• 13 mar 2019

    Um ano da morte de Marielle Franco e Anderson Gomes

Um ano da morte de Marielle Franco e Anderson Gomes
O assassinato de Marielle deve ser respondido pelos explorados como um crime de classe

14 de março de 2019

A polícia esperou um ano para apresentar os executores do crime político, que tirou a vida da vereadora Marielle Franco e de seu motorista Anderson Gomes. Paira no ar a sensação de que antes tarde do que nunca. A imprensa critica a demora, mas reproduz a avaliação das autoridades policiais de que é um “um caso complexo”. Há quem diga que a prisão dos policiais  Ronni Lessa e Elcio Vieira de Queiroz é, pelo menos, um alívio, ainda que tardiamente. Havia pouca esperança de que as investigações concluíssem com a prisão dos assassinatos da militante do PSOL.

As informações reunidas indicavam que o fuzilamento do dia 14 de março de 2018 envolvia as milícias.  Aí estava a dificuldade das apurações. As milícias se constituíram no interior da polícia militar.  Estão vinculadas por inúmeros laços ao poder político do estado do Rio de Janeiro. Não se tratava apenas de identificar os assassinos. Não foi difícil aos investigadores chegarem aos ex-policiais. Ocorre que não passavam de matadores alugados. Marielle atravessou o caminho de grandes interesses econômicos. Tudo indica ser correta a informação de que as milícias se viram incomodadas com a interferência da vereadora na disputa de terras entre moradores favelados e grileiros, na zona Oeste. Esse motivo é mais forte do que as denúncias que Marielle fazia, na condição de defensora dos direitos humanos, sobre assassinatos de favelados pela polícia. De qualquer forma, tratava-se de uma combinação explosiva.

A profunda e ampla corrupção do poder político e do poder repressivo do Estado é determinada por interesses econômicos, que emanam do capitalismo putrefato. O estado do Rio de Janeiro sintetiza a decomposição econômica e social do País. Não é preciso descrever os inúmeros programas voltados a combater o crime organizado, que envolve a junção do tráfico com a polícia, partidos da ordem, parlamentares, governadores e poderosos empresários. É bom lembrar que Marielle foi assassinada bem às vistas dos militares interventores e, portanto, do governo Temer. É preciso dizer, com todas as letras, que o fuzilamento de Marielle é de responsabilidade, em última instância, do Estado burguês.

Não se deve compartilhar da bandeira de que a Justiça começou a ser feita com a prisão dos executores do crime. Não há possibilidade de justiça, quando se trata de um assassinato político de quem  denunciava a matança de favelados e o império da grilagem de terras. Trata-se de um crime de classe, que, porém, é caracterizado formalmente como individual, restrito a interesses particulares deste ou daquele grupo de milicianos.  O assassinato de militantes que estejam do lado dos explorados sempre será um crime de classe.

O Partido Operário Revolucionário responsabiliza a burguesia e seu Estado pelo acontecimento do dia 14 de março. O que quer dizer que luta para que o movimento de defesa da completa identificação dos responsáveis se coloque no curso da revolução proletária. É um grave erro recorrer à democracia burguesa para obter a justiça criminal e a reparação política. O assassinato de Marielle se deu sob a democracia oligárquica em decomposição. Há muito tempo, as milícias existem e se fortalecem à sombra das instituições estatais. É preciso dizer: o assassinato de Marielle e de milhares de lutadores, que vem ocorrendo ao longo do tempo, encontrará a justiça na revolução proletária. Qualquer passo que se dê na identificação dos assassinos de Marielle, arrancados pela mobilização de massa, será uma conquista não da democracia burguesa, mas da luta de classes contra a burguesia e seu Estado apodrecidos.

A discussão sobre o segundo passo a ser dado, depois da prisão dos executores, que é a de revelar os mandantes, já se mostra contaminada pela pergunta se é possível que a própria polícia e as forças políticas da burguesia exponham, à vista dos explorados, a coluna vertebral das milícias. É necessário rejeitar os caminhos que alimentam a ilusão na via parlamentar, policial e judicial, para chegar à raiz do assassinato de Marielle. As denúncias e as revelações de um crime político como esse devem elevar a consciência de classe dos explorados, e não o contrário.

A manifestação de um ano da morte de Marielle e Anderson cumprirá esse objetivo, se estiver sob a bandeira proletária, na qual esteja escrito que a morte de Marielle é um crime de classe. Que a morte de Marielle é parte dos assassinatos de camponeses e indígenas, que lutam pela terra. Que as milícias do Rio de Janeiro agem como os jagunços contratados pelos latifundiários na defesa de seus interesses econômicos.

Os crimes da burguesia contra a classe operária e demais explorados não podem ser punidos pela própria burguesia. Sempre se ocultará a sua raiz de classe. Somente os próprios oprimidos podem apurar e combater os crimes de seus opressores. Está aí a importância de rechaçar as tentativas burguesas e pequeno-burguesas de ocultar a natureza de classe da violência.  O proletariado, estando à frente da luta da maioria oprimida, pode constituir um Tribunal Popular, voltado contra o Estado burguês. É muito importante propagandear o conteúdo e a forma de um tribunal popular capaz de expressar o combate dos explorados aos crimes da burguesia.

O POR se solidariza e participa da campanha do PSOL, que exige a investigação completa e a punição dos assassinos de Marielle. Mas, coloca-se pela denúncia de que Marielle foi vítima da luta de classes, em razão de se identificar com as necessidades e sofrimentos dos favelados do Rio de Janeiro. O POR se coloca sob a bandeira da revolução proletária para combater todas as injustiças, violências e crimes da minoria burguesia contra a imensa maioria explorada. Usemos o que há de melhor de um lutador que tomba, abraçado à causa dos pobres e oprimidos. O que há de melhor no exemplo de Marielle é a exposição do quanto o capitalismo está em decomposição, o quanto a burguesia está degenerada e o quanto é necessário pôr em pé o partido da revolução proletária.

Marielle foi vítima da barbárie capitalista!
Honremos sua vida, combatendo a burguesia com o programa da revolução proletária!