• 15 mar 2020

    Editorial – Massas 605 – Não distrair a atenção do essencial. Não seguir os passos da burguesia e seus governos

Não distrair a atenção do essencial

Não seguir os passos da burguesia e seus governos

Massas 605, Editorial – 15 de março de 2020

Não resta dúvida de que a proliferação do coronavírus configurou uma pandemia. A sua real dimensão, resposta e solução, porém, estão nas mãos das potências imperialistas e dos governos. É a classe que detém os meios de produção, controla as riquezas, movimenta os laboratórios, maneja a indústria farmacêutica, decide sobre as campanhas, e dispõe do sistema de saúde (pública e privada).

As massas estão a mercê da política burguesa, embora sejam a imensa maioria, e arquem com as maiores consequências da pandemia. É previsível que o impacto da mundialização do vírus mortal atinja de forma distinta os povos. Os recursos materiais e científicos estão em poder de um punhado de potências. Os países mais débeis, se forem tomados pela pandemia, sofrerão mais. As populações mais pobres estão indefesas.

Iniciado na China entre a população, o surto se propagou por meio de executivos, empresários, comerciantes, turistas, etc. Vai se agravar, no caso de chegar aos bairros pobres e miseráveis. As massas não contam com os recursos para recorrer à medicina privada. E os países economicamente atrasados ficam à mercê das ações do imperialismo.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) reconheceu a pandemia, mas não agiu contra o egoísmo nacional das potências. Os Estados Unidos decidiram unilateralmente proibir por um mês os voos de países europeus. Em seguida, Trump amenizou a drástica medida. No interior da Europa, países fecham suas fronteiras. No Brasil, o estado de Roraima pediu ao governo federal o fechamento da fronteira com a Venezuela. O mundo está diante do ditado popular “cada um por si e deus por todos”. Como deus não existe, sobra “cada um por si”. Assim funciona o capitalismo!

O coronavírus se manifestou bem no momento em que a crise econômica estava por eclodir, à semelhança de 2008. Nada melhor do que um pânico sanitário para acobertar a real situação da economia mundial. É claro que a alteração na normalidade das relações comerciais, motivadas por medidas de proteção nacional, promovidas pelas potências, seria prejudicial. No entanto, não é a pandemia que está derrubando as Bolsas, desalinhando as moedas, agravando as dívidas dos Estados e desacelerando a produção.

O capital financeiro e os monopólios necessitam proteger seus lucros. Pressionam os governos a intervirem a seu favor. Os Bancos Centrais dos Estados Unidos e Europa apresentaram planos para evitar a queda abrupta da economia. Foi o que fizeram na debacle de 2008-2009. O monopólio petrolífero acirra a guerra comercial. Diante da pandemia, porém, os Estados não se responsabilizam pela proteção dos explorados, dos pobres e miseráveis.

É visível a especulação dos financistas. A enorme desvalorização da Petrobras do dia para a noite testemunha o jogo especulativo, que existia antes com a valorização artificial, e que, agora, é usada contra a empresa que está em processo de privatização.

Há, no entanto, uma via oposta à da burguesia. Os sindicatos, centrais e movimentos devem denunciar a gigantesca transação entre o capital financeiro, os Bancos Centrais e os governos burgueses. Demonstrar o fechamento das fronteiras nacionais e a proteção nacional em detrimento da proteção internacional. Mostrar que as potências têm fartos recursos acumulados pelo saque das semicolônias, e que, em um momento de pandemia, servem para proteger sua burguesia. Ocorre que as direções burocráticas seguem os passos da burguesia e governos.

As centrais sindicais, no Brasil, emitiram uma nota em que propõe “um amplo diálogo para definir medidas necessárias para conter a crise do coronavírus e a crise econômica”. Bolsonaro e seus lacaios cancelaram o ato do dia 15. Em seguida, o PSOL desmarcou a manifestação do dia 14 de março dos 2 anos do assassinato de Marielle. As centrais sindicais indicaram em seu comunicado o desejo de suspender o “Dia Nacional de Luta”, em 18 de março. Em seguida, a Executiva Nacional da CUT confirmou o cancelamento das manifestações. Essa posição política favorece as manobras da burguesia e do governo carrasco do povo.

A vanguarda deve rechaçar esse seguidismo. E defender que somente a classe operária e os demais explorados organizados podem lutar por medidas reais de proteção às massas e aos países oprimidos pelo imperialismo.  O programa do proletariado tem por fundamento a expropriação da propriedade privada dos meios de produção. É com esse programa que as massas poderão se defender do coronavírus e da desintegração do capitalismo.