• 07 jan 2021

    Sintoma do agravamento da crise nos Estados Unidos

Declaração do Partido Operário Revolucionário (POR)

Sintoma do agravamento da crise nos Estados Unidos

7 de janeiro de 2021

A invasão do Congresso por centenas de apoiadores de Trump, objetivando impedir a certificação da vitória de Biden, indicou a gravidade da crise social e política estadunidense. Após horas de ocupação, mortes, dezenas de prisões e negociações, os manifestantes recuaram e se realizou a sessão conjunta das Câmaras, para confirmar a vitória de Biden.

Assombrou a displicência da polícia federal em não resistir à invasão e, em grande parte, facilitar o rompimento do cerco policial. A conivência das forças de segurança convergiu, dessa forma, com a política de Donald Trump de insuflar e convocar as organizações direitistas e supremacistas brancas a defenderem o seu governo.

A maioria dos republicanos e dos democratas condenou a invasão, como um “ataque à democracia”. Mesmo assim, Trump e seus sequazes no Parlamento declararam que o fato demonstrava a necessidade de uma auditoria das eleições.

As imagens da invasão – das mortes (uma manifestante morreu atingida pelas forças de segurança do Congresso, e outros três enquanto recebiam atenção médica), dos gases espalhados por todo o prédio, congressistas fugindo e seguranças de armas em punho – impressionaram por transformar a principal instituição da política burguesa imperialista em uma praça de guerra. Em particular, pôs de relevo a existência das tendências fascistizantes, que vêm ganhando projeção na política burguesa e nas relações entre as classes nos EUA.

A explosão da crise capitalista nos Estados Unidos, em 2008, indicou o agravamento das contradições sociais mundiais. A elevação de Trump ao comando do mais importante pilar da política imperialista evidenciou a potenciação das forças burguesas e pequeno-burguesas nacionalistas ditatoriais; bem como o agravamento da opressão social e nacional, como única via dos monopólios para manterem seus lucros.

O avanço da guerra comercial e do intervencionismo sobre as semicolônias demostra que não há como resolver o esgotamento da divisão do mundo, surgido do pós-Segunda Guerra Mundial, sem impor uma nova partilha. A violência policial contra as massas negras e o crescimento do nacional-chauvinismo branco demonstram, por sua vez, o quanto se avançou a militarização dentro das fronteiras nacionais.

Sobre essa base material e social é que eclodiram as profundas divisões políticas estadunidenses. As mobilizações das massas negras contra o racismo e violência policial confluíram com as greves operárias em defesa dos salários e direitos. O que expressa a revolta instintiva dos explorados e oprimidos contra a desagregação social, econômica e política do regime burguês e a crise estrutural do capitalismo. Também, por sua vez, tomou forma a projeção e crescimento de organizações nacional-chauvinistas, expressão social do desespero da pequena burguesia arruinada e setores operários brancos, diante do inevitável declínio da economia norte-americana.

A eleição e a posse de Trump em janeiro de 2017 compareceram, ilusoriamente, como uma via para superar os impasses do governo democrata, confrontado com a marcha da crise mundial e com os limites de sua estratégia internacional, a que se denominou de multilateralismo. A pandemia agravou a crise interna e mundial. Por uma pequena margem, Trump foi derrotado. A divisão interburguesa, que perpassa o país, não desaparece e nem se arrefece com a vitória de Trump, cuja bandeira de retomada do multilateralismo se encontra esfarrapada.

A resistência de Trump em reconhecer a vitória dos democratas e a tentativa de invalidar as eleições se apoiam em uma imensa camada da classe média, que não vê nos democratas um governo capaz de protegê-la da desintegração econômica. Trump sai do governo sem ter concluído a experiência de seu nacional-chauvinismo. A manifestação de um grupo radical no Parlamento refletiu mais uma ação desesperada do que um movimento da pequena-burguesia descontente com a vitória de Biden. De qualquer modo, o governo de Biden se iniciará com a divisão bem demarcada e manchada de sangue.

A desorganização da classe operária norte-americana e o apodrecimento do sindicalismo burocrático vêm à tona nessas condições. Sem bandeiras, política e estratégia próprias, as massas são arrastadas por trás dos republicanos e democratas, que manejam a vida social do país e os interesses imperialistas dos monopólios e do capital financeiro. Não se pode perder de vista que as contradições econômicas da maior potência e a decomposição crescente de sua democracia se refletem em todo o mundo, na forma da guerra comercial, intervencionismo militar, cercos econômicos, imposição de planos antinacionais e intensificação da exploração do trabalho e saque de riquezas. Os explorados não encontrarão nenhuma saída, seja com o governo democrata, seja republicano. A luta de classes passará a ter cada vez mais projeção. Um passo que se dê na construção do partido marxista-leninista-trotskista nos Estados Unidos pesa na balança da vanguarda com consciência de classe, que luta pela superação da crise mundial de direção revolucionária.