• 05 maio 2021

    Declaração do POR – Um balanço crítico do 1º de Maio

Declaração do Partido Operário Revolucionário

Um balanço crítico do 1º de Maio

5 de maio de 2021

Duas posições opostas se colocaram, diante do Dia Internacional dos Trabalhadores, o 1º de Maio. Uma, que realizou atos presenciais; e outra, por meio de lives.  As centrais sindicais, sem exceção, se limitaram a pronunciamentos virtuais. A CUT, Força Sindical, UGT, CTB, NCST, CSB, Intersindical e CGTB formaram um bloco, em torno à bandeira “1º de Maio pela vida, democracia, emprego, vacina para todos e auxílio emergencial de R$ 600,00”. E a CSP-Conlutas e a Intersindical – instrumento de luta – formaram outro, sob a bandeira “1º do Maio classista, de luta e internacionalista, sem patrões e sem governo”.

No bloco da CUT, participaram partidos como PT, PCdoB, PSOL, PDT, PSB e Solidariedade. Esse bloco contou com a presença de figuras como Lula, Dilma Rousseff, Fernando Henrique Cardoso, Guilherme Boulos, Juliano Medeiros e Ciro Gomes.  É necessário esclarecer que existem duas organizações que se identificam como Intersindical. Eis por que constam nos dois blocos. As duas variantes, no entanto, estão vinculadas ao PSOL. Há que se observar que de fato a posição oficial foi representada pela Intersindical, que optou por se juntar ao bloco da CUT e Força Sindical, tanto é que o presidente do PSOL, Juliano Medeiros, e o ex-candidato a prefeito de São Paulo, Guilherme Boulos, discursaram ao lado de Lula, Fernando Henrique, Ciro Gomes, etc.

Um balanço rigoroso do 1º de Maio, obrigatoriamente, tem de estabelecer um denominador comum, e a diferença entre os dois blocos virtuais. O da CUT e Força Sindical se caracterizou claramente como bloco de conciliação de classes, colocando, lado a lado, homens como Fernando Henrique Cardoso, Ciro Gomes, Lula, Paulinho da Força e Sérgio Nobre. Esse bloco utilizou o 1º de Maio para se apresentar como oposição ao governo Bolsonaro, e para exibir possíveis candidatos oposicionistas às eleições de 2022, ou então constituir uma frente ampla eleitoral. Paulinho da Força e do Solidariedade, logo no início da live, deixou absolutamente claro o sentido da “unidade das centrais sindicais” no 1º de Maio, que é a de “construir uma força para preparar 2022, com a esquerda, com o centro e até com a direita civilizada”. O PT, na voz de sua presidenta, Gleisi Hoffmann, exortou os presentes a colocarem de lado as “diferenças ideológicas para a época da eleição, e trabalhar para tirar o inimigo do país do poder”, evocando a bandeira do impeachment e do “Fora Bolsonaro”.

O Bloco da CSP-Conlutas e Intersindical carregou as tintas no ataque à live da CUT e Força Sindical, no evidente fato de servir ao eleitoralismo e ao frentismo burguês. Nos vários pronunciamentos de sindicalistas e representantes partidários, prevaleceu a bandeira do “Fora Bolsonaro”, ora acrescida de “Fora Mourão”. Não poderiam deixar de ter em comum as denúncias das 400 mil mortes, e da responsabilidade de Bolsonaro pelo genocídio, bem como a reclamação sobre o desemprego e a fome. Nota-se, porém, que a coluna vertebral da live da CSP-Conlutas e Intersindical  foi a da crítica à live da CUT e Força Sindical, e à defesa da bandeira do “Fora Bolsonaro e Mourão”. Em meio a esse discurso, os oradores iam pontilhando com reivindicações do momento, como vacina para todos, auxílio emergencial de no mínimo de R$ 600,00, etc. Em particular, o PSTU referiu-se ao isolamento social, valendo-se da bandeira da “greve geral sanitária”. Os expositores, ao se referirem ao “Fora Bolsonaro”, ocultaram a bandeira do impeachment. Desconheceram que há uma íntima ligação entre impeachment e “Fora Bolsonaro”. Não se pode esquecer de que a CSP-Conlutas assinou o documento frentista com a CUT, Força Sindical, CTB e aliadas, em que tinha por bandeira essas duas formulações. Ao ocultar que o “Fora Bolsonaro” é apenas uma vestimenta do impeachment, sendo que o primeiro é a forma e o segundo o conteúdo, os pronunciamentos de todos os participantes compartilharam o terreno comum do oportunismo.

Como se pode observar, as duas lives têm diferenças, que não podem ser desconhecidas. A principal é que o bloco da CUT e Força Sindical se coloca inteiramente no campo da conciliação de classes; e o bloco CSP-Conlutas e Intersindical, formalmente, rechaça o frentismo burguês. O problema está em que o ataque à composição burguesa do 1º de Maio virtual da CUT e Força Sindical se realizou por meio da crítica oportunista. Em sua base, está a defesa comum do bloco da CUT e Força Sindical e do bloco CSP-Conlutas e Intersindical de que o 1º de Maio, obrigatoriamente, teria de ser virtual, para evitar aglomeração e contaminação.

