• 11 jan 2020

    Subserviência e interesses da burguesia nacional

Editorial Massas 602 – 12 de janeiro de 2020

A declaração de guerra de Trump ao Irã contou com o apoio do governo Bolsonaro. Certamente, era sabido que os iranianos não iriam responder nesse plano. Caso o atentado contra o Estado iraquiano se transformasse em guerra, as posições dos governos ficariam mais bem definidas. Bolsonaro teria, em princípio, de colocar o Brasil na rota militarista dos Estados Unidos. Limitou-se a declarar o seu apoio a Trump, sem que tivesse qualquer consequência prática. Um dos pilares desse governo é a fração burguesa do agronegócio. Justamente esses capitalistas pediram comedimento a Bolsonaro. Assinalaram que o Irã é o quinto importador de alimentos do Brasil. Uma parcela da diplomacia foi acionada para lembrar que o Brasil tem um histórico de neutralidade nesses casos. O compromisso mais consistente com Trump poderia prejudicar sensivelmente o comércio do Brasil, não só com o Irã, mas com todo o Oriente Médio.

A posição cautelosa das potências europeias, em particular, da Rússia, e da China, foi mencionada como importante para arrefecer o conflito e desarticular uma possível escalada bélica. A política do unilateralismo de Trump e a via da guerra comercial incomodam os opositores democratas norte-americanos, e preocupam a fração imperialista da Europa. Há uma contrapressão às imposições de Trump em sua guerra comercial. Os europeus não apoiaram a ruptura do acordo nuclear com o Irã, seguido do cerco econômico. O fato de terem de se sujeitar ao controle financeiro de Washington, ao ponto de ameaçar os monopólios, que insistem em manter seus negócios com o Irã, causa descontentamento em suas hostes. Imediatamente, recomendaram ao governo do Irã que evitasse um confronto com os Estados Unidos.

No dia seguinte ao atentado no aeroporto de Bagdá, desenvolvia-se internacionalmente uma enorme campanha pela tese de que a ninguém interessava uma guerra no Oriente Médio. Cabia ao Irã se conformar com a morte de seu histórico general nacionalista. Assistimos, em seguida, mísseis iranianos disparados contra as bases norte-americanas de Ain al-Assad e Irbil. Não passou de uma paródia de resposta militar à agressão do imperialismo norte-americano. Os exportadores brasileiros respiraram aliviados. A declaração de Bolsonaro morreria ali mesmo. No entanto, seja lá qual for o desenvolvimento dessa crise, o governo brasileiro ficará marcado como um serviçal da política de guerra de Trump. O que inclui os generais brasileiros, que ficaram à sombra do presidente da República.

É de se notar que os partidos da burguesia procuraram ficar na espreita, aguardando a atitude do Irã. O PT, que também é um partido da burguesia, denunciou como “precipitado e irresponsável” o apoio de Bolsonaro a Trump. Considerou necessária a paz no mundo, para a recuperação econômica. Solidarizou-se com o Irã. Lula afirmou que “o momento não é adequado para o Brasil se meter em briga externa”.  A nota do PT se dirigiu, principalmente, ao seu público interno. E a declaração de Lula, à burguesia. A bandeira da paz foi levantada pelo reformismo e por uma parcela das esquerdas.

O fato concreto é que o assassinato do comandante da Forças Revolucionárias, Qassim Suleimani, e outros militares, foi um ato de guerra, que expressou o intervencionismo imperialista norte-americano no Oriente Médio. A paz entre os povos da região depende da expulsão dos Estados Unidos e demais potências. Não é provável, como ficou evidenciado, que o Irã tomará a iniciativa de guerra. O que inviabiliza, no momento, uma ofensiva dos Estados Unidos, que vá além da declaração de guerra. Os pacifistas podem muito bem fazer demagogia com a bandeira da paz mundial.

A manutenção das bases militares dos Estados Unidos no Oriente Médio, e a colaboração dos governos títeres mantêm potencialmente uma guerra contra o Irã. As guerras contra o Iraque, a sua ocupação, bem como a intervenção no Afeganistão e sua presença na guerra da Síria são as provas mais visíveis de que já não há paz. É preciso rechaçar esse arremedo de defesa do Irã e condenação dos Estados Unidos.

É por meio da luta anti-imperialista, dirigida pelo proletariado, que os povos e etnias lutarão pela verdadeira paz. Sem derrotar o imperialismo e expulsar do poder a feudal burguesia, não é possível dar um passo na harmonização do Oriente Médio. Somente o programa dos Estados Unidos Socialistas do Oriente Médio pode expressar a luta das massas oprimidas pela libertação nacional, diante do imperialismo e de seus exploradores internos.