• 07 set 2020

    Grito dos Excluídos

Grito dos Excluídos

É preciso retomar os atos massivos de rua, convocar as assembleias e comitês, e erguer uma poderosa mobilização, no campo da independência de classe!

Que as centrais sindicais convoquem imediatamente um verdadeiro Dia Nacional de Luta, pelos empregos, salários, direitos e saúde pública!

 7 de setembro de 2020

A classe operária e demais explorados estão sob intenso ataque do governo Bolsonaro, Congresso Nacional, governadores e burguesia. A pandemia foi utilizada para demitir milhões, reduzir salários e implantar o trabalho em casa. A Renault acaba de fechar centenas de postos de trabalho. A Volks apresentou sua lista de demissões de cerca de 5 mil. A Embraer correu a demitir 2.500. Outras montadoras já haviam demitido milhares. No setor de serviços, inúmeros pequenos negócios fecharam suas portas e demitiram. Os trabalhadores dos Correios estão em greve, contra perdas de direitos, demissões e privatização. Esse é o quadro que prevalece, em todos os ramos da economia. O anúncio do salário mínimo de fome reforça os golpes desfechados pelo governo contra a maioria oprimida.

A tarefa do momento, portanto, é a de unir empregados e desempregados, em um movimento nacional pelos empregos, salários, direitos trabalhistas e saúde pública. O “Grito dos Excluídos” pode servir para exigir das centrais, sindicatos e movimentos a organização imediata da luta nacional contra os ataques do governo e da burguesia. Caso contrário, servirá apenas para discursos eleitoreiros e lamentações sobre a pobreza e a miséria. Aqueles que não defendem e não trabalham pela organização de uma frente única dos explorados para defender os empregos e os salários só fazem enganar os trabalhadores.

No dia 7 de setembro, ocorrem as tradicionais manifestações do Grito do Excluídos, que, desde a origem, tiveram o sentido de se contrapor às festividades oficiais, geralmente marcadas pelos desfiles militares, de celebração da independência formal do Brasil. A contraposição, assim, sempre esteve ligada à necessidade de mostrar a dura realidade dos trabalhadores e juventude, que compõem a maioria nacional oprimida, contrastando com os discursos ideológicos da burguesia, que sempre dão um jeito de varrer a sujeira para debaixo do tapete, mostrando um país fictício.

É bom retomar esse sentido original do Grito dos Excluídos, pois, está mais vigente do que nunca. O discurso nacionalista, de ultradireita, empunhado por Bolsonaro e seu governo, está em choque com a situação gravíssima de continuidade da pandemia, combinada com a crise econômica. São mais de 125 mil mortos pelo Covid-19, e 4 milhões de infectados, um quadro terrível, piorado pela situação de altíssimo nível de desemprego, de aumento da fome e da miséria. Os governos têm atacado direitos históricos da classe operária, a crise da educação tem se aprofundado, a violência, crescido assustadoramente, e as tendências fascistizantes, se fortalecido.

Apesar da gravidade da situação, Bolsonaro continua dificultando a contabilização dos casos e das mortes, manipulando os dados sobre o desemprego, tentando ocultar o desastre ambiental na Amazônia, e buscando abafar como pode os casos de corrupção, que envolvem a si e a sua família. Ao mesmo tempo, vai se afundando até o pescoço, em práticas que tanto criticou, a exemplo da utilização do assistencialismo (auxílio emergencial e Renda Brasil) como instrumento eleitoral, e as negociatas com o Parlamento, medidas que visam a alavancar a sua popularidade.

Os explorados, no entanto, não podiam esperar outra coisa de um governo burguês direitista, além de demagogia, repressão, privatismo e entreguismo. O problema dos problemas, para a classe operária e os demais explorados, no entanto, é outro: o maior obstáculo se encontra nas direções dos organismos das massas, comprometidas que estão, até a medula, com a política de conciliação de classes. Diante de tantos ataques da patronal, de tanta desgraça despejada sobre a maioria, era de se esperar que as centrais, sindicatos, movimentos e entidades estudantis organizassem a resistência, saindo em defesa dos empregos, salários, direitos e proteção sanitária. Contudo, se paralisaram com a política de suas direções, de submissão à política burguesa do isolamento social.

Esse não é um problema novo, é claro, há tempos que os sindicatos e demais organismos estão sob o controle cerrado de uma burocracia corrompida, que serve de correia de transmissão da política burguesa junto aos oprimidos. Ocorre que, nas condições da crise sanitária e econômica, as direções das centrais e sindicatos se mostraram serviçais aos interesses do grande capital, aplicando a MP 936, e recorrendo à fraude das “assembleias” virtuais, para aparentar que foi uma decisão democrática. De um lado, fecharam os olhos paras as demissões em massa; de outro, auxiliaram o governo Bolsonaro, o Congresso Nacional e o patronato a reduzirem os salários de milhões de trabalhadores.

