• 01 out 2019

    Viva os 70 anos da Revolução Chinesa!

1 de outubro de 2019

Em 1º de outubro, a Revolução Chinesa completará 70 anos. Há uma enorme distância entre a China revolucionária dos anos de 1930 e 1940, e a China restauracionista da atualidade. O proletariado mundial e sua vanguarda marxista-leninista-trotskista estão obrigados a assimilar a extraordinária experiência da conquista do poder pela classe operária e o campesinato.

Não é preciso insistir que toda revolução tem suas particularidades. Sem desprezá-las, este manifesto se limita a reivindicar as leis gerais da revolução proletária. A Revolução Chinesa foi proletária, embora tenha como particularidade a imensa presença das massas camponesas. É a esse conteúdo histórico que se refere a bandeira “Viva a Revolução Chinesa!”.

O processo de expropriação da burguesia expressa o programa da única classe socialista do capitalismo, que é o proletariado. A Revolução Chinesa, apesar de todas as contradições, abriu caminho para a transformação da propriedade privada dos meios de produção em propriedade social, e iniciou uma transição ao socialismo. Nisso, em geral, se interrelaciona e o compartilha com a Revolução Russa de Outubro de 1917. As diferenças quanto às particularidades objetivas das duas revoluções, e quanto às conquistas programáticas e teóricas, são sensíveis. O caráter e o conteúdo da revolução proletária, que criou a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, não apenas romperam um elo da dominação capitalista, como iluminaram o caminho da Revolução Chinesa. Hoje, a URSS não mais existe, e a China se encontra profundamente condicionada pela restauração capitalista.

A restauração em ambos os países também tem suas particularidades. Mas, igualmente, se encontram ligados à degeneração burocrática do Partido Comunista Russo e do Partido Comunista Chinês. O comunismo nacional, regido pela tese estalinista da possibilidade de construção do socialismo em um só país, e da coexistência pacífica com o imperialismo, esteve na base da degenerescência do processo de transição ao socialismo, dos retrocessos nas conquistas revolucionárias, e do avanço das forças restauracionistas. Sobre o estalinismo e o maoísmo, pesam a responsabilidade histórica de se erguerem como antípodas ao internacionalismo proletário.

Não é correto, certamente, emblocar o estalinismo com o maoísmo, como se fossem um só ente. O estalinismo se gestou como um termidor da revolução proletária. Ergueu-se como uma tendência revisionista do marxismo-leninismo. O maoísmo não chegou a constituir um partido plenamente marxista-leninista, embora tenha se proclamado como tal. O fato de Mao Tsé-tung não ter assimilado em profundidade as formulações de Marx, Lênin e Trotsky, concretamente expressas na Revolução Russa, impossibilitou uma ruptura total com o nacionalismo. Assim, seja por motivos originados da necessidade do apoio da URSS à China, seja por convencimento de que Stalin era sucessor de Lênin, Mao acabou admitindo o estalinismo como uma influência benéfica para a revolução na China. O comunismo nacional e os interesses particulares das burocracias soviética e chinesa obstacularizaram constituir os laços internacionalistas das duas revoluções.

Não tendo uma base comum da transição para o socialismo, concluíram como adversários.  O choque entre a URSS e a China, na década de 1960, quase resultou em uma guerra fronteriça. Era inevitável que a emersão das forças restauracionistas não se limitaria a um dos países. Tanto na ex-União Soviética, quanto na China, estiveram colocadas a revolução política, como condição para restabelecer as bases das revoluções proletárias de Outubro de 1917, e  Outubro de 1949. A sua inviabilidade franqueou passagem às tendências regressivas, tanto na URSS, quanto na China. É nessas condições que a classe operária e a vanguarda mundial devem fazer, das conquistas da Revolução Chinesa, um arsenal de luta pela derrocada do capitalismo, tanto quanto as da Revolução Russa.

Um dos fundamentos mais importantes, que se extrai da Revolução Chinesa, é o de que somente sob a revolução proletária é possível realizar as tarefas da revolução democrática em um país atrasado e submetido ao imperialismo. É o que se passou concretamente, embora o Partido Comunista Chinês, e seu principal dirigente, Mao Tsé-tung, não encarnassem programaticamente essa lei histórica. A experiência da Revolução Russa, no entanto, já a havia exposto e confirmado plenamente. Era previsível, portanto, que essa mesma lei estaria presente na Revolução Chinesa.

A queda da dinastia Qing, em 1911, resultou na constituição da República. Esteve à sua frente o criador do Kuomitang, Sun Yat-sen, que tem suas raízes no movimento de 1919. O nacionalismo do Kuomitang emergiu, assim, no processo de uma revolução burguesa. A república e os nacionalistas, porém, não foram capazes de realizar a revolução democrática, que continuou pendente. Em outras palavras, a China continuou submetida aos colonialistas, os camponeses permaneceram presos aos laços da servidão, e manteve-se a fragmentação do país.

