• 12 set 2020

    Época das contrarreformas

Época das contrarreformas

Onde está o grande problema?

Massas 619 – Editorial, 13 de setembro de 2020

As reformas se caracterizam por expressar o desenvolvimento das forças produtivas. Incidem, tanto no terreno econômico, como no social e político. Eis por que marcaram o capitalismo liberal do século XIX. As contrarreformas expressam o estancamento das forças produtivas e o declínio do capitalismo mundial. São próprias do capitalismo monopolista, cujos marcos se ergueram no início do século XX, de predomínio do capital financeiro, portanto, do imperialismo.

As duas grandes guerras mundiais resultaram do choque das forças produtivas com as relações de produção, enclausuradas pelos monopólios; contradição que se converte em choque entre aquelas e as fronteiras nacionais. A Primeira Guerra não destruiu em escala necessária parte das forças produtivas, e não acomodou os conflitos entre as fronteiras nacionais. A Segunda Guerra seria potenciada pela Grande Depressão, e pela necessidade de uma nova e mais completa partilha do mundo. Desta vez, a devastação foi gigantesca.

A tecnologia e indústria bélica deram um gigantesco salto em sua capacidade destrutiva. O teste da bomba atômica sobre o Japão evidenciou a natureza da “Nova Ordem Mundial”, ditada pelos Estados Unidos. A revolução proletária na Rússia, que emergiu nas entranhas da Primeira Guerra, rompeu um dos elos da cadeia capitalista, e abriu um período de transição para o socialismo.

As revoluções proletárias passaram a ser a condição para libertar as forças produtivas mundiais das travas regressivas e bárbaras do monopólio e da dominação imperialista. Depois da Segunda Guerra, se ergueu a revolução na China. Mais um poderoso elo se rompia. As revoluções anteriormente derrotadas se contrapuseram ao curso das transformações regionais e mundiais. Mas as genuínas revoluções na Rússia e China se ergueram como dois pilares, com os quais o imperialismo se chocaria e agiria estrategicamente para quebrá-los.

O revisionismo nacionalista, estalinista, no processo de transição do capitalismo ao socialismo, se encarregaria de abrir os flancos para o restauracionismo capitalista. A União das Repúblicas Socialistas Soviéticas e a República Popular da China foram incorporadas na Nova Ordem do pós-guerra, na forma da “paz” rapina, de Potsdam e da “coexistência pacífica”, embora as contradições não permitissem, e o imperialismo não cessasse um segundo em seu objetivo de potenciar as forças restauracionistas.

A derrocada da União Soviética, em 1991, e o avanço da restauração na China concluíram o período histórico de conquistas, que foram destruídas e convertidas em retrocesso. Inúmeras foram as etapas de conflito e de avanço das forças restauracionistas, chefiadas pelos Estados Unidos. Entre os anos de 1960 e 1970, as tendências de desintegração da ordem do pós-guerra tomaram corpo. O capitalismo mundial, reconstruído da hecatombe, se movimenta em meio às leis históricas de seu esgotamento, e evidencia as travas monopolistas que impossibilitaram no passado a continuidade do desenvolvimento das forças produtivas, e que gestaram as duas grandes guerras.

O arcabouço de reformas mundiais arquitetado pelos Estados Unidos se mostrou insustentável, e serviu para ocultar a espoliação imperialista das semicolônias, submetidas à nova repartição mundial. Não foi possível modificar a orientação geral de que o capitalismo monopolista não comporta reformas, de maneira que, à burguesia, não restava e não resta, senão impor as contrarreformas à classe operária e, em particular, aos países semicoloniais, que devem arcar com o maior peso das crises.

A liquidação de conquistas das revoluções proletárias faz parte das contrarreformas mundiais. Os retrocessos das transformações revolucionárias se voltam contra a classe operária e os demais explorados, em toda a parte, tanto nas potências quanto nas semicolônias. Ocorre que o amplo movimento das contrarreformas somente tem sido possível, devido à desorganização mundial do proletariado e à crise de direção revolucionária, cuja responsabilidade do estalinismo contrarrevolucionário está à vista.

O combate às contrarreformas, como se vê, exige a assimilação, a defesa e a aplicação – nas condições particulares da nova etapa de desintegração do capitalismo – das posições programáticas, ideológicas, organizativas, políticas e econômicas da classe operária mundial. Observa-se que a luta de classe tende a se agravar, com a putrefação do capitalismo e com a necessidade da burguesia de descarregá-la sobre a maioria oprimida. Obrigatoriamente, os explorados têm de reagir e, assim, coloca objetivamente o problema da direção revolucionária. O Programa de Transição da IV Internacional reúne essas condições, basta que a vanguarda com consciência de classe o expresse, constituindo o programa em cada país, e erguendo o partido marxista-leninista-trotskista.