• 24 out 2020

    Vacina – Mais uma bárbara disputa interburguesa

Vacina

Mais uma bárbara disputa interburguesa

Editorial, Massas 622, 25 de outubro de 2020

Bolsonaro desautorizou seu ministro da Saúde, Pazuello, de manter o acordo com os governadores de financiar a vacina chinesa Coronavac. Os testes realizados pelo Instituto Butantã e o laboratório Sinovac chegaram à última etapa. Basta que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) os aprove, e se tenham recursos para a aquisição inicial de 46 milhões de doses. Se não fossem os interesses das multinacionais e dos governos imperialistas, esse processo poderia ser concluído e verificado seu valor científico na prática.

Bolsonaro, desde o início da corrida, se definiu pela vacina da farmacêutica AstraZeneca e Universidade de Oxford, da Inglaterra. O governador Doria, de São Paulo, optou pelo Sinovac. De um lado e de outro, se alinharam a Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz) e o Instituto Butantã. As duas instituições estão capacitadas a produzir qualquer uma das vacinas, entre muitas que foram anunciadas, e estão em fase de teste. Há um reconhecimento geral de que o Brasil tem o mais avançado e amplo programa de imunização mundial. O Instituto e a Fundação são dois pilares dessa conquista civilizatória. Agora, diante do vírus mais complexo e mortal, estão divididos pelos interesses políticos do governo e governadores burgueses.

A população tem assistido à mais suja e odiosa disputa entre governos e laboratórios, enquanto a pandemia persiste há sete meses, e indica que pode ter novos surtos mortíferos. Essa conduta política põe ainda mais às claras o quanto o poder econômico dita o curso do enfrentamento à pandemia, em detrimento da proteção dos pobres e miseráveis. As campanhas de difamação de uns contra outros laboratórios e governos, sobre a capacidade e seriedade científica, ocorrem impunemente.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) serviu de caixa de ressonância das disputas, sem que pudesse organizar e coordenar um combate real, unificado e planejado, de acordo com as condições impostas pela pandemia. A guerra comercial dos Estados Unidos contra a China determinou a falência da OMC. Seus reflexos no Brasil se evidenciaram nas disputas políticas entre Bolsonaro e Doria, que acabaram dividindo as autoridades em todo o País.

O criminoso combate de Bolsonaro à vacina da Sinovac é mais um elo da guerra de alinhamento e posições políticas internacionais. A guerra comercial de Trump se faz presente no Brasil, que carrega milhões de contaminados e milhares de mortos. Sem mais nem menos, Bolsonaro desqualificou a vacina chinesa. E tem contado com a Anvisa, que retarda injustificadamente a autorização de importação de insumos para a produção da Coronavac.

Bolsonaro, alinhado a Donald Trump e Boris Jonhson, não admite que a vacina da AstraZeneca-Oxford fique atrás. O adoecimento de um dos voluntários ao teste e a morte de outro retardaram o avanço da vacina inglesa. Bolsonaro conta com a MP 994, que aguarda votação no Congresso Nacional, que privilegia a AstraZeneca e a Fiocruz, simplesmente por alinhamento com os Estados Unidos.

A discussão entre os parlamentares sobre uma forma de facultar recursos para a Sinovac-Butantã não foge à odiosa disputa política. Doria posa de bom samaritano, dizendo em voz lacrimosa que a vacina não tem pátria, que é um bem a serviço da vida, e que a vacina a ser produzida no Butantã é do Brasil. Sim, a vacina tem pátria, aquela que controla a ciência na forma de capital. A concorrência comercial indica que se tem muito a ganhar, ou a perder. O Brasil tem uma avançada indústria de vacina, inclusive passou a dominar conhecimento e tecnologia, mas continua a depender das multinacionais. É o que se observa, na corrida entre poderosos laboratórios. Os interesses econômicos e políticos das potências estão claramente refletidos nos alinhamentos internos do País.

Assistimos Bolsonaro e Doria a se digladiarem em torno à política burguesa do isolamento social. O poder econômico deu a palavra final em poucos meses, acabando com a quarentena (permanecem resquícios na educação). Logo mais, darão um jeito de arrefecer a “guerra das vacinas”. Mas, um só dia que retarde o início da vacinação resulta em centenas de mortes. Os governadores pensam em criar um fundo, caso Bolsonaro persista em manter seu veto ao acordo negociado pelo ministro-general Pazuello.

Assim se passa, porque a classe operária foi amarrada pelas direções sindicais por detrás da política burguesa do isolamento social. Uma clara posição em favor da vacinação, o mais urgente possível, não deve ser desvinculada da luta pelos empregos, salários, direitos e saúde pública. O programa de expropriação revolucionária do grande capital, sem dúvida, é a resposta consequente do proletariado. Para isso, é preciso se libertar da dominação burguesa, e conquistar a independência política, por meio de suas organizações coletivas e de seu partido revolucionário. É com esse objetivo que o POR em construção combate a política burguesa do isolamento social, que agora tem seu desfecho na “guerra das vacinas”. “Abaixo a “guerra das vacinas”! Que as centrais e sindicatos convoquem manifestações em defesa da saúde da população, dos empregos e dos salários.