É necessário lembrar o que se passou com o Grito dos Excluídos do ano passado. Naquele momento, o governo negociava a reforma da Previdência, que ainda não havia sido votada no Senado. Diante disso, as direções sindicais e estudantis se enfiaram no jogo das emendas parlamentares, almejando “desidratar” o projeto de Bolsonaro. Antes, já haviam desativado a greve geral de 14 de junho, para que não se chocasse com o Congresso Nacional. A UNE chegou ao ponto de convocar a juventude a participar de um ato simbólico, de “luto”, no dia 7 de Setembro, exortando a todos que comparecessem vestindo roupas pretas. Desse modo, as direções acabaram consumando a traição, na medida em que desviaram a tendência de luta dos explorados para o caminho da derrota, prestando um valioso serviço ao capital financeiro.

Como se vê, há muitos elementos de repetição, no que se refere à conduta das direções, do ano passado para cá. Seguem na passividade, com a mesma retórica do “luto” (agora em referência aos mortos pela pandemia), da pressão parlamentar e do eleitoralismo – vale lembrar que as eleições municipais estão relativamente próximas, e as campanhas já estão a todo vapor. As “novidades” são as ações determinadas pela política do “fica em casa”, como as carreatas típicas da classe média (antes realizadas quase exclusivamente pela direita), e as atividades on-line, todas completamente inócuas. Enquanto isso, nesse período de um ano, os governos avançaram significativamente na flexibilização capitalista do trabalho, principalmente com a MP 936, estão demitindo a rodo, suspendendo contratos, rebaixando salários, quebrando os acordos coletivos, etc.

A política das direções é o problema dos problemas. O retrocesso que está sendo imposto pela burguesia aos explorados é monumental. Um dos próximos alvos é a chamada Reforma Administrativa, mais um duro golpe sobre a maioria do funcionalismo público. Novamente, ficam protegidos os militares, parlamentares e juízes. Doria pretende aprovar o PL 529 na Alesp, como parte das contrarreformas. E tudo se passa na mais absoluta tranquilidade para a burguesia, já que as direções recolheram os movimentos.

O resultado é que a classe operária e demais oprimidos se encontram preocupados, abatidos. Têm tentado responder, de forma instintiva, e apesar das direções, como no caso dos Correios, mas, sem unificação e sem a organização das assembleias e comitês presenciais, tem sido difícil avançar. É obrigatório denunciar a traição da direção na greve dos metalúrgicos da Renault, e o corpo mole da direção sindical na greve dos metroviários de São Paulo. As lutas explodem aqui e ali, entretanto, não conseguem romper o dique armado pelas direções traidoras. Falta um impulso, que seja capaz de servir de ponto de partida, no sentido da retomada dos atos massivos. Que o Dia dos Excluídos não se limite a denunciar o governo Bolsonaro, e o avanço da miséria. Deve erguer a bandeira da defesa dos empregos, salários, direitos trabalhistas e proteção da saúde pública. E exigir que as centrais sindicais convoquem um verdadeiro Dia Nacional de Luta, em defesa dos empregos, salários, direitos e Saúde pública. O Dia dos excluídos tem de escorraçar os eleitoreiros, hipócritas e demagogos.

Esse é o caminho por onde os explorados poderão responder aos ataques da burguesia e dos governos. A luta ao redor das reivindicações mais sentidas, com os métodos próprios da classe operária, é a condição para erguermos um movimento nacional, com independência de classe. É urgente que os sindicatos convoquem as assembleias, abram as suas portas, e coloquem as suas instâncias para funcionar, desde a base. Que se inicie imediatamente uma campanha que unifique os empregados e desempregados. Que os sindicatos, o movimento popular, camponês e estudantil arregacem as mangas, rompam com a paralisia e se lancem, em uma frente única, a organizar a luta pelo fim das demissões, reabertura dos postos de trabalho, redução da jornada sem, reduzir os salários, revogação das MPs antioperárias, e recuperação das perdas salariais.

Abaixo o salário mínimo de fome de Bolsonaro e Congresso Nacional!
Pelo salário mínimo vital, calculado de acordo com as necessidades reais da família trabalhadora!
Emprego a todos! Reduzir a jornada, sem redução salarial! Dividir as horas nacionais trabalhadas entre todos os trabalhadores, por meio da escala móvel das horas de trabalho!
Unificar as lutas em um só movimento, por um plano de emergência contra a miséria e a fome!