• 21 out 2019

    Revolta no Chile

Somente a classe operária no poder acabará de vez com a ditadura pinochetista

 21 de outubro de 2019

O aumento da passagem de metrô foi apenas a gota d’água para se desencadear a revolta em Santiago. Desde a ditadura de Pinochet, a classe operária e a maioria da classe média suportam o peso da política pró-imperialista, ditada pelos Estados Unidos e aliados europeus. As medidas que desnacionalizaram a economia, deram plena soberania ao capital financeiro, subordinaram o país aos ditames do mercado mundial e privilegiaram uma pequeníssima camada burguesa, ou aburguesada, converteram o Chile em um campo de concentração para a maioria do povo.

Nenhum governo pós Pinochet foi capaz de destruir os pilares e as argamassas, edificados pela ditadura, que sustentam a economia e a estrutura política do Chile. A revolta popular, o “estado de emergência”, o toque de recolher, a intervenção de tropas das Forças Armadas, a violência policial e as mortes de manifestantes põem às claras as raízes do golpe fascista de 11 de setembro de 1973, que foram acobertadas pela “democratização”, pelo acordo de proteção aos generais sanguinários, e à horda de torturadores e assassinos que impregnaram a polícia política pinochetista (DINA). Põem às claras o colaboracionismo da oposição, que assumiu a tarefa de restabelecer a democracia burguesa, no final de 1980 e início de 1990. Desde o primeiro governo da Concertação, de Patricio Aylwin, se estabeleceu que a obra de Pinochet não seria revertida.

 A propaganda imperialista de que o Chile é um modelo de aplicação de economia de mercado, que lhe permitiu alcançar uma boa marca de renda per capita e reduzir a pobreza e a miséria, calou fundo em todos os governos pós-Pinochet, e estendeu aos governos latino-americanos, que seguem a cartilha do liberalismo.

A revolta nas ruas e bairros de Santiago revela a verdadeira face social do Chile, marcada pela profunda polarização entre uma ultraminoria rica e a maioria pobre e miserável. O que fez o liberalismo, que é pró-imperialista, foi manter o país desindustrializado e dependente da extração mineral, principalmente do cobre, e da agricultura. Foi colocar o Estado sob a tutela do capital financeiro, que parasita sua dívida pública e dita as prioridades do Tesouro Nacional.

Um simples reajuste inflacionário das passagens de metrô não iria, por si só, explodir um movimento de rua, marcado pelo enfrentamento com o aparato de repressão, barricadas, queima de ônibus, depredação do metrô, invasões de casas comerciais e saques. Não causaria prisões em massa, feridos e mortos. As massas nas ruas nos remetem às manifestações estudantis de abril e junho de 2006, de maio de 2011, e abril de 2012, amplamente apoiadas pela população. A juventude chilena se levantou pela escola pública, confrontando-se com a mercantilização do ensino. Soma-se à educação, a saúde privatizada, o alto custo de vida, e o amplo endividamento da classe média.

A diretriz liberal, antinacional, livrou o Estado dos encargos com a educação e saúde públicas, canalizando os recursos para atender aos interesses do grande capital. Para isso, a burguesia chilena recorreu ao golpe sanguinário de 1973. Agora, Sebastián Piñera, homem do pinochetismo, procura conter a fúria das massas com os mesmos métodos ditatoriais, recorrendo ao “estado de emergência”, à polícia e ao exército.

Não foi desprezível a repressão sofrida pelos estudantes, em 2006, quando o Chile era presidido pelo “socialista” Ricardo Lago (PS). Piñera enfrentou o movimento de 2011 e 2012, quando pertencia ao direitista Partido Nacional. Novamente eleito, pela coalizão “Vamos Chile”, se responsabiliza, até o momento, por 7 mortos e centenas de presos. É preciso ainda responsabilizar a ex-presidente Michele Bachellet, do Partido Socialista (PS), que hoje ocupa o alto cargo de Comissária de Direitos Humanos da ONU. Em seus dois mandatos – 2006-2010 e 2014-2018 –, governou de acordo com os ditames do capital financeiro. Mostrou-se incapaz de quebrar a estrutura de poder pinochetista do Estado. Está claro que se estabeleceu uma alternância no poder, entre a coligação dos “socialistas” e da direita pinochetista. Como a democratização não serviu para fazer um ajuste de contas com a ditadura sanguinária, as forças burguesas, que estiveram na base do golpe, se acomodaram sob a máscara da democracia burguesa. Tem sido assim, porque qualquer que seja o governo burguês precisa descarregar a desintegração do capitalismo, o atraso econômico do país semicolonial, e a sua subordinação ao imperialismo sobre a maioria oprimida.

O fracasso do governo de conciliação de classes da Unidade Popular, liderado por Salvador Allende, e a vitória do golpe fascista de Pinochet resultaram em uma profunda derrota do proletariado e do campesinato pobre. A liquidação de boa parte da vanguarda de esquerda, e a destruição das organizações de massa possibilitaram à burguesia chilena e ao imperialismo imporem aos explorados um período de completo silêncio. O governo de frente popular, sustentado pela aliança do Partido Socialista com o Partido Comunista, profundamente estalinizado, foi incapaz de armar a classe operária e os camponeses para impedir o golpe, que já era previsível. Essa traição é o que mais pesou e pesa nos acontecimentos que abriram o caminho para a submissão completa do Chile ao imperialismo, e para o ataque em toda a linha contra a classe operária e demais oprimidos.

Não temos dúvida de que a revolta popular contra o governo pinochetista de Piñera traz para o presente da luta de classes as lições do passado. A forma explosiva, desordenada e, em grande medida, espontânea indica a necessidade de constituir a direção revolucionária, que é o partido marxista-leninista-trotskista. A traição dos estalinistas acabou com o Partido Comunista Chileno perante o proletariado. Está aí por que continua a se arrastar por detrás dos socialdemocratas, e por que não pode estar à frente do levante contra Piñera. Não há outra via para a classe operária se colocar como direção da maioria oprimida, senão pondo em pé o seu partido. A brutal repressão não estancará a crise econômica e política em curso no país. A vanguarda consciente deve levar a sério essa avaliação, colocando-se por constituir o programa da revolução proletária. O embrião do Partido Operário Revolucionário, que vem se desenvolvendo como seção do Comitê de Enlace pela Reconstrução da IV Internacional, tem trabalhado nesse sentido.

A crise chilena é parte da crise mais geral do capitalismo. Quase que concomitantemente, ocorreram a rebelião no Equador, o golpe de Estado no Peru e manifestações na Bolívia. No Brasil, a classe operária somente não foi além da greve geral parcial contra o governo direitista de Bolsonaro devido à traição da frente burocrática, constituída pelas centrais sindicais. O mesmo vem se passando na Argentina, contra o governo pró-imperialista de Macri. É muito importante o exemplo do Chile para o Brasil, cujo governo e o ministro da Economia, Paulo Guedes, defendem o pinochetismo, e estão de mãos dadas com Piñera.

Os explorados brasileiros e latino-americanos devem rechaçar a violência reacionária do Estado chileno, exigir a imediata libertação de todos os presos, responsabilizar o governo Piñera pelos assassinatos, e apoiar a rebelião popular. É preciso ainda que os explorados cheguem à conclusão de que é preciso, não só lutar pelas reivindicações mais sentidas, como também pela conquista do poder. A estratégia que leva ao poder é a da constituição do governo operário e camponês, que resulte da revolução proletária.

Abaixo o governo pró-imperialista de Piñera!
Viva o levante das massas oprimidas!