• 29 ago 2020

    Os marxistas têm o dever de se dedicar ao máximo para construir o partido revolucionário

Grave momento

Os marxistas têm o dever de se dedicar ao máximo para construir o partido revolucionário

Editorial, Massas 617, 30 de agosto de 2020

Entre as várias correntes que se reivindicam do trotskismo, é comum o reconhecimento de que a grande tarefa reside na necessidade de superar a crise de direção revolucionária. Reivindicar não significa ser. Reconhecer não resulta estar no caminho certo. Mas, o reconhecimento é importante. Significa que ainda há a possibilidade de uma fração daqueles que se reivindicam do trotskismo vir a romper com a aparência e a falsa convicção.

As correntes que ainda se reivindicam do trotskismo são manifestações do centrismo. Negaram-se a constituir o programa da revolução e ditaduras proletárias. Assim, sem o programa, oscilam entre o reformismo e o marxismo, a depender das condições da luta de classes. Via de regra, se organizam no seio de uma camada da pequena-burguesia, que tende à esquerda. Raras são aquelas que têm penetração na classe operária. Aquela que conseguiu um posto de direção sindical se adapta às pressões da burocracia dirigente. Expressa a influência pequeno-burguesa em algum sindicato operário.

Os centristas, em geral, tendem a ser arrastados por trás da influência do reformismo, que se vale das organizações operárias e populares, para sustentar o partido burguês ou pequeno-burguês, que se dedica à política parlamentar, e pratica a política de colaboração de classes, mais ou menos diretamente. Nota-se que a crise de direção resulta em projeção da pequena-burguesia, principalmente da classe média urbana. O centrismo, em suas variantes, expressa o crescimento vertiginoso dessa classe intermediária.

Uma marca dessa projeção social se materializa nos movimentos em torno às reivindicações democráticas, à opressão sobre a mulher, racial e sexual. Desvinculados do programa da classe operária, se limitam ao corporativismo e ao eleitoralismo. A imensa classe média se arruína e se choca com os governos burgueses; à sua esquerda, alimenta o reformismo e o centrismo; à sua direita, o direitismo fascistizante.

Essas composições comparecem como predominantes na vida política do dia-a-dia nacional. A política do proletariado, ao contrário, se mantém em estado mais ou menos embrionário. A sobreposição das manifestações pequeno-burguesas e burguesas se levanta como uma poderosa trava às tendências instintivas de revolta do proletariado, e à sua constituição como classe independente, programática, política e organizativamente.

A sedimentação de uma burocracia sindical estatizante, colaboracionista e conciliadora somente foi possível mediante o recuo histórico das conquistas do proletariado mundial, cuja maior expressão foi a liquidação do partido bolchevique, destruição da III Internacional, triunfo da restauração capitalista e desmoronamento da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Em resumo, o revisionismo e a política estalinista, que levaram à capitulação diante do imperialismo, destruíram no mundo todos os partidos comunistas. Tamanha catástrofe histórica resultou em longo período de terra arrasada, que se mantém até nossos dias, ainda que em condições distintas. A dissolução da IV Internacional, depois da morte de Trotsky, faz parte desse quadro.

As vitórias da burguesia mundial, no entanto, não resultaram em libertação das forças produtivas da camisa de força das relações de produção, condicionadas pelos monopólios. Ao contrário, potenciaram suas contradições, que irresistivelmente empurram o capitalismo mundial à desintegração. A crise aberta em 2008 não teve como ser superada, precisamente porque a única via que resta ao imperialismo é a de destruir massivamente parte das forças produtivas, e agigantar a barbárie social. É nessas condições que a pequena burguesia se desespera e se mostra impotente. As formas do reformismo e do centrismo caminham para o impasse. É nessas mesmas condições que o proletariado comparece como a única classe revolucionária.

A vanguarda que conserva o programa da revolução e ditadura proletárias tem a seu favor a emersão do marxismo-leninismo-trotskismo nas condições objetivas de decomposição do capitalismo, e das necessidades imperiosas do proletariado em tomar a frente da luta de classes. Trata-se da vanguarda com consciência de classe firmar as posições programáticas no movimento prático das massas.