• 06 jun 2020

    Somente com a organização independente e mobilização massiva, os trabalhadores podem se defender

Somente com a organização independente e mobilização massiva, os trabalhadores podem se defender

Massas 611, Editorial – 6 de junho de 2020

A política burguesa de isolamento social gestou a propaganda de que a total paralisia dos explorados era e é a única forma de se defender da pandemia. No fundo, se encontram os interesses da burguesia em interromper a luta de classes, que vinha se desenvolvendo em inúmeros países. A burocracia sindical, em toda a parte, abraçou essa causa burguesa, como se fosse o caminho da real defesa da vida dos pobres e miseráveis. As correntes de esquerda, via de regra, seguiram os passos dos burocratas conciliadores e traidores. Ou assumiram, abertamente, a política burguesa de isolamento social, ou ocultaram sua posição, evitando caracterizar e atacar o seu conteúdo de classe.

As consequências dessa política, depois de mais três meses de pandemia, são: 1) os mais pobres pagaram e pagam com a vida; 2) os assalariados perderam empregos e tiveram redução salarial; 3) os trabalhadores informais se depararam com a miséria e a fome; 4) os estudantes se viram arregimentados pelo ensino a distância; 5) os governos aproveitaram para avançar a escalada repressiva; 6) os capitalistas se valeram da situação adversa ao proletariado para ampliar a flexibilização do trabalho; 7) a burocracia sindical cumpriu seu papel colaboracionista, contribuindo com os acordos antioperários; 8) ideologicamente, se injetou na população a farsa de que trabalhadores e patrões estavam do mesmo lado, sofrendo os mesmos efeitos das crises econômica e sanitária.

Uma parte da classe operária e demais explorados foi empurrada para o isolamento social, não podendo, assim, se defender com sua política de classe oprimida. E a outra parte teve de ir ao trabalho, correndo o risco da contaminação, e tendo de se submeter à redução salarial e perda de direitos. A classe operária e demais explorados, como se vê, foram submetidos a uma camisa de força, enquanto a burguesia manipulava os acontecimentos da pandemia para se preservar das múltiplas consequências.

Há algumas semanas, ainda imperava a orientação burguesa de não se manifestar coletivamente, para não quebrar o isolamento social. Isso quando o poder econômico já vinha impondo a retomada da “normalidade”. É certo que, em plena vigência do isolamento parcial, ocorreram manifestações isoladas dos trabalhadores da saúde, e greves em função dos atrasos salariais e demissões. Indicaram a necessidade latente de se defenderem com as reivindicações e métodos próprios da luta de classes.

Em vários países, esse embrião se evidenciou. O rompimento da inércia e da política burguesa de isolamento social se deu nos Estados Unidos. As massas jovens ocupam as ruas das principais cidades, em todo o País, há 11 dias. Tudo indica que ainda se estenderá, reagindo bravamente ao cerco policial. Mais uma vez, o assassinato de um trabalhador negro pela polícia provoca uma explosão social de grande magnitude. Por mais que se procure ater ao racismo, que resulta em violência cotidiana aos negros, sabe-se que, desta vez, o movimento de protesto expressa as raízes de classe da opressão.

A juventude norte-americana, negra e branca, comparece unida, impulsionada pelo desemprego, subemprego e pobreza. A importância desse levante está em que as massas mobilizadas mostram que não se deve desorganizar e deixar de lutar em meio à mortífera pandemia. Mostram, por outro lado, que o estilhaçamento da classe operária e demais explorados, provocado pela política burguesa do isolamento social, serviu apenas aos interesses econômicos e de dominação da burguesia. Fica patente que o temor e o medo coletivos são paralisantes. Uma das faces do isolamento social foi o de aterrorizar a população, impossibilitar qualquer lampejo de consciência social e política, bem como individualizar os riscos e culpabilizar aqueles que, não podendo se manter no isolamento, voltam às ruas para ganhar o pão de cada dia.

A revolta contra o assassinato de George Floyd pelo policial branco Derek Chauvin rompeu o temor e o medo, colocados a serviço dos governos e da burguesia. Os batalhões de jovens se vestiram com as máscaras de proteção e superaram as pressões políticas e policiais. A causa dos oprimidos se mostra maior e mais poderosa que o medo individualizado, imposto à população. Não há um só pingo de aventura, irresponsabilidade social e leviandade. Ao contrário, as massas encarnam as necessidades prementes e assumem a responsabilidade, saindo em luta contra a burguesia branca e seus governos. Em nenhum momento, temeram a ameaça de Trump de intervir com as Forças Armadas, para esmagar as supostas ações terroristas.

