• 16 out 2018

    A luta proletária contra a ascensão da direita fascistizante

16 de outubro de 2018

A classe operária, os demais explorados e a juventude oprimida vão sair organizados, após as eleições, para enfrentar o governo da ultradireita? Absolutamente, não! Essa é a constatação que exige resposta e explicação.

A maior probabilidade é a de Bolsonaro ser eleito. A arregimentação da maior parte da população em favor de sua candidatura se confirmou no primeiro turno. Está mantida no segundo. Essa tendência se definiu não por acaso. O fracasso do governo petista diante da crise econômica, as demissões em massa e sua incapacidade para enfrentar o golpe de Estado foram fatores decisivos, apesar de não serem os únicos. Não se pode passar uma borracha nessa responsabilidade. No entanto, a não ser a alta classe média, as suas demais camadas baixas, incluindo uma parte da classe operária, votaram e vão votar em Bolsonaro. Não porque expressam uma tendência fascistizante. Votaram em Bolsonaro desencantadas com a política do PT e com os escândalos de corrupção. Passadas as eleições, vão se chocar com as medidas antinacionais e antipopulares do novo governo.

É necessário preparar, desde já, a luta contra esse governo com o programa de reivindicações, organização independente, método de luta próprio e tática de frente única. É preciso ter claro que os explorados sairão divididos. Uma grande parcela estará, inicialmente, sob a tutela do governo eleito. Os aparatos que promoveram a candidatura de Bolsonaro – um dos principais foram as igrejas evangélicas – manterão os oprimidos cercados ideologica e politicamente.

Em contraposição, há que se realizar um amplo trabalho de unificação dos explorados, por meio de respostas, passo a passo, às medidas antinacionais e antipopulares, bem como às ações fascistizantes. A polarização eleitoral burguesa deverá ser superada pela polarização de classe entre explorados e exploradores, entre as medidas do novo governo e o programa de reivindicações da maioria oprimida. Sem dúvida, as reivindicações democráticas – que não se confundem com a defesa estratégica da democracia burguesa, como fazem os reformistas – ganharão importância, diante do fortalecimento das tendências ditatoriais.

É imprescindível convocar os explorados a votar em Haddad? O Partido Operário Revolucionário (POR) defendeu o voto nulo no primeiro turno. E mantém essa posição no segundo turno. Está aí o motivo da pergunta e da resposta. As esquerdas, que tinham suas candidaturas próprias (PSOL e PSTU), e os candidatos de partidos burgueses (PDT e PSB), declararam-se por Haddad em nome do antifascismo. Caso a candidatura do PT/PCdoB se erguesse como um canal de combate da classe operária e dos demais explorados às tendências ditatoriais, e Haddad o refletisse em confronto com a burguesia, estaríamos obrigados a chamar o voto no petista. Já no primeiro turno, seria obrigação das esquerdas retirarem suas candidaturas e se declararem pró Haddad, uma vez que as pesquisas indicavam uma possível vitória do direitista no primeiro turno.

A candidatura do PT, porém, não se coloca como instrumento da luta de classes contra as tendências ditatoriais da burguesia. Comparece diante dos explorados com a bandeira de pacificação, contra a violência e o ódio. Esvazia o conteúdo de classe dos métodos da violência policial e militar, apregoada por Bolsonaro. Ao invés de convocar os explorados a se erguer pela via do combate, convoca-os a confiar na democracia burguesa e na política pacifista, componentes da política de conciliação de classes. E promete a setores capitalistas buscar a reconciliação nacional. Essa posição não possibilita dar sequer um passo de organização das massas contra o avanço da reação.

Uma tendência fascista não se circunscreve à procura de instalar tão-somente um governo ditatorial, que exerça a política militar-policial contra os movimentos, as greves, as ocupações de terra e os partidos adversários do regime, sem que precise arrancar a máscara da democracia parlamentar. Vai muito além desse tipo de governo, que não tem capacidade de destruir as organizações operárias, camponesas, populares e estudantis. Um governo fascista se impõe com os métodos da guerra civil. Tudo indica que a via do fascismo ainda não se coloca como condição para a burguesia governar. Mas, a de um governo ditatorial, sim. Esse passo, certamente, fortalece as posições fascistizantes do capital financeiro. O seu avanço ou retrocesso, no entanto, depende da passividade ou da projeção da classe operária, em defesa de seu programa. A conquista da independência política e a libertação da política de colaboração de classes, que aplaina o caminho para o regime ditatorial nas condições de profunda crise econômica e social, são imprescindíveis no combate ao governo ditatorial e à fascistização do País.

