• 23 fev 2020

    Manifesto do POR Ceará – O que significa a chegada da Força Nacional de Segurança e a assinatura da GLO por Bolsonaro

Governo Camilo (PT) recebe apoio de Bolsonaro, STF e Congresso para enterrar a greve da PM/Bombeiros

 

Fora a Força Nacional de Segurança convocada em acordo Camilo/Bolsonaro!
Abaixo a GLO de Bolsonaro! Camilo Santana, atenda a reivindicação da corporação!

 

O que significa a chegada da Força Nacional de Segurança e a assinatura da GLO por Bolsonaro

22 de fevereiro de 2020

Depois dos acontecimentos do dia 19/02 (tentativa de invasão do 3º BPM em Sobral, por Cid, e reação dos PM’s amotinados) a situação política em relação à greve da PM/bombeiros se transformou bruscamente. O curto período de disputas ácidas entre políticos ligados à corporação, caciques oligárquicos e representantes das frações burguesas (Ciro Gomes acusou Bolsonaro de estar por trás dos tiros contra seu irmão, Cid Gomes foi nacionalmente criticado por seu ato tresloucado, etc.), deu lugar a um pacto entre o governador Camilo Santana, o Governo Federal, o STF e o Congresso Nacional para pôr fim à greve da PM. A autorização de Sérgio Moro para que a Força Nacional de Segurança viesse ao Ceará, tal como a rápida assinatura da GLO, por Bolsonaro, permitindo o deslocamento de 2.500 homens do Exército são indicações precisas de que  o ‘motim’ da tropa não pode mais ser tolerado. Malgrado o apoio informal dos setores bolsonaristas, o certo é que as frações burguesas nunca puderam aceitar nenhum tipo de quebra de hierarquia e de disciplina da corporação. Os tiros disparados contra Cid e, principalmente, a ameaça de extensão da greve a outros estados como Paraíba, Espírito Santo, Piauí e Mato Grosso do Sul, pesaram decisivamente na formação deste consenso nacional, que envolveu até mesmo os políticos da chamada ‘bancada da bala’.

Após a indicação da liberação do Exército e da chegada de contingentes da Força Nacional, o governo Camilo (PT, PC do B, PDT) reiterou o rechaço a qualquer negociação e acusa os policiais de serem milicianos assassinos, marginais e de serem responsáveis pelo aumento da insegurança e da mortandade recente (29 assassinatos nas últimas 24h, no estado). No 4º dia de greve, o governo do estado aumentou a pressão sobre o movimento, declarando que já abriu mais de 300 inquéritos policiais militares (IPM’s) e efetuou a prisão de 3 policiais, acusados de vandalismo. O grupo de senadores Eduardo Girão (Podemos-CE), Major Olímpio (PSL-SP) e Elmano Ferrer (PTB-PI), que vieram ao Ceará, no dia 20, trabalhar pelo fim da greve, ouviram de Camilo que a “anistia de quem fizer motim na polícia é inegociável”. Mais tarde, ao direcionarem-se para a assembleia da corporação no 18º BPM (centro do movimento de PM’s/Bombeiros) tiveram de ouvir da tropa a decisão firme de continuarem na greve até o atendimento das reivindicações de reajuste não parcelado e nova reestruturação da carreira.

Depois da desocupação do 3º BPM de Sobral, pela ação do Tropa de Choque, a PM, em greve, voltou a ocupar instalações da polícia, como a CIOPAER (Coordenadoria Integrada de Operações Aéreas) e a 4ª Companhia do BPRAIO, desafiando a ‘autoridade’ dos Ferreira Gomes em seu feudo. Apesar de apenas uma parte da polícia ter aderido, desde o princípio, à paralisação, as associações têm informado que segue forte a adesão de policiais ao movimento. Indiscutivelmente, os efetivos militares que chegam de outros estados, para a patrulha das ruas, enfraquecerão ação grevista. As direções do movimento (Deputados Cap. Wagner, Soldado Noélio, entre outros) que firmaram o acordo salarial e de reestruturação com Camilo, sendo, em seguida, atropeladas pela própria base da tropa, que iniciou a greve, continuam a cruzada por quaisquer negociações que resultem no fim do movimento. A vinda da comissão de senadores e a fala envergonhada do Major Olímpio de que não se pode aceitar anistia aos amotinados, aumentou a pressão por uma negociação a qualquer custo. Por outro lado, também criou, uma vez mais, condições para que a tropa supere suas ilusões no bolsonarismo, impotente para defendê-los perante a necessidade férrea de assegurar a estabilidade da ordem estatal burguesa.

