• 06 jan 2019

    Organizar a resistência à ditadura de Bolsonaro

6 de janeiro de 2019

Dentre todos os governos que se constituíram após a ditadura militar, extinta em 1985, o de Jair Bolsonaro promete ser o mais reacionário, obscurantista e antidemocrático. É o que indicam a constituição ministerial e a diretriz geral de seu programa.

A coluna central é formada de generais. Dois outros pilares dão a sustentação geral ao governo. De um lado, o ministério econômico, voltado a viabilizar a diretriz ultraliberal. De outro, dois ministérios ideológicos, o da Mulher, Família e Direitos Humanos, e o da Educação. Observa-se uma composição militarista, financista e religiosa. Os demais ministérios compõem a estrutura desse edifício. Destacam-se o Ministério da Justiça, da Agricultura e do Exterior. Cada instrumento da orquestra estará sob a regência dos militares.

Observa-se a maior influência do capital financeiro e do agronegócio, que determinam o programa de governo. Dois aparatos sobressaem na conformação da governabilidade: as igrejas evangélicas e as corporações policiais. Conformam, assim, a fisionomia de um governo místico-policial. Outras características do reacionarismo e do obscurantismo poderiam ser identificadas. O fundamental está nessa síntese.

Qualquer que seja o governo – eleito ou preposto, democrático ou ditatorial – responde aos interesses gerais da burguesia. Cabe saber que fração ou frações exercem a hegemonia. O governo de Bolsonaro se assenta no capital financeiro e no agroindustrial-latifundiário.

A ligação com o imperialismo é parte essencial da caracterização. Bolsonaro e sua camarilha governamental se definem, não apenas pelo pró-imperialismo em geral, mas pelo alinhamento a uma de suas frações. A sua referência são os Estados Unidos. Há que esclarecer que seu alinhamento ao imperialismo norte-americano se faz por meio da política de Trump. Os ideólogos bolsonaristas acreditam que Trump veio colocar a maior potência mundial nos trilhos, depois dos descaminhos de Obama. Almeja atar a política brasileira à direita norte-americana, xenófoba e fascistizante. Um dos elos ideológicos é constituído pelas igrejas pentecostais. Os Estados Unidos, não somente exportam capital financeiro e invadem os países de economia atrasada com suas multinacionais, como também com as igrejas evangélicas. Não por acaso, pela primeira vez, o Brasil abriga um governo francamente pró-sinonismo.

Bolsonaro compromete mais gravemente a soberania do País, colocando-o a serviço de uma política fascistizante, desde os Estados Unidos, definida por uma das frações do imperialismo. É bem possível que, depois da entrega da Embraer à Boeing, pela ditadura civil de Temer, se concederá Alcântara aos Estados Unidos, para que monte uma base militar.

Os brasileiros estão diante de um governo entreguista sem precedentes. Seguir a guerra comercial de Trump significa sufocar a economia nacional, e abrir o Brasil ao saque. Significa auxiliar o imperialismo a impulsionar as tendências bélicas, que emergem da crise mundial. É nítido o confronto crescente dos Estados Unidos com a China. Perfilar o Brasil à potência norte-americana resulta em apoio a uma possível conflagração bélica, embora não se apresente como imediata.

É muito perigoso para o Brasil colocá-lo como instrumento do imperialismo para derrubar o governo da Venezuela. O que está em jogo no país vizinho não é o capitalismo, mas sim a imensa reserva de petróleo. A subserviência de Bolsonaro a Trump implicará maior desnacionalização do petróleo e de sua indústria. Os Estados Unidos têm interesse estratégico no Brasil. A imposição de um governo ditatorial favorece a política de Trump, de sufocar a luta de classes em toda a América Latina. Esse tipo de governo, originado de eleições, é precioso para a política norte-americana no continente. E para manejar seus conflitos com o imperialismo europeu. A virada na política americana é consequência do prolongamento da crise aberta em 2008. E, portanto, da necessidade da maior potência de proteger seus interesses internos e externos. Espera-se uma nova onda de descenso e de quebras econômicas. Prender o Brasil às manobras e objetivos imperiais dos Estados Unidos é desarmar a economia nacional diante de um horizonte convulsivo que se avizinha.

O programa econômico de Bolsonaro não resulta das necessidades internas do País. Expressa as condições exigidas pelo capital internacional, imperialista. A promessa de que uma maior abertura econômica impulsionará o crescimento, gerará empregos, aumentará a produtividade e ampliará a integração do Brasil na economia mundial faz parte da impostura que acoberta o servilismo. Há uma ordem do capital financeiro para que o governo garanta o pagamento da dívida pública, transforme a Previdência em fundo de capitalização, privatize tudo e revogue as leis que limitam a expansão do agronegócio. A reforma trabalhista e a terceirização permitem livre exploração da força de trabalho.

Nenhuma outra força pode reagir e pôr abaixo esse governo, a não ser a classe operária. Os demais explorados devem organizar-se sob a política do proletariado. Trata-se de combater o governo antinacional e antipopular com o programa anti-imperialista e anticapitalista. A vanguarda consciente está diante da tarefa de quebrar a passividade das direções sindicais e dos movimentos; combater a política de colaboração de classes do PT e aliados; unificar as lutas; pôr em pé a frente única anti-imperialista, e unificar as lutas e popularizar a consigna de poder dos explorados, que é o governo operário e camponês.