• 07 set 2019

    O recuo das centrais sindicais garante o avanço de Bolsonaro. É preciso retomar a luta nas ruas

O recuo das centrais sindicais garante o avanço de Bolsonaro

É preciso retomar a luta nas ruas

Editorial Massas 594, 8 de setembro de 2019

Está para ser concluída a votação da reforma da Previdência no Senado. A CUT, Força Sindical e outras centrais correram a pedir algumas alterações. Precisam dizer aos trabalhadores, no final das contas, que o projeto do governo foi mudado para melhor. O PSDB e MDB, que garantiram a sua aprovação, vão sair como os reformadores, que se “sensibilizaram” com os idosos, os trabalhadores de baixa renda, as viúvas, enfim, os mais pobres. Os deputados e senadores do PT, PCdoB e PSOL, por sua vez, dirão que fizeram de tudo para “desidratar” o violento projeto governista.

Os burocratas das centrais continuarão repetindo que tudo fizeram para defender o direito à aposentadoria da população trabalhadora. Continuarão a esconder da classe operária e dos demais explorados que nunca pretenderam organizar um movimento nacional para derrubar e enterrar a monstruosa reforma da Previdência. Continuarão a esconder que a oposição (PT, PCdoB, PSOL, PSB e PDT) agiu politicamente sob o pressuposto de que uma reforma era necessária, ou inevitável. Continuarão a esconder que se ajustaram à crise do capitalismo e seguiram as pressões da burguesia. E continuarão a esconder que pensam, mancomunam e agem, subordinados à decisão do Congresso Nacional.

No entanto, os fatos são visíveis. A reforma foi aprovada na Câmara dos Deputados, sem que houvesse qualquer luta. Na mais absoluta tranquilidade, os parlamentares votaram por esmagadora maioria as profundas mudanças antioperárias e antipopulares. A oposição procurou se salvar com o voto contrário, como se tivesse batalhado até o fim pelos interesses dos oprimidos. Essa máscara hipócrita se sustentou na frente burocrática, montada pelas centrais, que prepararam um arremedo de greve geral e, em seguida, desmontaram a tenda, aguardando o resultado dos operosos deputados da oposição.

Depois dessa flagrante traição, as direções traidoras continuaram a dizer que a luta ainda não havia terminado, que era possível pressionar o Senado, e que novas mobilizações seriam feitas. O que se passou? Os burocratas foram em comitiva ao Senado com uma papeleta, propondo mais algumas mudanças, que, se aceitas, não alterariam a essência da reforma pró-burguesa e antioperária. Deixaram claro que não mais recorreriam à greve geral, e que fariam algumas manifestações, como a do Grito dos Excluídos. O PT e aliados na traição esperam tirar proveito eleitoral, utilizando-se da bandeira da luta “contra a reforma da Previdência”.

Bolsonaro somente não agradece a oposição porque é um direitista estúpido, mas sabe perfeitamente que os explorados poderiam ter se levantado poderosamente contra seu governo. Rodrigo Maia, do DEM, partido que não esconde ser um dos pilares de sustentação da governabilidade, conseguiu a proeza de unir governistas, semigovernistas e oposicionistas, em torno da bandeira de que o projeto aprovado não mais era o de Bolsonaro, mas do Congresso Nacional, que, segundo esse bandido da burguesia, é a melhor instituição que representa os interesses da nação e do povo brasileiro.

A traição da frente burocrática deu uma vitória fácil a Bolsonaro, e uma derrota profunda à classe operária e aos demais explorados. Está aí a experiência política que comprova a incapacidade, a impotência e a covardia do reformismo e do burocratismo sindical, diante da ofensiva dos exploradores contra os explorados. Bolsonaro, com toda a crise econômica e política, mesmo assim, vem conseguindo impor amplas mudanças no País. Impulsiona as privatizações, amplia a desnacionalização, entrega a Base de Alcântara aos Estados Unidos, franqueia a Amazônia aos saqueadores, desmonta as demarcações de terras indígenas, favorece os grileiros, arma os latifundiários, ataca a educação pública, impõe novas mudanças na lei trabalhista, fortalece o poder dos militares, prepara a divisão nos sindicatos, serve de canal da política de Trump, no Brasil e na América Latina. Essa virada vem se dando à custa de Bolsonaro perder apoio da parcela dos oprimidos que o apoiou, seguindo suas mentiras e as pregações dos evangélicos. Ao mesmo tempo, a persistência da crise econômica, e o agravamento do endividamento público solapam a governabilidade. Há o perigo de Bolsonaro potenciar o autoritarismo, apoiado pelos militares.

Ainda há tempo para os explorados fecharem passagem à ditadura bonapartista. É preciso que se independizem da burocracia traidora e do reformismo impotente. A vanguarda tem de ser inflexível no combate às direções que acabam sustentando a ultradireita no poder. O seu guia deve ser o programa e a estratégia da revolução proletária, da luta por um governo operário e camponês.