• 27 jul 2019

    Em que pé estamos

Massas 591 – Editorial – 27 de julho de 2019

A aprovação em primeiro turno da reforma da Previdência é irreversível. Somente um poderoso levante das massas de norte a sul poderá quebrar a decisão do Congresso Nacional. O palavreado esquerdista de que ainda há tempo para derrotar o governo, seguido de um tímido chamado à mobilização, oculta a traição das centrais, das direções reformistas dos movimentos populares, e dos partidos que se colocaram contra a reforma da Previdência sem extrapolar os marcos do Congresso Nacional.

As mobilizações marcadas para agosto, momento em que ocorrerá a votação em segundo turno, estão sendo convocadas para, finalmente, a direção reformista e burocrática lavar as mãos e concluir que a correlação de forças esteve a favor do governo, que os trabalhadores não quiseram lutar, etc. Já haviam colocado limites à luta, conduzindo a greve geral de 14 de junho a um protesto limitado.

A votação na Câmara de Deputados, no dia 10 de julho, ocorreu em um clima de passividade e de total tranquilidade política. Desarmado o movimento, depois das manifestações de junho e da greve geral parcial, os opositores, reformistas, petistas, pcdobistas, psolistas e toda sorte de burocratas sindicais ficaram assistindo à teatral votação, que conferiu uma imensa maioria ao governo antinacional e antipopular. Nesse momento, a UNE realizava seu 57º Congresso em Brasília. Aproveitou a “coincidência” da data para fazer uma manifestação discursiva no Palácio da Alvorada. Assim, se ocultou a traição das direções que sujeitaram a luta das massas à decisão dos deputados. O resultado do Congresso da UNE se manteve emparedado pelo domínio do reformismo.

O governo e seus agentes parlamentares na Câmara dos Deputados, conduzidos por Rodrigo Maia (DEM), que foi apoiado pelo PCdoB para a eleição de presidente da Casa, sentiram-se aliviados, diante do desmonte da luta. Somente não puderam agradecer às centrais e os seus politiqueiros oposicionistas no parlamento, pela inestimável colaboração. Afinal, os oposicionistas não fizeram senão cumprir o dever de proteger a democracia contra a revolta dos explorados. Bolsonaro e o Congresso nacional saíram fortalecidos diante da maioria oprimida. Essa é a conclusão dos porta-vozes da burguesia.

As contrarreformas que atingem a classe operária e aos demais explorados têm tudo para dar lugar a violentos choques de classe contra classe. A greve geral por tempo determinado abre caminho à por tempo indeterminado. As manifestações de rua são marcadas pela presença do proletariado. Essa via foi desfigurada e dissolvida pela direção traidora. A burocracia reformista conseguiu manter o controle rígido que exerce sobre os sindicados e os movimentos (camponês, popular e estudantil). Tudo indica que, em agosto, as manifestações não passarão por cima da política dos reformistas.

Um novo momento se abre. Os explorados não foram esmagados em suas tendências de luta. Verão mais claramente o governo Bolsonaro como algoz do povo. O desemprego, subemprego, redução salarial, pobreza e miséria serão associados às contrarreformas de Temer e Bolsonaro. Os reformistas se apoiaram nessa situação para continuar enganando os explorados. A vanguarda revolucionária terá de aumentar seus esforços em defesa das reivindicações, das bandeiras anti-imperialistas e da estratégia da revolução proletária. Terão de lutar com mais tenacidade em torno à política de independência de classe. E trabalhar mais duramente pela construção do partido operário revolucionário.