• 23 jan 2021

    Rejeitar o desvio do caminho

Rejeitar o desvio do caminho

Que as centrais, sindicatos e movimentos organizem a luta pelo emprego, salário e saúde pública

Que se coloquem pela estatização, sem indenização, ocupação e controle operário da Ford

Massas 627,  Editorial, 24 de janeiro de 2021

O fechamento da Ford obrigou as direções sindicais a descruzarem os braços. Os burocratas tiveram de convocar as assembleias presenciais, montarem vigília na porta das fábricas, fazerem protestos, acionarem parlamentares, e prometerem união contra o desemprego.

Esse contundente acontecimento se seguiu ao fechamento de uma planta da Mercedes, no interior de São Paulo. Outros anúncios de fechamento de unidades fabris, a exemplo da 3M do Brasil e da Yoki, acenderam mais luzes vermelhas. Bastam esses casos, para se constatar o processo de desintegração econômica pelo qual passa o Brasil. Mas, a situação é muito mais grave. Estudos indicam que, desde 2015, 17 fábricas foram encerradas por dia, somando 36,6 mil. Somente em 2020, 5,5 mil fábricas foram extintas.

A quebra industrial eleva o desemprego, e potencia o subemprego. Reflete a regressão da economia nacional, em um quadro mundial de destruição maciça de forças produtivas. O que resulta em mutilação da força de trabalho. Segundo cálculos do Dieese, somente a desativação da Ford no Brasil resultará em mais de 118 mil demissões, diretas e indiretas. Assim, se incha o exército de desempregados e subempregados, que, desde 2014, vem crescendo incessantemente. Entre outros motivos, a média da renda dos trabalhadores tem caído. Eis por que avançam a pobreza e a miséria dos explorados. Milhões de jovens não veem possibilidade de emprego. São empurrados para o subemprego.

O capitalismo em desintegração já não pode desenvolver as forças produtivas. A regressão industrial expressa a contradição entre as forças produtivas avançadas e as relações capitalistas de produção. Chegou-se, em escala mundial, a um excesso de capacidade produtiva, sem um mercado correspondente, que se estreita mais e mais, devido à exploração do trabalho, à crescente concentração de riqueza e, portanto, à regressão do desenvolvimento social. A crise na indústria automobilística não é exceção, embora tenha maior destaque. No Brasil, a capacidade instalada é de 5 milhões de unidades, hoje, movimenta apenas metade dessa potencialidade. Os planos desenvolvimentistas do passado, como se vê, esbarram nas leis econômicas do capitalismo. Muito recurso estatal foi canalizado para o setor automobilístico, na crença de que, por esse caminho, se asseguraria o desenvolvimento nacional e, com ele, o desenvolvimento social.

Os saltos à frente em determinados setores monopolistas – o mais expressivo foi o automotivo – aumentaram a concentração de riqueza em um polo, e de pobreza das massas em outro. Provocaram grandes desequilíbrios no desenvolvimento geral das forças produtivas nacionais. Basta verificar a composição histórica da gigantesca dívida pública, para se ver o quanto os monopólios e o capital financeiro saquearam recursos e acabaram por levantar poderosas travas ao desenvolvimento econômico e social do Brasil. O fechamento da Ford assenta um marco da regressão das forças produtivas nacionais e, em particular, da indústria automotiva.

As direções sindicais se viram forçadas a romper a sua longa quarentena, para mostrar que algo deveria ser feito, diante do tamanho ataque da Ford à classe operária e à economia brasileira. Começaram, porém, traçando um caminho que desvia a resistência dos metalúrgicos e do proletariado como um todo. Condicionaram as assembleias à espera de abertura de negociações com a montadora. Apresentaram como perspectiva a obtenção de um acordo indenizatório. Montaram uma vigília na porta das fábricas, que pouco ou nada pode fazer. E armaram uma campanha publicitária em torno à desindustrialização, à necessidade de um plano abstrato de desenvolvimento nacional, ao pedido de atenção das autoridades governamentais, e à crítica parlamentar ao governo Bolsonaro. Essas respostas derrotistas amorteceram o impacto do comunicado da Ford sobre a decisão de deixar o Brasil, não importando o rastro de demissões.

O agravamento da pandemia, o quadro de barbárie do Amazonas, e o início fraudulento da vacinação encobriram a débil resistência dos metalúrgicos. Agora, a Frente Brasil Popular (PT) e a Frente Povo Sem Medo (PSOL) saíram das catacumbas, para reabrir a temporada pelo impeachment de Bolsonaro, começando com uma carreata, bem ao gosto da pequena-burguesia.

O Partido Operário Revolucionário chama os trabalhadores, a juventude oprimida e a vanguarda com consciência de classe a rechaçarem esse desvio, montado pela burocracia sindical e direções reformistas. A tarefa do momento é a de organizar um movimento nacional em torno à estatização da Ford, sem indenização, ocupação das fábricas e controle operário da produção. Exigir do governo Bolsonaro e dos governadores a estatização é a melhor forma de mostrar, pela experiência, que são, antes de tudo, burgueses, independentemente de suas orientações políticas do momento. É a melhor forma para mostrar ao proletariado e demais explorados que os governos burgueses são serviçais do imperialismo, das multinacionais e do capital financeiro. A defesa da ocupação da fábrica e do controle operário é o método de luta colocado objetivamente pela situação, e a condição para unir a classe operária em defesa da estatização das fábricas fechadas, contra as demissões e pelos empregos.