de Haddad. Um massivo movimento feminista convocou as mulheres a não votar em Bolsonaro. Sua natureza, qualificada de suprapartidária, serviu tanto à campanha eleitoral de Haddad, quanto à dos demais candidatos. A força de arregimentação dos evangélicos, no entanto, neutralizou, em parte, o voto das mulheres que iria para Haddad.

O fundamental dessa polarização eleitoral está em que há uma direitização da política burguesa, que cresceu com a crise econômica e com a incapacidade do governo de Dilma Rousseff de seguir a linha ditada pelo capital financeiro. Não por acaso, Haddad procura se aproximar de setores empresariais, inclusive de banqueiros, para dar amparo a seu governo, caso seja eleito. Internamente ao PT, cresce a pressão para que seu candidato se desfaça de bandeiras como “constituinte” e “revogação da reforma trabalhista”. Bolsonaro, por sua vez, procura desfazer sua imagem de estatizante, herdada da ditadura militar. Continua, porém, demonstrando que seu governo fará uma virada na política de Estado, reforçando a presença dos militares nos postos de comando. O que expressa, concretamente, a tendência de fortalecimento do Estado-policial, voltado a conter a revolta dos explorados. É preciso deixar claro que, seja com Bolsonaro, seja com Haddad, o próximo governo terá de atacar mais fundo ainda a vida dos explorados. No dia seguinte às eleições, terá de ajustar a política econômica e social à sustentação da gigantesca dívida pública. Não poderá fazer absolutamente nada que atinja a alta carga de juros e, portanto, o parasitismo financeiro estrutural. A política direitista, militarista e fascistizante de Bolsonaro somente pode ser combatida por meio da política proletária.

Há que se preparar, desde as fábricas, os demais locais de trabalho, os bairros pobres e miseráveis, bem como o campo, para enfrentar o novo governo que continuará descarregando a crise do capitalismo sobre os ombros da maioria nacional oprimida. Há que se preparar para enfrentar a ofensiva do imperialismo, chefiada pelos Estados Unidos, que, com a guerra comercial, exigirá do Brasil maior entreguismo. Está colocada a luta por constituir as frentes de combates sindicais em defesa das reivindicações mais elementares dos explorados e a frente única anti-imperialista, sob a direção da classe operária.

Em poucos dias, as eleições se findarão, sem que os explorados possam contar com reformas progressivas, que sirvam aos pobres do campo e da cidade. Isso porque o capitalismo é um sistema econômico historicamente esgotado e que tende à desintegração. Nossa luta é por constituir o partido operário revolucionário, capaz de dirigir a luta da classe operária contra a exploração do trabalho, pela revolução proletária e pela constituição de um governo operário e camponês.