A crise de direção revolucionária, isto é, a ausência do partido revolucionário no seio dos explorados, não permite tirar vantagens dos acontecimentos em favor da classe operária. Ao contrário, os reformistas de todos os naipes e as correntes democratizantes, contrárias à greve, agitam por todos canais, o perigo do bolsonarismo desestabilizador e acusam os policiais de representarem o fascismo em rota de colisão com as liberdades democráticas. Não poderiam prestar melhor serviço, ao empurrar a corporação para os braços de suas direções inconsequentes, fortalecendo, assim, Wagner-Noélio ao invés de enfraquecê-los. O reformismo e o estalinismo, neste momento, tiram da manga a carta do fascismo e a agitam sem cessar. Não se pode negar que tenham conseguido, especialmente em sua aliança com a oligarquia Ferreira Gomes, arrastar por trás de si, a maioria dos oprimidos, que rejeitam Bolsonaro. Acusam as lideranças grevistas de fazerem politicagem com a greve, quando o primeiro de seus argumentos tem sido a miserável defesa da tarefa de derrotar a greve da PM para enfraquecer a candidatura de Capitão Wagner à prefeitura de Fortaleza.

 

Devem ser condenados os métodos dos policias grevistas de fechar o comércio e usar capuz?

As esquerdas eleitoreiras e domesticadas se afastaram tanto das posições classistas que condenam, sem pensar, a ideia de que os PM’s, em greve, possam usar capuz e esconder o rosto nas suas ações e assembleias. Reproduzem o preconceito da classe média assustadas, associando-os à bandidagem etc. O mesmo tem dito sobre os ‘métodos inaceitáveis de milicianos’ ao verem motos e carros com encapuzados obrigando o comércio a fechar. Se protegem sob o manto de que a violência deve ser condenada categoricamente e o Estado de Direito chamado a agir.

O proletariado tem na ação direta seu método próprio de luta. A violência reacionária dos patrões e do Estado, não poucas vezes, obrigou e obriga os trabalhadores a agirem incógnitos na luta de classes, especialmente nos momentos de grandes conflitos. Assim foi na ocupação da CSN em 1988, assim foi na ocupação de refinarias na greve da Petrobrás de 1995, assim o fizeram, recentemente, estudantes nas manifestações contra a copa do mundo em 2014 ao esconderem o rosto. As greves gerais e as greves radicalizadas impõem pela violência dos piquetes o fechamento não apenas do comércio como o impedimento dos fura-greves de sabotarem por dentro o movimento. Apenas desprezíveis pequeno-burgueses politiqueiros podem condenar, por princípio, estes métodos sem colocar o mais importante: o de saber a serviço de quê eles são utilizados.

 

Pela independência de classe dos explorados diante da greve da PM

Em nome da luta contra o bolsonarismo, a direita e o conservadorismo (arraigado numa grande parte dos policiais militares, civis e bombeiros), uma parcela dos trabalhadores e juventude se deixa arrastar pela política do reformismo/stalinismo de condenação da greve da PM e aliança com setores da burguesia tidos como progressistas e antibolsonaristas. Assim, vale a aliança eleitoral com os Ferreira Gomes para derrotar as candidaturas vinculadas a Bolsonaro. Em nome do combate à direta burguesa, devem ser vedadas até mesmo críticas ao governo Camilo Santana, carrasco do funcionalismo, que fez aprovar  a reforma da previdência estadual, uma vez que podem significar o enfraquecimento da unidade e frente progressista contra a direita. A necessidade de lutar contra o Capitão Wagner, virtual candidato do bolsonarismo e setores evangélicos à prefeitura de Fortaleza, não pode justificar o apoio à política de traição e submissão ao empresariado praticada pelo reformismo petista. É preciso que os explorados e a juventude livrem-se da necessidade de se colocarem por trás das frações burguesas em disputa e se coloquem pela política de independência de classe, o que significa lutar por um poder próprio dos explorados, o governo operário-camponês (ditadura do proletariado). A incapacidade, para não dizer cegueira, da vanguarda pequeno-burguesa em distinguir entre a luta democrática da PM, QUE FAZ UMA GREVE UNICAMENTE POR SALÁRIO, e as suas lideranças bolsonaristas, (assim como as ilusões da base na direita burguesa), mostra o grau de impotência e a incapacidade desta vanguarda de travar uma luta consequente e esvaziar a força das correntes fascistizantes no seio das classes médias. Resta aos revolucionários lutar por uma política justa acerca da greve da PM no seio dos explorados, o que, sem dúvida, é parte da luta para que a classe operária e a juventude encontrem o caminho para o marxismo-leninismo-trotskismo!