• 22 out 2018

    Por onde a ultradireita fascistizante será derrotada – Restabelecer a unidade dos explorados contra os exploradores

21 de outubro de 2018

Bolsonaro já organiza seu governo. Tem como certa a vitória. A imprensa como um todo confirma essa avaliação. O direitista não apenas arrebanhou a grande maioria dos votos das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, como penetrou no Nordeste e avançou enormemente no Norte. De maneira que uma abrupta virada do eleitorado no dia 28 de outubro é improvável. Não há nenhum indicador objetivo que coloque em dúvida esse prognóstico.

Os milhões de trabalhadores e jovens que indicaram seu voto em Haddad continuam firmes em seu propósito. Mas, seu peso não foi suficiente para quebrar a arregimentação pró-Bolsonaro. Não se verificou a grande rejeição ao perigo do representante da direita policial-militarista no segundo turno.

Tudo indica que a divisão entre a favor e contra o PT foi bem aproveitada pelos bolsonaristas. Haddad carregou nos ombros a vultosa pecha de corrupção. Não conseguiu convencer a maioria de que a prisão de Lula foi arbitrária e que a derrota de Bolsonaro seria a demonstração de que a sua libertação deveria ocorrer. Ao contrário, tanto a ultradireita quanto a direita se valeram da cassação dos direitos políticos de Lula.

A decisão da direção do PT de afastar a figura de Lula, neste final de campanha, alterar a simbologia do vermelho e desfraldar a bandeira nacional deve ser considerada como uma capitulação. As seguidas concessões às frações burguesas que não se alinharam com Bolsonaro, como a aceitação de propostas do PSDB (mais verbas para a repressão) e a volta atrás em pontos como a descriminalização das drogas e do aborto, soaram como manobras vãs, sem resultados. Nesse mesmo sentido, nenhuma manobra eleitoral diante dos ataques dos bolsonaristas justifica a menção honrosa feita por Haddad ao principal algoz do PT, o juiz Sérgio Moro. Nada que o PT faça para afastar as marcas do passado, no último momento do segundo turno, romperá a linha de ferro do antipetismo.

Boa parte da burguesia se converteu à causa de Bolsonaro. Impedir que o PT volte ao poder, depois de ter sido derrubado pelo golpe de Estado. Se o representante da direita, que era Alckmin, não empolgou as massas, que seja então o ex-capitão do exército a assumir o governo.

A melhor ou pior variante na política, como se vê, nem sempre depende exclusivamente da vontade das frações mais poderosas da burguesia, em se tratando de eleições. As experiências da maioria oprimida com os governos e partidos acabam por se manifestar, de alguma forma, ainda que completamente deformadas pela própria ação da política burguesa e dos seus aparatos (igrejas, etc.). Logo mais, os explorados sentirão que foram arrastados ao beco sem saída do bolsonarismo. Vão ter de enfrentar seus ataques por meio da luta de classes, terreno próprio da política proletária.

Haddad não apenas trocou o vermelho pelo verde-amarelo e pôs de lado a bandeira de “Eleição sem Lula é fraude”, mas também fez reparos à suas declarações sobre o juiz Sérgio Moro e o bispo Edir Macedo. Não apenas se voltou a atrair a atenção de admiradores do juiz e do bispo evangélico entre as massas que seguem Bolsonaro, mas também entre o empresariado que rejeita o PT e não está confortável com o bolsonarismo. Essa virada na campanha eleitoral expressa não só desespero, mas também a disposição do PT de se adaptar mais profundamente à política burguesa.

A “frente democrática”, que alargaria o espectro eleitoral de Haddad, se tornou impossível com a disputa com Ciro Gomes, que almejava uma aliança com o PT, sob sua liderança. Formalmente, o candidato do PDT declarou apoio, mas saiu em retiro para a França. Mesmo assim, importantes figuras pedetistas declararam apoio a Bolsonaro. Nada alterou em relação ao PSB. O candidato ao governo de São Paulo, Márcio França, no entanto, se encarregou de fazer o jogo sujo. Avalizou os ataques do bolsonarista João Dória a Lula e ao PT. A busca de Haddad, por sua vez, de apoio de figuras como a do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, deu armas aos adversários.

Haddad, para comprovar que estava sendo sincero em sua virada ao centro, apresentou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) uma nova versão do seu plano de governo. Apagou a promessa de convocar uma Constituinte, indicou disposição de continuar com o ajuste fiscal, retirou a acusação de golpista dirigido ao PSDB, omitiu a responsabilização da mídia monopolista com o golpe, alterou a formulação sobre LGBT, modificou o enunciado de reforma do judiciário, etc. É vergonhosa a adaptação do candidato do PT às pressões de setores da burguesia considerados democráticos, de agentes do mercado financeiro e de parte das igrejas evangélicas, bem como da igreja católica. Haddad e o PT não se veem, porém, na elementar obrigação de explicar a mudança para os milhões que se colocaram contra Bolsonaro. Que nome se deve dar a essa conduta política?