Haddad caminha no sentido contrário a esse combate. Decidiu mudar a linha de campanha, acenando para um setor da burguesia. Tudo indica que a direção do PT resolveu jogar suas últimas cartas, ao custo de exortar o apoio de uma ala do PSDB, na figura de Fernando Henrique Cardoso. Admitiu fazer uma reforma da previdência, e manter um “ajuste fiscal”. Assimilou e expressa parte dos ataques dos EUA à Venezuela. Por sua vez, a tentativa de aproximação com Joaquim Barbosa, ex-ministro do STF, algoz do PT no processo do “mensalão”, e com o general Villas-Bôas, é uma forma de Haddad acenar à burguesia que fará um governo mais serviçal do que o de Lula e Dilma. Aceitou abandonar a bandeira de Constituinte, com a qual se colocava por uma “reforma política”. E aboliu da campanha a figura de Lula, desvencilhando-se da acusação de que lhe daria um indulto.

Esse movimento de Haddad em direção à política burguesa de centro-direita expressa o desespero, diante do deslocamento da maioria da população ao candidato da direita fascistizante. Socorre-se de uma fração dos partidos que deram o golpe de Estado e abriram caminho para a candidatura de Bolsonaro. Essa diretriz de conciliação com uma parcela de golpistas expõe a incapacidade do PT de reagir ao avanço da direita burguesa. Mas, não há nada mais grave que a campanha pacifista diante do avanço do movimento da direita militarista. É com essa bandeira que se volta a setores da burguesia, da classe média e de representantes do aparato do Estado.

A constituição de “comitês antifascistas e de defesa da democracia”, convocados pelo PT e pelas esquerdas, são comitês eleitorais. Terminada a disputa, serão desativados. Ao contrário, a situação exige a formação de organizações de base, que sustentem a frente única contra todo tipo de ataque da burguesia e de seus governos à vida das massas. No movimento contra a ditadura civil de Temer e a aprovação das reformas da previdência e trabalhista, surgiram os comitês de ação e de organização da greve geral. Foram desativados em função das eleições. Há que retomá-los. Essa é a tarefa que se coloca desde já, diante do governo eleito. Uma de suas primeiras medidas será a de recolocar a reforma da previdência e estabelecer um plano de ataque em toda linha aos explorados. Está posto, desde já, reaver o movimento que culminou com a greve geral de 28 de abril do ano passado.

Inicialmente, os explorados estarão divididos pela polarização eleitoral. Logo, porém, sentirão o peso do desemprego, do subemprego, da queda salarial, do aumento da pobreza e da miséria. É dever da vanguarda revolucionária de trabalhar pela superação da divisão por meio das reivindicações, das respostas aos novos ataques, da frente única, da democracia operária e do combate unitário. O enfrentamento ao governo ditatorial e à fascistização se dará com o proletariado em luta e organizado no campo da independência de classe.

As camadas mais pobres da classe média têm de se aglutinar em torno ao proletariado; caso contrário, poderão ser ainda mais arregimentadas pelas posições fascistizantes. A camada rica da classe média continuará a sustentar a direitização da burguesia. Servirá de força de choque contra a maioria oprimida, se o proletariado continuar amarrado à política de colaboração de classes do PT, aliados e burocracias sindicais.

As bandeiras que podem servir à mobilização das massas e à retomada de sua unidade são aquelas que mais sentem no dia-a-dia. Em sua base, estão o desemprego, o subemprego, a perda salarial, a precarização dos serviços públicos, a necessidade da moradia e de terra aos camponeses pobres. A destruição de direitos trabalhistas e a implantação da terceirização vêm fermentando ódio e disposição de luta entre os assalariados, principalmente entre a classe operária fabril. A resistência das massas ao novo governo, certamente, será combatida a ferro e fogo.

Os comitês de frente única podem preparar a resistência e autodefesa das massas. A tarefa do momento é a de organizar os comitês de combate. Essa é a via que, de fato, abre caminho para a organização independente da classe operária, dos demais explorados e da juventude oprimida.