• 10 out 2020

    Política Operária – Massas 621 – Montado o circo eleitoral

Montado o circo eleitoral

A luta pela independência política e organizativa dos explorados

Editorial, Massas 621, 11 de outubro de 2020

As eleições são um importante componente da democracia burguesa. Esse caráter de classe é determinante. Os eleitos e a governabilidade têm a função de administrar o Estado capitalista. Governa-se para a burguesia, embora seja o povo quem elege. E o povo é formado pela maioria explorada e oprimida. Em sua composição, está a classe operária, a classe média urbana e a pequena-burguesia rural. A maioria do povo, portanto, é constituída de pobres e miseráveis.

Uma importante parcela, mais da metade, enfrenta o desemprego e o subemprego. Milhões dependem de programas assistenciais, para não morrer de fome. O mais abrangente é o “Bolsa-Família”. As condições de trabalho têm piorado. Somadas ao desemprego e subemprego, se tem a tendência predominante de agravamento da pobreza e miséria.

Desde 1989, excetuando os golpes de Estado, que, por meio do impeachment, em dezembro de 1992, obrigou Collor de Mello a renunciar, e, em 2016, derrubou o governo de Dilma Rousseff, os presidentes têm sido eleitos. Governadores e prefeitos também são eleitos. Excetuando alguns afastamentos, motivados por escândalos de corrupção, a maioria termina seu mandato. O estado do Rio de Janeiro é exemplar, nesse sentido. Nesse exato momento, o governador foi destituído, e o prefeito concorre ao pleito sub judice.

Novas eleições renovam a esperança na população de que tudo se arranjará. Entram e saem, periodicamente, presidente, governadores e prefeitos, e a vida da maioria explorada, no entanto, caminha de mal a pior.

Constata-se, por outro lado, que os exploradores concentram mais riqueza, e uma camada da classe média alta se torna mais luxuosa. A minoria capitalista, e a estreita faixa de ricos da classe média, se assentam sobre a vasta maioria de pobres e miseráveis. São parasitas do trabalho da multidão que, diariamente, produz nas fábricas, nas oficinas, nos campos, e que permite funcionar o comércio e os serviços. E são algozes da multidão de desempregados e subempregados, que passam todo tipo de necessidade.

É para manter essa minoria parasitária que se elegem novos governantes. Mudam-se os partidos e os nomes, mudam-se aspectos da diretriz econômica, mudam-se as orientações políticas, mas não se mudam a relação de classe entre a minoria exploradora e a maioria explorada, e entre a riqueza concentrada e a pobreza disseminada. Eis por que, inevitavelmente, as eleições são decididas pelo poder econômico da minoria, e não pelo poder de voto da maioria.

Chegado o momento eleitoral, monta-se o circo das candidaturas e das promessas. Não há melhor forma de caçar o voto que a mentira. Mas, não basta ser um acrobata da mentira. É preciso ter os meios para tornar a mentira em verdade, aos olhos da maioria explorada. Meios econômicos, políticos e ideológicos não faltam, para a burguesia ditar o curso das eleições. Não somente o dinheiro decide, apesar de ser o principal ator. Os aparatos dos meios de comunicação, igrejas, ONGs, agentes comunitários, narcotráfico, etc. têm um enorme poder eleitoral sobre as massas. São instrumentos políticos e ideológicos do poder econômico.

Diante das eleições, põem-se a promover os partidos e candidaturas, segundo os interesses gerais das burguesias, bem como os seus próprios. É natural que assim seja, para os partidos orgânicos da burguesia. Mas, não o é, para os partidos de esquerda, que se tornam auxiliares no movimento dos aparatos, que alimentam as ilusões democráticas dos pobres e miseráveis.

Sem um poderoso partido revolucionário, não é possível utilizar taticamente as eleições, com candidaturas próprias, para se opor ao circo eleitoral, combater os partidos da burguesia, expor às massas a estratégia própria de poder, despertá-las para a ação coletiva e desenvolver a consciência de classe do proletariado.

Estas eleições municipais têm a particularidade de ocorrer sob a mortal pandemia, e o avanço da crise econômica. A política burguesa do isolamento social tão somente serviu para justificar as ações como as previstas na MP 936, que permitiram reduzir salários, suspender contratos e impulsionar a flexibilização capitalista do trabalho, bem como a onda de demissões em massa. A capitulação das direções sindicais, dos partidos reformistas e centristas resultou da sujeição à ofensiva do governo e da burguesia contra as massas. Assim, as eleições municipais estão marcadas politicamente pela desorganização da classe operária e demais explorados. O que vem facilitando a arregimentação dos pobres e miseráveis pelos partidos orgânicos da burguesia, inclusive pelos partidos da ultradireita bolsonarista.

A tarefa da vanguarda com consciência de classe em meio às eleições é a de lutar pela independência de classe dos explorados. A defesa do voto nulo, apresentação de um programa de reivindicações, e o chamado à constituição de uma frente única para pôr em pé um movimento de massa, permitem intervir nas eleições com a estratégia própria de poder, que é o governo operário e camponês, expressão governamental da ditadura do proletariado.