• 15 set 2020

    Manifesto do POR – Plano antioperário da Volks é de demissão de milhares de metalúrgicos

Manifesto do Partido Operário Revolucionário

Plano antioperário da Volks é de demissão de milhares de metalúrgicos

Direção do sindicato assume a causa da multinacional contra os trabalhadores

14 de setembro de 2020

A colaboração da direção do Sindicato Metalúrgico do ABC com a montadora alemã é o maior obstáculo para os operários da Volks de São Bernardo defenderem os empregos, salários e direitos. Apesar do descontentamento nas bases e do temor das demissões em massa, nota-se que a direção do sindicato e a administração da empresa fizeram um enorme trabalho para conter a revolta. O acordo foi negociado nos bastidores e, depois, apresentado à imprensa. Faltando, apenas, portanto, obter uma aprovação fraudulenta de uma assembleia, convocada formalmente, e convencida de que não há outra saída, senão aceitação do acordo. É o que o presidente do sindicato, Wagner Santana, e o presidente da Volkswagen, Pablo Di Si, esperam da assembleia, que será realizada amanhã, às 13:30 horas.  Tudo está planejado para não ter surpresas. O que quer dizer que o resultado da assembleia foi previamente definido.

No momento em que a direção do sindicato decidiu negociar a portas fechadas o violento plano, indicou que não queria nenhum tipo de resistência, nenhum protesto e nenhuma luta. Quando afirmamos que passou a defender a causa da Volks, dizemos que a direção do sindicato engoliu a justificativa de que a empresa vem passando por dificuldades e que não tem outra saída, senão demitir mais de 5 mil, congelar e reduzir salários, e retirar direitos. Em outras palavras, a poderosa multinacional descarrega a retração da produção sobre seus assalariados. Mais do que isso, as tendências recessivas atingem a economia como um todo, assim, as demissões ocorrem em todos os setores.  O que faz a Volks é o mesmo que está sendo feito pelas demais montadoras, Embraer, Petrobrás, Correios, etc. A classe operária está sendo duramente atingida pela crise econômica, cuja causa se encontra na brutal exploração do trabalho, na alta lucratividade, no parasitismo financeiro e, portanto, na anarquia da produção social, própria do capitalismo.

A atitude conciliadora da direção do Sindicato Metalúrgico do ABC com o capital também não é particular ao que se passa na planta de São Bernardo. Os demais sindicatos metalúrgicos vêm fazendo o mesmo, bem como o conjunto da burocracia sindical. As demissões em massa têm sido tomadas como inevitáveis, de maneira que os sindicatos nada podem fazer, a não se negociar os termos da demissão, redução de salários e retirada de direitos. É o que se passou com a greve dos metalúrgicos da Renault, em São José dos Pinhais, Paraná. A empresa não negociou o plano, a burocracia teve de recorrer à greve, a Justiça acertou os ponteiros e, assim, se consumou a traição. No caso da Volks, a diferença está em que se negociaram os termos do plano, para se evitar qualquer movimento dos metalúrgicos.

A política da burocracia sindical é a de obter alguma contrapartida, para poder enganar, dividir e atemorizar. O sindicato pediu uma cláusula de estabilidade temporal, e a multinacional já a tinha guardada no bolso. Então, Wagner Santana pôde dizer à imprensa: “A proposta garante o emprego, e tem suas condicionantes e seus custos“. Na página da CUT, os termos do acordo (abertura de PDV, data-base, layoff, tabela salarial e outros) são introduzidos com o anúncio de que o Sindicato Metalúrgico do ABC e as plantas de Taubaté, São Carlos e São José dos Pinhais da Volkswagen chegaram a uma proposta de acordo que, entre outros itens, inclui a garantia de emprego por 5 anos. Está aí a contrapartida, que serve para dividir os operários e para criar a ilusão de que é um bom negócio. Por outro lado, se apresenta àqueles que serão demitidos, pela via do PDV, a indenização de “20 salários adicionais à tabela base” ou “10 salários adicionais”. Também nesse caso, se está acenando que é um bom negócio. O acordo prevê, politicamente, convencer aqueles que acham que não serão demitidos a não resistirem aos demais aspectos do acordo. Ou seja, a aceitarem um congelamento salarial integral ou parcial, a depender do mecanismo de uma tabela, até 2022. Em lugar de reajuste, a empresa oferece um abono em 2020, que, como se sabe, não se incorpora nos salários e direitos. Fixa um valor de PLR até 2024. Também sabemos que o PLR é uma forma de não aumentar os salários, e que a sua soma no ano, que parece um bom dinheiro, dividido por 12 meses, de fato é uma bagatela, no caso, seriam R$ 1.000,00 mensais, e R$ 12.000,00, no ano. Não é preciso expor os termos patronais do layoff, uma invenção inteligente dos capitalistas imperialistas, que os burocratas assumiram de corpo e alma, como parte da flexibilização capitalista do trabalho.

