• 28 out 2018

    E agora?

28 de outubro de 2018

Os explorados elegeram, mais uma vez, o seu próximo algoz. Bolsonaro se encarregará de impor novas medidas, que sacrificam a economia nacional e a maioria oprimida, bem como dar continuidade à implantação das reformas antinacional e antipopular da ditadura civil de Temer.

Sob a bandeira bolsonarista-evangélica “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”, os explorados, pobres e oprimidos comerão o “pão que o diabo amassou”. Em palavras terrenas, pode-se traduzir: “Governo burguês por cima do povo e capitalistas acima de todos”.

Bolsonaro discursou de acordo com o pedido da burguesia, do Supremo Tribunal Federal, da Procuradoria Geral da República e da imprensa monopolista. Jurou respeitar a Constituição e a democracia. E prometeu pacificar o País e promover a liberdade.

O fascista fez um juramento de democrata burguês. A democracia e a liberdade serão praticadas de acordo com o direito à propriedade privada e à liberdade de ir e vir, nas palavras do próprio Bolsonaro. Nada poderá perturbar, porém, o andamento da exploração do trabalho. Ninguém poderá se rebelar perante os ataques, que serão desfechados contra a classe operária e a maioria oprimida.

O direito burguês de ir e vir se opõe ao direito de greve. O direito à propriedade corresponde ao direito da burguesia de esmagar a revolta dos trabalhadores urbanos e a luta agrária dos camponeses. Tudo isso está de acordo com a democracia burguesa, que é a mais aperfeiçoada forma de regime político da ditadura de classe da minoria exploradora sobre a maioria explorada.

Os governos do PT – de Lula e Dilma – praticaram a democracia. Mas, assim o fizeram por meio da política de colaboração de classes. Haddad se ergueu como candidato da democracia, contra Bolsonaro fascista, com esse conteúdo. A melhor expressão governamental da democracia é aquela que se realiza pela via da política de conciliação de classes. O método fundamental de governar não é o da repressão sistemática, mas sim o da submissão dos explorados por meio das direções sindicais e políticas, que servem de correia de transmissão dos interesses da burguesia no interior das organizações operárias.

O PT, seus governos e sua burocracia sindical utilizaram muito bem essa política e esse método, até que a crise econômica jogasse o País no precipício, e exigisse que o governo tomasse duras medidas anti-operárias e antipopulares. O impeachment de Dilma Rousseff interrompeu o exercício governamental da política de colaboração de classes e a substituiu pela política ditatorial de Temer. A vitória de Bolsonaro, portanto, corresponde ao continuísmo, em detrimento do restabelecimento da política petista de conciliação de classes. A diferença está em que o novo governo foi eleito por 57,7 milhões de votos, contingente maior que os 54 milhões dados a Dilma Rousseff, e cassados pelo golpe de Estado.

Os explorados, influenciados principalmente pelas igrejas evangélicas, descrentes da política do PT e agastados com o PSDB, MDB e DEM – velhos partidos burgueses – foram enganados pela propaganda de que Bolsonaro fará um governo santificado e, portanto, voltado ao bem do povo e do Brasil. A maioria elegeu um representante entre as variantes da política burguesa mais reacionária, obscurantista e brutal. Logo sentirá na carne as medidas contrárias às suas mais elementares necessidades.

E agora, o que fazer? O PT e seus aliados vão se opor ao governo ditatorial com greves, manifestações e organização de uma frente única de massa? A experiência diz que continuará com sua política de conciliação de classes. Procurará canalizar o descontentamento operário e popular para a oposição parlamentar. Não há como combater o novo ditador sem que a classe operária rompa e passe por cima das travas do colaboracionismo.

A bandeira da esquerda capituladora foi a de derrotar Bolsonaro nas “urnas e nas ruas”. Agora, somente temos as ruas. Mas, atenção, apesar de terminadas as eleições, as urnas continuarão a entulhar as ruas.

Abre-se uma nova etapa da luta política, que a vanguarda equivocada, mas não corrompida, tem de reconhecer criticamente. É preciso, desde já, organizar um movimento de frente única, para responder, passo a passo, ataque por ataque, ao novo governo burguês fascistizante.