Estava claríssimo que essas eleições seriam a mais antidemocrática das que foram realizadas desde o fim da ditadura militar. Resultaram de um golpe de Estado. A cassação dos direitos políticos de Lula fez parte desse processo. A minirreforma política se encarregou de concentrar ainda mais os recursos públicos nas mãos dos maiores partidos. A avaliação de que evitaria a relação promíscua entre partidos e empresários não passou de uma cortina de fumaça. A dinheirama derramada, principalmente, em favor de Bolsonaro, assim que se confirmou a possibilidade de vitória, frauda descaradamente o pleito. O vasto uso das redes sociais para disseminar mentiras reflete o profundo caráter antidemocrático das eleições. Esse tipo de jogo não é desconhecido. A novidade, no caso do Brasil, está no uso da internet, poderoso instrumento ideológico controlado pelos Estados Unidos e manejado pelo poder econômico.

Não temos dúvidas, porém, que o maior aparato de arregimentação das massas pró-Bolsonaro foram as igrejas evangélicas. 71% de seus eleitores é evangélico. Combinadas com as redes sociais, as igrejas montaram uma extraordinária cortina de fumaça, que oculta aos olhos dos oprimidos os fundamentos econômicos da direita e ultradireita burguesas. Os explorados não têm a menor compreensão das diretrizes antinacional e antipopular adotadas por Bolsonaro.

Essa movimentação se formou desde o primeiro turno. A decisão dos capitalistas de apoiarem Bolsonaro, diante do fracasso de Alckmin, potenciou de vez a campanha de arrebanhamento das massas. Assim, em um último esforço, o PT e Haddad refizeram pontos de sua plataforma eleitoral, procuraram reaproximar-se de setores capitalistas, recorreram à Igreja Católica e a uma parcela das igrejas evangélicas. Nisso se reduziu a linha de “defesa da democracia contra o fascismo”. Sistematicamente, oculta-se o caráter de classe da democracia e da política ditatorial-fascistizante, que se gesta no seio da burguesia e se ampara no reacionarismo da classe média rica. O pedido de socorro de Haddad a setores da burguesia expôs a fraude do seu democratismo e antifascismo.

Não poucos grupos econômicos que exercem grande influência no Estado passaram a exigir de Bolsonaro respeito à democracia, ao ordenamento constitucional, enfim, ao Estado de direito. Aconselham o mentecapto a pôr freio em seus adeptos militares e militaristas. Indicam que está sendo eleito para dar continuidade ao plano econômico, que serviu de base ao golpe contra o governo do PT e que foi, em parte, implantado pela ditadura civil de Temer. A nova composição do Congresso Nacional, em princípio, permitirá a governabilidade, caso Bolsonaro acomode distintos interesses e os enfeixe por trás do objetivo maior, que é o de garantir o pagamento da dívida pública, alargar a abertura do País à penetração do capital externo, avançar as privatizações, e realizar a tão almejada reforma da previdência. Outros aspectos do programa bolsonarista, tão acalentados pelas igrejas evangélicas e grupos econômicos específicos (como o da indústria e comércio de armas, bem como o dos fazendeiros) devem estar subordinados à coluna vertebral do programa de governo.

As massas foram divididas pela ação da política burguesa e pelos seus aparatos de poder. Entre março e abril do ano passado, ergueu-se um movimento de unidade contra as reformas da previdência e trabalhista, bem como contra a terceirização. A greve geral de 28 de abril projetou a classe operária. Essa via foi interrompida e dissolvida pela burocracia sindical, que passou a arregimentar os explorados em torno à bandeira de “Eleições Já” e formação de um governo “legítimo”. As esquerdas se perfilaram a essa estratégia do reformismo petista, e aliados da Frente Brasil Popular. Não foram capazes de derrotar o golpe e impor as condições para novas eleições. Desviaram a luta direta dos explorados, e os sujeitaram à mutilação eleitoral.

Diante da suposta ameça de “fascismo”, o PT se negou a mobilizar as organizações de massa que dirige para enfrentá-lo. Caberia colocar a UNE, MST, MTST, UNE e demais organizações sindicais e populares a convocar greves, bloquear ruas e estradas, ocupar prédios e universidades, formar comitês de luta e apoio a essas manifestações em todo o país. Nesse caso, se conformaria uma grande frente única de luta, da qual faríamos parte, e se poderia efetivamente combater as tendências fascistizantes e as medidas que qualquer governo burguês eleito tomasse contra as massas. Nessas circunstâncias, seria possível o voto na candidatura que expressasse essa frente. Mas o PT preferiu amordaçar os movimentos, que certamente amedrontariam a classe média com sua radicalização, e buscou incrementar o eleitoralismo mais banal, com terrorismo verbal e dando passos cada vez mais à direita. O chamado ao voto no PT nessas circunstâncias significa ajudar a abrir caminho para as tendências fascistizantes e as medidas de ataque à vida, trabalho e estudo das massas.

O PT está consciente da derrota, e já se prepara para cumprir seu papel de oposição burguesa. O fato de formar a maior bancada parlamentar o levará a traficar com as bancadas oligárquicas do MDB, PSDB e partidos do “centrão”. É fundamental rechaçar essa linha. A tarefa é a de preparar desde já o combate ao governo direitista, militarista, autoritário e fascistizante de Bolsonaro. O proletariado necessita de reunificar os explorados por trás da plataforma de reivindicações, que permita retomar o movimento da greve geral. Pôr em pé comitês de defesa da vida das massas e pelas liberdades democráticas.