Se os instintos de revolta não forem maiores que as pressões montadas pela empresa e pela direção do sindicato, teremos consumada a segunda maior traição à classe operária, em pouco tempo, desfechada no berço do destacamento mais avançado da classe operária no país. A primeira se passou com o fechamento da Ford, e a segunda será com o acordo de demissão da Volks. Essas duas traições resultaram de inúmeras outras no passado.

O desmonte do movimento operário no Brasil, que havia dado um salto à frente nos anos de 1980 e 1990, se deu com a ascensão do PT e a sua chegada ao poder do Estado, com a eleição de Lula. É sob o governo petista que haverá um retrocesso profundo do movimento operário e camponês. A atual burocracia sindical é herdeira dessa política de colaboração de classes, nas condições em que o capitalismo se desintegra, o desemprego, subemprego, pobreza e miséria avançam. Sob a pandemia, as direções sindicais se submeteram à política burguesa do isolamento social, aplicaram a MP 936, e viraram as costas para as demissões em massa. Depois de seis meses de pandemia, a crise econômica permanece, e as multinacionais se ajustam, recorrendo ao facão e à desvalorização do preço da força de trabalho. A burocracia sindical, sob o governo do PT, serviu de instrumento para desorganizar profundamente o pouco que se havia conquistado nas duas décadas antecedentes e, na sequência, com a crise, passa a ser um instrumento direto do capital imperialista. Assim, se evidencia o lugar da burocracia socialdemocrata e reformista como agente do grande capital.

Esses agentes se desfizeram de bandeiras elementares do passado, como redução da jornada sem reduzir os salários, estabilidade no emprego, salário mínimo do Dieese, reajuste e aumento de salários, principalmente. Isso porque se submeteram profundamente aos capitalistas e seus governos, abraçando a parafernália da flexibilização capitalista do trabalho (PDV, banco de horas, layoff, PLR). É nesse terreno que se colocam como negociadores dos interesses da classe operária, de maneira que se veem obrigados a trair esses mesmos interesses. Não há como compatibilizar a defesa dos empregos, salários e direitos com o método da flexibilização capitalista do trabalho. A aplicação dessa política, durante vários anos, enfraqueceu enormemente o movimento operário, e desmoralizou os sindicatos aos olhos da maioria dos assalariados, principalmente das camadas mais amplas despolitizadas e susceptíveis às pressões da política burguesa. O fechamento da Ford e, agora, o “acordo” de demissão de mais 5 mil metalúrgicos na Volks, levam o sindicalismo de colaboração de classes ao fundo do poço.

A vanguarda com consciência de classe tem de denunciar abertamente, sem nenhum rodeio, os traidores, e lutar com todo empenho para construir novas direções classistas, que retomem as reinvindicações originais do movimento operário, os fundamentos da independência de classe, da organização coletiva e da democracia proletária. E que avancem no sentido da defesa do programa e da estratégia da revolução proletária, da constituição de um governo operário e camponês. Somente com esses princípios, programa e linha política classista, é possível libertar os sindicatos da casta burocrática, que deles se apossou. É preciso lembrar que, no fechamento da Ford, houve passividade e complacência das várias correntes, que se reivindicam do classismo e do socialismo. A burocracia de São Bernardo atacou fisicamente a militância que distribuía o Boletim Nossa Classe, porque defendia a ocupação da Ford e a convocação da assembleia geral dos metalúrgicos, para lutar pelos empregos. Agora, estamos diante de uma situação semelhante.

O Boletim Nossa Classe foi distribuído na segunda-feira, dia 14, que antecede a assembleia de amanhã. Nele, defendemos a total rejeição ao acordo de demissão. Levantamos as bandeiras: redução da jornada sem redução dos salários, para manter todos os empregos; estabilidade no emprego; reajuste e aumento dos salários; fim de todas as medidas de flexibilização capitalista do trabalho. Essa é a luta a ser travada, caso contrário, receberemos um novo golpe sobre a classe operária do país. É preciso que os metalúrgicos do ABC defendam os empregos da Volks, e que exijam das centrais sindicais que rompam o isolamento da greve dos Correios e da Embraer. É com a unidade grevista que nos defenderemos das demissões, do desemprego e da miséria.

Abaixo o plano de demissão da Volks!
Fora o acordo traidor da direção burocrática!
Em defesa dos empregos, salários e direitos trabalhistas!