• 01 out 2019

    Construir direções classistas

Editorial Massas nº 596, 29 de setembro de 2019

Na primeira quinzena de outubro, a CSP-Conlutas e a CUT realizarão seus congressos. Está claro que não despertam o menor interesse à classe operária. O motivo está em que não expressam as necessidades e as suas tendências de luta. Ocorrerão depois de duas traições e duas derrotas profundas dos explorados: a de 2017 e 2019, com a imposição da reforma trabalhista, lei da terceirização e reforma da Previdência. Tanto a Conlutas quanto a CUT não se dispuseram a realizar o congresso no momento em que mais se precisava. Como diz o ditado: “águas passadas não movem moinhos”.

É obrigatório saber por que esses congressos estão tão distantes das reais necessidades da luta de classes. Em nosso entendimento, porque faz um bom tempo que vem prevalecendo a política de colaboração de classes. O que levou os sindicatos a se burocratizarem em níveis elevados.

A enorme influência do PT e do lulismo sobre as massas ergueu um muro de contenção à organização independente dos explorados. A CUT foi criada na situação de bancarrota da ditadura militar, enfraquecimento do intervencionismo estatal nos sindicatos e quebra do refluxo do movimento operário. Assim, seu congresso de fundação esteve vinculado à retomada da luta de classes. Materializou os instintos de luta das massas, que necessitavam de uma organização centralizada, e abriu caminho para a realização de uma tarefa histórica que a classe operária vinha perseguindo, desde o início do século XX.

É bom lembrar que os velhos burocratas que serviram à intervenção militar no sindicalismo procuraram evitar a criação da CUT. Seus aliados, PCB e PCdoB, combateram o seu nascimento, em nome da luta democrático-burguesa unitária contra o regime militar cambaleante. A CUT veio à luz passando por cima de potentes obstáculos. Não por obra daqueles intitulados de “sindicalistas autênticos”, mas por obra do ascenso da classe operária, que passou por cima do aparato sindical amarrado à ditadura. Lula e um conjunto de novas lideranças simplesmente foram os canais por onde o proletariado manifestou seu instinto de combate. Precisamente porque, contraditoriamente, não encarnavam o programa da revolução social, cumpririam o papel de coveiro da tarefa de organizar os explorados no campo da independência de classe.

Por um período, a direção da CUT manobrou com a bandeira de “autonomia sindical diante dos partidos”, mas, assim que o PT e Lula se projetaram eleitoralmente, a manobra perdeu validade. A central se tornou um aparato do petismo, ou seja, da política nacional-reformista. Abriu-se o curso do divisionismo, que parecia ter sido vencido, com a adesão do estalinismo (das variantes estalinistas) à CUT. Sob o governo de Lula, se criaram novas centrais, impulsionadas pelo ambicioso imposto sindical. Internamente, a CUT sofreria duas importantes cisões: a da Conlutas, encabeçada pelo PSTU; e a da CTB, pelo PCdoB. Assinalamos também a ruptura da Intersindical (hoje fragmentada em duas tendências). A criação do PSOL, por sua vez, atraiu a Intersindical, favorecendo a sabotagem à Conlutas. No final das contas, os explorados, hoje, estão divididos por mais de uma dúzia de centrais.

O fenômeno da burocratização e do divisionismo sindical expressa a profunda crise de direção revolucionária. Pesa em grande medida na sustentação do capitalismo putrefato. Na situação em que a burguesia e seu governo atacam de conjunto a classe operária e a maioria oprimida, evidencia-se mais claramente a função contrarrevolucionária da burocracia sindical. A frente burocrática das centrais enterrou dois ascensos do proletariado: o da greve geral de abril de 2017, e o da de maio-junho de 2019. Prestaram um grande serviço ao grande capital e aos governos de Temer e Bolsonaro.

A Conlutas, que cindiu a CUT pela esquerda, em nome do combate ao colaboracionismo, foi incapaz de desenvolver uma política própria, de se diferenciar das manobras da cúpula das centrais, e se adaptou à frente burocrática. Infelizmente, o congresso da Conlutas não terá como expressar uma ruptura classista e revolucionária da camisa de força do aparato burocrático e da política de colaboração de classes. A CUT se mostrará ainda mais ossificada na sua torre de marfim da vasta casta de sindicalistas servis aos interesses históricos da burguesia.

A vanguarda, apesar de ultraminoritária, tem a tarefa de lutar pela construção de uma nova direção classista. O máximo que poderá fazer é defender o programa e a estratégia da revolução proletária. Será no seio dos explorados, e estreitamente vinculada aos seus instintos de revolta contra a exploração capitalista e à propriedade privada dos meios de produção, que se fortalecerá a nova direção revolucionária.