• 05 dez 2020

    O que os trabalhadores têm pela frente

O que os trabalhadores têm pela frente

Massa 625, Editorial, 6 de dezembro de 2020

Nem bem as eleições foram concluídas, o noticiário retomou os tétricos números da pandemia. A contaminação continua fora de controle. As mortes diárias se mantêm em altos patamares. Os leitos e UTIs voltaram a ser preenchidos. O governo de São Paulo anunciou a volta de ações destinadas ao isolamento social. O prefeito reeleito, Bruno Covas, fez um discurso de posse contra o “negacionismo”. O ministro da Saúde, general Pazuello, avaliou que não há com o que se preocupar. A posição de Bolsonaro é a de que não permitirá retroceder da normalidade. Covas se arrependeu do que disse, e procurou se reconciliar com Bolsonaro. Esses foram os primeiros dias do pós-eleições.

Os explorados, pobres e miseráveis, foram arrastados pela política burguesa, sem ter a mínima noção de que suas condições de existência vão piorar, em vez de melhorar. O reformistas e centristas, que foram arrasados eleitoralmente, se encontram presos à camisa de força das desavenças dos governantes, serviçais do grande capital. Acompanhando e refletindo as brutais consequências econômicas e sociais, as direções sindicais seguem passivas, e voltadas a manter a classe operária desorganizada, temerosa e acantonada. Ressentiram-se da derrocada do PT, que comanda boa parte dos sindicatos, e a mais importante central, que é a CUT.

Em meio à pandemia, a burocracia sindical, de todas as vertentes políticas, se dispôs a colaborar com a diretriz governamental, que determinou um plano emergencial claramente antioperário e antipopular. Agiram como agentes do patronato, na aplicação da MP 936. Assim, a maioria oprimida entrou e saiu das eleições, carregando o pesado fardo das demissões, das perdas salariais e da quebra de direitos trabalhistas. Saiu das eleições desorganizada e desmobilizada, diante da marcha da crise econômica, que continuará no próximo ano a destruir postos de trabalho, a sustentar bem no alto o desemprego, o subemprego, a miséria e a fome. E, por algum tempo ainda, será a principal vítima da pandemia.

A guerra da vacina entre Bolsonaro e governadores, entre os laboratórios e entre as potências capazes de produzí-la, evidencia a lei econômica de que sempre os interesses dos capitalistas estarão acima das necessidades da maioria explorada. Os bandos de abutres armaram uma guerra comercial em torno à vacina, em disputa pela maior lucratividade. Aproveitam a inércia das massas e a colaboração de suas direções, para imporem condições à esmagadora maioria dos países de economia atrasada e semicolonial. E seus governos títeres, como os do Brasil, se sujeitam à bárbara guerra comercial e disputas estratégicas pelo mercado mundial.

Vimos e vemos que não há como desvincular os efeitos sanitários da pandemia dos efeitos de ordem econômica e social. Em outras palavras, entre a doença, o desemprego, o salário e a miséria. Os credores da dívida pública, internos e externos, perseguem um único objetivo: manter o saque do Tesouro Nacional. O argumento, agora, é o de que os gastos com a pandemia exigem reativar o plano de privatização, e pôr na ordem do dia as contrarreformas, a começar pela reforma administrtiva.

A burguesia não aceita aumentar a carga tributária acima do que seja possível transferir para as massas consumidoras. A orientação é concentrar as ações no leilão dos Correios, Eletrobrás, Petrobrás, etc. O ataque ao funcionalismo é parte desse plano. É preciso ainda ter claro que se avançará a terceirização nas modalidades de trabalho online.

O processo de precarização das condições de trabalho sofrerá um salto, caso a classe operária e demais explorados não reajam prontamente. A elevação dos preços da cesta-básica e da tarifa de energia elétrica atingirão mais duramente ainda a vida dos trabalhadores. O fim do auxílio emergencial, de míseros R$ 300,00, golpeará milhões, que vivem abaixo da pobreza absoluta. São os efeitos perversos do capitalismo em decomposição, baseado na extrema concentração de riqueza, de um lado, e expansão da pobreza, de outro.

A vanguarda com consciência de classe tem pela frente a tarefa de retomar o combate em duas frentes: contra os ataques do governo e da burguesia; e contra a política de conciliação de classes dos partidos reformistas e das burocracias sindicais.

O Partido Operário Revolucionário chama os trabalhadores a exigirem que os sindicatos, as centrais sindicais e os movimentos rompam com a política de colaboração com os exploradores, e iniciem imediatamente a organização da luta nacional pelos empregos, salários, direitos e saúde pública; pelo fim das privatizações e pela reestatização das já privatizadas; pela derrubada das contrarreformas; pelo não pagamento da dívida externa.

Diante do desemprego massivo, a resposta operária é redução da jornada sem redução dos salários, estabilidade no emprego e escala móvel das horas de trabalho; constituir comitês de empregados e desempregados.

Diante da alta do custo de vida, reposição de todas as perdas salariais, salário mínimo vital e escala móvel de reajuste.

Diante do parasitismo financeiro e do saque imperialista, estatização e nacionalização, sob o controle operário.

Essa plataforma de reivindicações permite organizar um movimento unitário em todo o país, contra o avanço da fome e miséria, e rechaçar os novos ataques do governo e da burguesia. Basta que os sindicatos, centrais e movimentos convoquem assembleias e impulsem a organização independente, para que se reinicie o movimento de resistência dos explorados. O POR coloca para os explorados, não apenas a necessidade de se defenderem, mas também de marcharem pelo fim do capitalismo, lutando sob a bandeira do governo operário e camponês, ditadura e revolução proletárias.