O Kuomitang, já na origem, mostrou sua debilidade diante do imperialismo.   Expressou, portanto, a incapacidade da burguesia nacional de liderar um movimento pela total independência nacional. Sem a luta consequente por essa tarefa, não era possível ir adiante com a revolução agrária e a centralização unitária do país.

O Partido Comunista foi fundado em 1921. É flagrante a influência da Revolução Russa e do bolchevismo. Dava-se um passo decisivo na revolução chinesa, que apenas começava, e que seguiria um caminho épico de luta de classes, em que se destacaram as revoltas camponesas. Ocorre que, nos levantes de 1925-27, o estalinismo já influenciava os comunistas chineses a seguirem a concepção etapista da revolução democrática, separando-a como etapa independente da revolução proletária. Trotsky, em sua crítica à orientação do Comintern, dirigido por Bukarin, analisará amplamente os perigos da subordinação do partido comunista chinês ao Kuomitang.

O nacionalismo burguês já se encontrava esgotado, e agia no sentido contrário ao avanço da revolução democrática. A brutal repressão aos comunistas, que se encontravam no interior do Kuomintang, conhecida como “massacre de Xangai”, de 12 de abril de 1927, marcou a sangue o erro de caracterização do estalinismo sobre o nacionalismo, que compremetia a estratégia e a tática. Erros esses que se originaram da concepção etapista da revolução.

A obstinação do general Chiang Kai-shek, de liquidar o partido comunista chinês, seguindo as exigências dos senhores de terra, comerciantes e burguesia industrial nascente, levou a sua direção a deslocar suas forças para o campo. Essa separação abriu um longo período de guerra civil, que se encerrou com a derrocada do Kuomintang, em setembro-outubro de 1949. As revoltas camponesas abrigaram as forças de Mao Tsé-Tung, que recorreram à guerrilha diante dos feudais (latifundiários, senhores de guerra), e do exército de Chiang Kai-shek. O partido comunista se separava prematuramente da classe operária, que se desenvolvia nos grandes centros, como Xangai. Teve de aprender a combater com o método da guerrilha, de base agrária.

Em 1934, Chiang Kai-shek conquistou posição, e obrigou os comunistas a se deslocarem, na conhecida Grande Marcha. A dura experiência mostrou que não era possível vencer o exército do Kuomintang com as formas e os métodos da guerra regular. Reforçou a linha de Mao sobre o combate por meio da guerrilha. O Exército Vermelho, que, em 1937, se tornou Exército Revolucionário Nacional, passaria a utilizar, tanto a guerrilha, quanto a guerra convencional. Nesse embate, se encontram as particulares lições da Revolução Chinesa.

A ofensiva do Japão sobre a China não desviou o objetivo de Chiang Kai-shek, de esmagar as forças comandadas pelo partido comunista. O que frustou a tentativa de sua direção, de estabelecer um acordo com os nacionalistas, que a essa altura tinham por trás de si o imperialismo norte-americano. Não faltou a iniciativa de Mao Tsé-tung para convencer o Kuomintang a formar um governo de coalizão. Inclusive, a direção do partido recorreu aos Estados Unidos, procurando uma aliança contra o Japão. Também fracassou. O máximo que se obteve foi um arrefecimento da guerra civil, entre 1937 e 1945. Não houve outra via, senão combater em duas frentes: o imperialismo japonês e o nacionalismo chinês, já completamente desfigurado.

O Exército Revolucionário Nacional se fortaleceu no combate anti-imperialista. Passou a contar com amplo apoio das massas. Em 1943, Stálin ordena a extinção da III Internacional. Desarma a luta mundial do proletariado. Na China, Chiang Kai-shek se prepara para uma nova ofensiva contrarrevolucionária. Com o fim da Segunda Guerra Mundial, a ameça japonesa estava superada. Chegava, portanto, a hora de recrudescer a guerra civil. Mesmo assim, o partido comunista insistiu em uma solução pacífica de poder, insistindo na formação do governo de coalizão. O que seria um governo de conciliação de classes, tendo por trás as potências, principalmente os Estados Unidos. O fracasso dessa via levou ao desfecho final entre a revolução e a contrarrevolução.

A negativa de Chiang Kai-shek, em estabelecer um governo democrático-burguês com a participação dos comunistas, tipicamente de frente popular, e as condições sociais e militares a favor do Exército Revolucionário Nacional, permitiram a ofensiva final da revolução. Em fevereiro as frentes de combate dos comunistas ganharam terreno, e em setembro a vitória estava assegurada. Em 1º de outubro 1949, foi constituída a República Popular da China.

Viva os 70 anos da Revolução Chinesa!

Abaixo a restauração capitalista!

O futuro da humanidade está na sociedade sem classes!