• 03 abr 2021

    Recuperar as forças do movimento operário e popular

Recuperar as forças do movimento operário e popular

Massas 633, editorial, 4 de abril de 2021

Está claro que a pandemia vai se prolongar durante este ano. O fato de ter resistido por doze meses, sem que os governantes tomassem medidas efetivas para controlá-la, indica que provocará ainda muitas mortes, e continuará sendo um fator de grande peso na crise econômica. Por mais que o grande capital – banqueiros, investidores, industriais e comerciantes – pressione para que Bolsonaro e governadores cheguem a um acordo sobre medidas de contenção da pandemia, não há como superar as divisões. Além disso, é muito tarde, uma vez que a contaminação se alastrou por todo o país, penetrou profundamente na população, e segue seu curso, com mutações e se tornando mais letal. Rapidamente, poderá ultrapassar 400 mil mortos.

As medidas parciais e locais de isolamento social apenas diminuem um pouco a velocidade da contaminação, mas não a derrubam sensivelmente. O prolongamento temporal da pandemia empurra, mês a mês, a economia para trás, e agrava as condições estruturais de pobreza e miséria das massas trabalhadoras. A vacinação se vem realizando, mas sua lentidão não alcança a velocidade da contaminação, do esgotamento do sistema de saúde e das mortes. Chegou-se ao ponto extremo de faltar, nos hospitais, remédios e oxigênio para o funcionamento das UTIs.

O Brasil acabou por ocupar o epicentro da crise sanitária, antes ostentado pelos Estados Unidos. Sua condição de país de economia capitalista atrasado, e de manter grande parte da população sobrevivendo na pobreza e miséria, dão a dimensão da falência histórica da burguesia. Seus governantes se mostram incapazes de utilizar todos os recursos, para conter o vírus e proteger a maioria oprimida. Essa incapacidade se deve à subserviência dos governantes aos monopólios e aos credores da dívida pública.

O programa de emergência, acordado entre governo federal e Congresso Nacional, atendeu aos interesses do grande capital e, em bem menor escala, dos pequenos e médios capitalistas. Não cobriu as necessidades básicas da população pobre e miserável; não evitou a onda de demissões, e a elevação do desemprego a um patamar jamais visto.

O rebaixamento do auxílio emergencial, de R$ 600,00, para R$ 300,00, e sua extinção, em dezembro de 2020, expuseram um planejamento em completo desacordo com o avanço da pandemia. A elevação da contaminação e mortes, já no mês de janeiro, ocorreu nas condições em que não havia mais o auxílio emergencial, e os capitalistas continuavam destruindo postos de trabalho. A retomada das negociatas de Bolsonaro com o Congresso Nacional concluiu no auxílio emergencial de R$ 150,00, R$ 250,00 ou 375,00, a depender da composição familiar. Será pago em 4 parcelas, a partir de abril. Apesar do auxílio ser tão diminuto, a ele terão direito apenas 45,6 milhões, portanto, 22,6 milhões a menos do contingente que recebeu os R$ 600,00, na primeira metade do ano passado.

Bolsonaro declarou que sentia muito pelo valor tão baixo, mas que era o que o Tesouro Nacional comportava. Essa avaliação foi assumida pelo Congresso Nacional e pelos governadores, que estão na oposição. Entre protege as massas pobres e os credores da dívida pública, Bolsonaro optou pela fome das massas e pelo pagamento dos gigantescos juros aos banqueiros. Nessa decisão, está refletida a falência histórica da burguesia e, consequentemente, de seu Estado.

Caiu a máscara da oposição parlamentar reformista e da burocracia sindical, que foram aos explorados dizer que o auxílio emergencial de R$ 600,00 tinha sido uma vitória contra Bolsonaro. Agora, os colaboracionistas esbravejaram que era muito pouco, mas nada fizeram para organizar um movimento por um auxílio emergencial que correspondesse, pelo menos, aos cálculos do próprio Dieese. Nada tinham a fazer contra o conluio do Congresso Nacional com Bolsonaro, porque organizar a mobilização das massas entraria em choque com a política burguesa do isolamento social. Só restou às direções dos sindicatos e centrais se utilizarem da disposição de parte das multinacionais de “contribuir” com a realização do lockdown do dia 24 de março.

A palavra de ordem das direções sindicais é a de ficar em casa, não realizar manifestações de rua, e não convocar assembleias. Não importa, portanto, se o auxílio emergencial é uma migalha, se o desemprego continua crescendo, e se a fome se alastra. Para os burocratas, o que a classe operária e demais explorados têm de fazer é contribuir com os governantes e os setores da burguesia, que se encarregaram de decretar os isolamentos aqui e ali, evitando greves, manifestações e protestos.

A política de colaboração de classes, nas condições da pandemia e da crise econômica, é uma das maiores traições aos explorados de toda a história social do país.

Os trabalhadores estão esgotados pela prolongada pandemia, pelas demissões, e pelo agigantamento do desemprego. Essa condição objetiva não pode obscurecer a tarefa de trabalhar pela recuperação das forças do movimento operário e popular. O que implica o combate implacável da vanguarda revolucionária à política de conciliação de classes da burocracia e dos reformistas. Continua vigente a defesa de um programa emergencial próprio dos explorados e a organização de uma frente única, baseada na democracia operária e nos métodos da ação direta.