• 12 ago 2019

    Antonio Justino- Falecimento de um inflexível lutador

Há algum tempo, pressentíamos que Antonio Justino já não tinha forças para conviver com o câncer, que, durante anos, o debilitava fisicamente. Mais conhecido pelo apelido de Tonhão, enfrentou com bravura a doença tanto quanto a repressão burguesa e o ódio dos burocratas sindicais. Conservou a lucidez política durante todo o tempo em que esteve fustigado pelo câncer. Temos a certeza de que Tonhão arrancou tamanha força vital de sua perseverante luta contra a opressão capitalista e do caráter classista de quem não se curva.

Não há nenhum exagero ou sentimentalismo nessa observação. Não sentimos nem tristeza nem dor, mas sentimos a perda de um homem que compreendeu o sentido mais profundo da exploração capitalista do trabalho e que nunca se apartou da luta de classes, embora, em nosso juízo, não chegou a ser um marxista.

O POR e, em particular, alguns de seus membros tiveram uma militância lado a lado com Antonio Justino. Mais precisamente, Tonhão testemunhou o surgimento de nosso partido. Tivemos embates conjuntos em importantes lutas e acontecimentos políticos na cidade proletária de Diadema. Rompemos com o PT quase no mesmo momento, quando o reformismo se consolidou nas fileiras do petismo. Recordemos que Tonhão foi eleito vice-prefeito pelo PT nas eleições de 1989, na chapa de José Augusto. Imediatamente, contestou a política voltada aos interesses do empresariado. Não teve dúvida em romper com esse carreirista e denunciar a conivência da direção do PT.

Diadema abriga uma ampla camada de pobres e miseráveis. Está aí por que se gestaram e se gestam movimentos de sem-teto. Tonhão sempre primou pela organização e método de ocupação de terras. Como não poderia deixar de ser, enfrentou a repressão dos proprietários. O prefeito do PT se desesperava diante de cada ocupação e auxiliava na ação policial de despejo. Uma virtude de ativista permanente se espelha na presença constante de Tonhão nos movimentos, protestos, campanhas de luta e greves.

Tonhão assumiu a profissão de professor de Língua Portuguesa. Destacou-se como organizador das greves do magistério. Ocupou um posto de enfrentamento sistemático à burocracia sindical da Apeoesp, vinculada ao PT. Infernizava a vida dos burocratas nas assembleias. Mesmo doente, Antonio Justino comparecia e se pronunciava diante das questões e das propostas de luta.

Há um marco na vida militante e pessoal desse lutador, que evidenciou sua firmeza e honradez. Na greve de junho de 2000, Tonhão foi um dos organizadores da ocupação do pátio da Secretaria da Educação de São Paulo, contrariando a orientação da direção da Apeoesp e afrontando o governo do “democrata” do PSDB, governador Mário Covas. Para mostrar autoridade e coragem, Covas decidiu furar o bloqueio da ocupação juntamente com uma comitiva. Foi escorraçado. Quatro professores foram presos. Tonhão foi suspenso por trinta dias, respondeu ao processo e, finalmente, a justiça o exonerou do cargo. Talvez tenha sido o momento mais difícil de sua vida material. Nada disso, porém, o demoveu de suas convicções e da militância nos movimentos.

Afirmamos que apesar de seu profundo espírito classista, portanto, revolucionário, não chegou a ser um marxista. Em seu pensamento, Marx e Engels, principalmente, ocupam um lugar em sua formação. Fazemos essa afirmação a partir de nossa convivência, uma vez que Antonio Justino não se esmerava em elaborar uma linha política e transformar a experiência em teoria revolucionária. Inclinava-se excessivamente para o espontaneismo, embora, quando expunha seus pontos de vista, o fazia com conhecimento. O essencial de seu anti-marxismo, se assim podemos caracterizar, esteve na negação da construção do partido.

O POR chegou a constituir um comitê, do qual Tonhão participava, para  integração de seu grupo à construção partidária. Esforçamo-nos por convencê-lo da importância do programa, como aplicação do marxismo-leninismo-trotskismo em nossa realidade. Estava convencido do internacionalismo, mas não via futuro na luta pela reconstrução da IV Internacional. Nosso afastamento se tornou inevitável, mas sem romper a camaradagem.

Tonhão tinha apreço pelos materiais do POR. Nunca se negou a adquirir nossas publicações, principalmente o jornal Massas. Chegou a participar no lançamento de um de nossos livros. Mandou-nos saudações pelos 30 Anos do POR e se desculpou por não poder comparecer. De nossa parte, nunca deixamos de convidar Antonio Justino aos nossos atos políticos, sabendo que sua presença representava o profundo classismo e uma vida dedicada à luta dos explorados.