Os burocratas sindicais e esquerdistas brasileiros, aterrorizados, serviram de porta-vozes da política burguesa do isolamento social, acusando de irresponsáveis aqueles que defenderam, desde o início, que somente a classe operária organizada e mobilizada poderia tomar em suas mãos as respostas à pandemia e suas consequências.

O movimento das massas norte-americanas mostrou o caminho da luta. Os explorados e a juventude do mundo todo foram surpreendidos com a revolta na mais poderosa potência. Isso quando ainda prevalecia a recomendação governamental de não se manifestar e resguardar o isolamento social. O risco de contaminação existe. Os manifestantes não o desconhecem. Os Estados Unidos se tornaram o epicentro da pandemia. Mais de 150 mil mortos. Destes, a maioria é de negros, imigrantes latinos, pobres e miseráveis. Ficou claro que o governo Trump, governadores e a burguesia não foram capazes de proteger aqueles que mais precisavam. As demissões e o desemprego explodiram em poucas semanas. As massas viram que não enfrentavam apenas o risco do coronavírus, mas um conjunto de riscos interligados. Essas condições trágicas levaram as massas às ruas, e ao persistente enfrentamento ao Estado policial.

O exemplo de combate ascendeu o pavio dos protestos em várias partes do mundo. Chamaram a atenção, as massivas manifestações na Europa. Esses exemplos devem ser seguidos no Brasil e na América Latina. Passamos dos 35 mil mortos, e a escalada continua ascendente. Também aqui morrem pobres e miseráveis, na sua maioria de negros. O isolamento social foi rompido pelo poder econômico. Os governadores acabaram se curvando, aproximando-se da orientação de Bolsonaro. E os burocratas sindicais continuam com o palavreado de proteção à vida. Começam a se movimentar, diante da divisão interburguesa e da crise de governabilidade. Em vez de iniciar, imediatamente, a organização do movimento operário, para responder à crise sanitária, demissões, desemprego e redução salarial, agarram-se à bandeira abstrata da democracia, e do impeachment de Bolsonaro. Isso sabendo que a única forma de combater consequentemente o governo militarista e fascistizante é reorganizando os explorados sobre a base de um plano próprio de emergência, e oposto a todos os planos de emergência de Bolsonaro, governadores e Congresso Nacional.

Os explorados – negros e brancos – estão em uma encruzilhada. Ou ganham as ruas, ou continuarão sofrendo as brutais consequências da pandemia e da crise econômica. Ou enfrentam a burguesia e seus governos, com sua política e estratégia própria de poder, que é a do governo operário e camponês, ou sofrerão ainda mais com a barbárie social, que avança com o processo de desintegração mundial e nacional do capitalismo.

As manifestações de 31 de maio, em São Paulo e Rio de Janeiro, embora embrionárias e carentes das reivindicações proletárias, são os primeiros sintomas da necessidade de romper a paralisia. Repetimos, imposta pela política burguesa do isolamento social. Não se pode ter dúvida de que teremos nosso estopim, como tiveram os Estados Unidos. Não se deve, no entanto, esperar por ele. A vanguarda com consciência de classe está diante da tarefa de combater pelas reivindicações dos explorados. Trabalhar pela convocação assembleias, para organizar o movimento nacional, e retomar os elos das greves gerais de 2017 e 2019.Retomar as grandes manifestações rua. Erguer a democracia operária, por meio das assembleias e da organização de comitês de base por todo o País. Desenvolver no interior da classe operária o programa e a estratégia da revolução proletária. Vincular nossa luta com a luta internacional dos explorados. Esse é o caminho para derrotar o governo ultradireitista, militarista, golpista e fascistizante.

Viva a retomada da luta dos explorados nos Estados Unidos e em todo o mundo!

Retomar, no Brasil, a luta local, regional e nacional, sob um plano de emergência próprio dos explorados!

Enfrentar, imediatamente, as demissões, desemprego, subemprego e quebra de direitos!Acabar com os acordos de redução salarial e quebra de direitos, assinados pelos sindicatos!

Pôr abaixo as Medidas Provisórias de Bolsonaro, governadores e Congresso Nacional, que sacrificam a vida da maioria oprimida e protege os interesses dos capitalistas!