• 26 ago 2019

    Não arriar a bandeira, não desviar o caminho da luta. Constituir a frente única anti-imperialista

Massas 593 – Editorial – 25 de agosto de 2019

A frente burocrática das centrais sindicais se reuniu no dia 21, para concluir que não está colocada a convocação de uma nova greve geral. Reconheceu a gravidade da situação. No entanto, concluiu que o máximo que se pode fazer é utilizar o “grito dos excluídos”, para uma manifestação conjunta. Agora, as pressões se voltariam ao Senado, que dará a palavra final sobre a reforma da Previdência. Em uma próxima reunião, será aprovado um calendário de mobilização. Ficou assentado que, em setembro, as centrais farão pressão sobre a CCJ do Senado, que encaminhará formalmente o projeto da Previdência aprovado na Câmara dos Deputados. Além disso, os presentes referiram-se à MP 881, da Liberdade Econômica, desconto sindical, demissão de servidores públicos, regulamentação do direito de greve dos servidores, MP FGTS, salário mínimo, reforma Tributária, etc.

Tudo leva a crer que a reunião foi positiva, uma vez que considerou que a luta contra a reforma da Previdência continua, e que as centrais se mantêm unidas. Esse foi o tom do comunicado da CUT e da CSP-Conlutas. A reunião foi uma boa oportunidade para avaliar o motivo do desmonte do movimento, depois da greve geral de 14 de junho. As centrais tinham a obrigação de explicar por que a Câmara de Deputados votou a reforma da Previdência sem que houvesse luta em todo o país. Teriam também de apresentar as posições diante da avaliação da CUT, de que não é possível a convocação de uma nova greve geral, porque os sindicatos ainda estão sob os efeitos de multas e demissões. É sintomático que a CSP-Conlutas, em seu comunicado, se omite diante dessa explicação da burocracia cutista.

No final das contas, o que resultou da reunião foi que não se convocará uma nova greve geral, e se farão manifestações inócuas diante da vitória de Bolsonaro, assegurada na aprovação da reforma da Previdência em 6 de agosto. Ocorre que todas as centrais presentes são responsáveis pela política derrotista, de condicionar o movimento às discussões e decisões da Câmara de Deputados. A frente burocrática traiu os explorados, ao limitar a greve geral de junho, levando o movimento à derrota. Está aí por que a CUT justificou sua indisposição de convocar uma nova greve geral, dando a ideia de que a realizada no dia 14 de junho foi desastrosa.

Bolsonaro e o Congresso Nacional aproveitaram o recuo das centrais para avançar em suas medidas antinacionais e antipopulares. Está a caminho a MP da “liberdade econômica”, o plano de privatizações e a entrega da Base de Alcântara aos Estados Unidos. A política de colaboração de classes, que imperou na frente burocrática, expôs a impotência das direções diante dos ataques da burguesia, do governo e do Congresso Nacional à maioria oprimida. Essa direção quer fazer crer que a responsabilidade e a impotência são dos próprios trabalhadores. Se a luta contra a aprovação final do projeto da reforma da Previdência no Senado depender da orientação política da reunião das centrais, é previsível que nada será feito para levantar os explorados contra os exploradores. O que se estende à luta contra a MP 881, as privatizações e a violação do direito de greve.

Sem a avaliação crítica do derrotismo, não se pode entender o porquê da dificuldade de convocar uma nova greve geral. E não se pode rechaçar o argumento da direção da CUT, que responsabiliza a própria greve geral pela inviabilidade de uma nova convocação. Sem uma poderosa organização nacional da classe operária e demais explorados, não é possível defender, de fato, as reivindicações e derrotar o governo. A frente burocrática já se mostrou avessa a cumprir essa tarefa.

Há que se travar a luta nas bases dos sindicatos e no seio dos explorados em geral, contra a política de conciliação de classes e pela defesa do programa de reivindicações e métodos próprios de luta da classe operária. A reforma da Previdência é um primeiro passo de Bolsonaro no golpe desferido contra as condições de existência dos trabalhadores. A burocracia sindical acenou com desvios, ao se colocar por trás das disputas interburguesas em torno à reforma tributária, por exemplo. Um setor da burguesia e pequena burguesia contesta as mudanças de Bolsonaro, em várias áreas da administração pública. As inúmeras reações, provenientes do conflito interburguês, são muito atrativas aos reformistas e às direções sindicais burocráticas (Amazônia, Lava Jato, Abuso de Autoridade, poder de investigação dos auditores, etc.). O governo necessita se firmar como bonapartista. E assim tem provocado crises políticas sucessivas. O PT e aliados estão empenhados em se recuperar eleitoralmente. Tudo farão para manter as organizações sindicais subordinadas a esse objetivo. O reflexo negativo dessa política já se expressou no derrotismo.

A luta da vanguarda pela frente única classista em defesa das reivindicações mais elementares dos explorados e contra as reformas antipopulares continua vigente. Para superar a política da frente burocrática, é preciso lutar por uma direção revolucionária e pela organização independente da classe operária diante da política burguesa. É obrigatório responder ao plano de privatização, à entrega da Base de Alcântara ao imperialismo e à desnacionalização. O que pressupõe constituir a frente única anti-imperialista.