• 05 jul 2020

    Pôr em pé um movimento por emprego, salário e proteção sanitária

Pôr em pé um movimento por emprego, salário e proteção sanitária

Editorial, Massas 613 – 5 de julho de 2020

Apesar de a pandemia continuar avançando, das mortes caminharem para setenta mil, e da contaminação crescer assustadoramente, a economia está perto da normalidade. O poder econômico ditou a reversão do isolamento social, independente das orientações médicas. Os governadores que se destacaram como humanitários defensores da vida, portanto, do “fique em casa”, mudaram de lado, indo ao encontro da diretriz de Bolsonaro. Ainda têm de dramatizar, diante da elevação do número de mortos, mas sem contrariar o poder econômico. Diante da população em risco, apresentam medidas mirabolantes de flexibilização, protocolo e orientação técnica.

A maré irresistível da volta ao trabalho, da labuta pela vida diária, e dos interesses dos exploradores passou por cima da política burguesa de isolamento social, e varre a flexibilização. Há um espinheiro a ser vencido – o retorno às aulas. Envolve milhões de crianças e jovens, principalmente. Os governantes têm de combinar o recuo da pandemia com o funcionamento do sistema educacional. O principal espinho é apresentado pelas escolas e universidades privadas. Aí se expressa, diretamente, a decisão do poder econômico geral, e os interesses particulares dos capitalistas da educação.

Removido esse obstáculo, estará liquidada de vez a política burguesa do isolamento social. Triunfará, definitivamente, o realismo capitalista de Bolsonaro, cujo conteúdo se refletiu no pensamento do presidente da República, de que morrer é natural, e que a economia não poderia ser comprometida pela pandemia. Tamanho realismo, porém, ocultou que os mortos, em sua esmagadora maioria, são de pobres e miseráveis. Sabemos que esse é um detalhe no realismo burguês. As mortes são irreversíveis, e muitas outras virão. Está naturalizada a catástrofe que atinge as massas, submetidas a duras condições de sobrevivência, sob o capitalismo em decomposição.

Doria, Camilo, Dino etc. não precisam dar explicações por que se viram obrigados a saltar a pequena cerca que os separava do “genocida” Bolsonaro. A imprensa monopolista não tem como minimizar a tormenta da pandemia, que não se desfez. Mas, já não grita por unidade nacional em torno ao isolamento social. Limita-se a criticar essa ou aquela inconsistência nas decisões de Doria, Crivella, etc.

O fundamental é que o realismo capitalista se impôs, a despeito das diretrizes da OMS, e da boa vontade dos governadores em segui-las. É a máquina econômica e as condições sociais imperantes que determinam a amplitude e limitação das medidas sanitárias. E não o contrário, como pretenderam apresentar os arquitetos do isolamento social. Triunfado o realismo capitalista, a vida segue em frente, e os mortos vão sendo enterrados, sem choro nem vela. Aqui reside, agora, todo o problema. Como seguir em frente?

Os empresários estimam que cessa a queda vertiginosa da economia e que, no próximo trimestre, a indústria começará a recuperar a produção. O que pode melhorar o atribulado ambiente político. E a situação da classe operária e demais explorados? O número de desempregados superou o de empregados, respectivamente, 87,7 milhões e 85,9 milhões.

A vida não segue igual para exploradores e explorados, que carregam milhares de mortes, suportam milhões de demissões, pagam pelo isolamento social com redução salarial, e precarização das condições de trabalho. Esse é o “pior dos mundos”!

Parte da classe operária e demais explorados foi empurrada ao isolamento social; parte teve de se sujeitar ao trabalho e à pandemia. Então, qual é o problema do momento? Em resumo: lutar pela recuperação dos postos de trabalho, reverter as perdas salariais, pôr abaixo as contrarreformas de Temer/Bolsonaro, e enfrentar novos ataques que Guedes prepara. Essa é a tarefa.

Para seguir em frente, porém, é preciso enfrentar o obstáculo dos obstáculos, que é a política de colaboração de classes da burocracia sindical, controlada em grande medida pelo PT, Solidariedade e PCdoB, e, em menor medida, pela esquerda capituladora, PSOL e PSTU. Essas correntes estão alinhadas por trás do impeachment de Bolsonaro, que implica deixar de lado a tarefa número um, de pôr em pé um poderoso movimento pelas reivindicações próprias dos explorados.

A vanguarda com consciência de classe tem o dever de combater energicamente a posição das esquerdas, que se sujeitaram à política burguesa do isolamento social e, agora, procuram desviar o curso da luta de classes para o campo da oposição burguesa. Somente se golpeará Bolsonaro, golpeando a burguesia!