• 23 maio 2020

    Tarefas do momento

Massas 610, 24 de maio de 2020

É visível o esgotamento e o fracasso da política burguesa de isolamento social. O número de mortos ultrapassou os vinte mil. E os governadores já não conseguem manter os índices iniciais do confinamento. O poder econômico dita a volta ao trabalho, não importando o resultado da pandemia. Bolsonaro triunfa em sua posição anti-isolamento, apoiado nos grandes capitalistas. A incapacidade do governador Doria de reagir aos ataques do bolsonarismo se deve ao fato de a burguesia pender para a quebra do confinamento. Nas últimas semanas, aceleraram-se tanto as atividades comerciais, serviços e industriais, quanto as contaminações e mortes.

Os trabalhadores que foram confinados estão sendo convocados pelo patronato a assumir seu posto, com os salários reduzidos. Milhões perderam o emprego. A imensidão que vive da informalidade não vê outra saída para a miséria e a fome senão recorrer ao comércio das calçadas. Os pedintes comparecem em bando nos faróis. A única forma de assegurar o isolamento é com a polícia. Mas, os governadores e prefeitos evitam o método repressivo, uma vez que já não contam com o apoio do poder econômico e sofrem oposição do governo federal.

Essa é a realidade que dita as tarefas que a classe operária tem diante de si. Está voltando ao trabalho desorganizada, golpeada e temerosa. É preciso reverter o desastre social e político, agravado com a inesperada pandemia. Os explorados já vinham perdendo terreno, principalmente desde a quebra econômica de 2015 e 2016. As contrarreformas trabalhista e previdenciária, de 2017 e 2019, atingiram profundamente a vida das massas. Agora, em continuidade, arcam com a brutal MP 936, e nova onda de demissões. E vem mais ataques pela frente, anunciado por Bolsonaro-Guedes. O passado, presente e futuro se fundem contra as necessidades mais elementares da maioria oprimida.

A tarefa básica é a de retomar e reorganizar a luta do proletariado no campo da independência de classe, com programa e método próprios da luta anticapitalista e anti-imperialista. Está colocada a defesa do plano de emergência, que não teve como ser encarnado pela classe operária durante o isolamento social. O que exige a democracia coletiva das assembleias, a ser erguida pelos sindicatos e movimentos.

Essa tarefa, porém, se choca com os aparatos burocráticos, estatizados e corrompidos pelas direções sindicais e políticas. Seu papel na pandemia tem sido a de apoio a uma ala dos governadores, liderada por Doria, em nome da oposição a Bolsonaro. Junto aos empresários, colaboraram com a aplicação do MP 936, utilizando-se da farsa das “assembleias virtuais”. No ápice da pirâmide burocrática, estão a CUT e Força Sindical. Na base, se encontram CTB, CSP-Conlutas e Intersindical. Todas as centrais mergulharam e sucumbiram nas águas da política burguesa do isolamento social. Nenhuma sai ilesa dos efeitos antioperários da MP 936. Nem mesmo a CSP-Conlutas se mostrou capaz de compreender a situação e reagir contra a maré da colaboração de classes.

No momento, se enfileiram por trás do PT para pôr em pé um movimento pró-impeachment de Bolsonaro. Preparam os canais da institucionalidade burguesa para carrear os sindicatos, que terão de controlar a revolta dos explorados, que, cedo ou tarde, retomarão a luta nacional. As direções burocráticas desviam o verdadeiro caminho de combate ao governo burguês, que é o de organizar a luta da classe operária pelo plano de emergência. Lançam-se à via parlamentar do impeachment. Trabalham por uma frente ampla democrático burguesa, cuja finalidade é a de trocar um governo burguês por outro. Reformistas das mais variadas cores, centristas e esquerdista oportunistas confabulam uma forma de como se colocarem sob a bandeira comum de “Fora Bolsonaro” e “impeachment”.

Esse não é o caminho da luta revolucionária pela derrubada do governo burguês e constituição do governo operário e camponês. É o caminho para desviar a tarefa de organizar a luta independente dos explorados por suas reivindicações e plano próprio de luta. É necessário que a vanguarda com consciência de classe rechace mais essa manobra política do reformismo e aliados. A bandeira do momento é a de preparar a volta da classe operária ao trabalho para defender os empregos, os salários e os direitos trabalhistas.