A utilização da virtualidade em substituição ao método da ação direta, inevitavelmente, colocou os dois blocos no mesmo terreno da dependência das decisões governamentais sobre a pandemia, e suas consequências econômicas e sociais. As contradições em alguns dos pronunciamentos foram visíveis. O representante do PSTU procurou diferenciar a bandeira do “Fora Bolsonaro/Mourão” da do bloco do PT, PCdoB e PSOL, dizendo que se tratava de “derrubar agora Bolsonaro”. O militante do PSOL defendeu uma “ampla mobilização popular pelo Fora Bolsonaro”. O orador da Intersindical afirmou que “a luta é aqui e agora, e não para 2022”. E um franco atirador reconheceu que Bolsonaro “não foi derrubado, porque falta povo na rua”. Deixou de explicar por que não tem povo na rua. Certamente, como todos os demais oradores, tem em mente que o responsável é a Pandemia, e não a política de colaboração de classes do bloco CUT e Força Sindical, que foi tão corretamente denunciado. Está aí por que não se reconhece a responsabilidade das direções da CSP-Conlutas, Intersindical, PSTU e aliados, que se submeteram à política da passividade. Estampou-se a olhos vistos a virtualidade da orientação política, negando assim a convocação de assembleias, organização do 1º de Maio desde as bases e mobilização a fundo por ganhar as ruas. Do ponto de vista verbal, a live do bloco CSP-Conlutas e Intersindical, em suas críticas, esteve no campo da independência de classe. Mas, do ponto de vista real, esteve no mesmo campo da política de colaboração de classes. A crítica que não se traduz em ação prática oculta o oportunismo. A CSP-Conlutas, Intersindical, PSTU, agrupamentos do PSOL e Unidade Sindical (PCB), ou reconhecem que suas críticas foram inofensivas e não rompem com a passividade, ou continuarão no mesmo terreno prático da política de colaboração de classes, que tem bloqueado a luta organizada do proletariado e dos demais trabalhadores.

É previsível que o bloco da CUT, Força Sindical, PT, PCdoB e PSOL vai caminhar a passos largos para as eleições presidenciais, tendo à frente a candidatura de Lula. Toda e qualquer pressão das massas para que as direções rompam a passividade será utilizada para armar a disputa eleitoral. As bandeiras do “Fora Bolsonaro” e impeachment sempre tiveram essa função. As correntes de esquerda que se enfileiraram por detrás delas seguem a estratégia do reformismo, de substituir um governo burguês em decomposição por outro. Não temos dúvida de que essa estratégia condicionou as posições da burocracia sindical, lideradas pela CUT e Força Sindical, diante da Pandemia e das disputas interburguesas entre os governadores e o governo federal. E, por sua vez, as direções da CSP-Conlutas e do PSTU se mostraram incapazes de desenvolver uma linha política oposta à do reformismo, refletindo, sem atenuantes, a política centrista. Eis por que se viram obrigadas a se manter refugiadas no mundo da virtualidade, seguindo os passos e os argumentos da burocracia reformista e direitista, de que ir às ruas era expor as massas à pandemia.

A virtualidade dos dois blocos deixou um vazio político no 1º de Maio, que foi ocupado pela direita bolsonarista. Enquanto as centrais e os vários partidos, do reformismo ao centrismo, seguravam os trabalhadores em casa, a direita levantava cartazes nas ruas, em favor do golpe militar e de caça aos comunistas. A burguesia, há muito, vem utilizando-se das festividades para desfigurar o 1º de Maio como um momento em que os explorados retomam os elos da luta de classes que deu origem ao Dia Internacional dos Trabalhadores. É bom lembrar que, em 1968, em plena ditadura militar, a vanguarda revolucionária rompeu o ato do governador paulista, Abreu Sodré, ocupando a Praça da Sé. Agora, as centrais permitiram que a direita bolsonarista utilizasse o 1º de Maio, que ocorria em meio a uma das maiores crises dos últimos tempos, para defender nas ruas o presidente fascistizante, enquanto os dois blocos discursavam nas lives sobre o “Fora Bolsonaro”.

O 1º de Maio presencial convocado por uma frente de esquerda teve de ser transferido, da Av. Paulista para a Praça da Sé. O governador João Doria a entregou aos bolsonaristas, e interditou a manifestação da frente de esquerda, que não teve força para reagir à decisão antidemocrática e antioperária de Doria. O importante foi que se realizou o 1º de Maio presencial, contraposto ao 1º de Maio das lives, e à intervenção dos bolsonaristas. Em outros estados, como Ceará e Pernambuco, a frente de esquerda também realizou o 1º de Maio presencial. No Ceará, o governador do PT, Camilo Santana, enviou a polícia para dispersar o 1º de Maio. Essa ação reacionária equivale à de Doria, que entregou a Av. Paulista aos bolsonaristas. Embora pequenos e ultraminoritários, os três atos se distinguiram pela defesa da retomada dos métodos da ação direta e do rompimento da passividade.

É obrigatório, no entanto, assinalar no balanço a fragilidade política, que não diz respeito à sua pequena força, mas sim à própria orientação política. O ato da Praça da Sé foi concebido e conduzido pelo PCO, embora fosse convocado também por uma frente de esquerda, impulsionada pelo POR, FOB e LOI. O PCO usou do seu aparato para inviabilizar uma organização de fato frentista. Evidentemente, por estar em melhores condições para a organização do ato, é explicável a hegemonia. O que não é explicável é a exclusão das demais forças na sua organização e definição do conteúdo político, bem como da disciplina revolucionária. O objetivo da convocação do ato presencial não foi comum. Diferença que não pôde ficar bem explicitada. PCO teve como centro de seu 1º de Maio a defesa da candidatura de Lula. E se valeu da festividade para dar um tom flácido ao ato. Festividade que o POR vem combatendo constantemente no 1º de Maio organizado pela burocracia e pelos grupos centristas. A frente de esquerda foi contra o objetivo do PCO e a forma festiva. Defendeu que a tarefa do 1º de Maio era a de levantar o programa de emergência próprio dos trabalhadores e as formas de luta direta. Por aí, se romperia o bloqueio da burocracia sindical, e se recuperariam as forças organizadas da classe operária, para lutar contra a burguesia e seus governos, única via de se defender diante da pandemia e das consequências econômicas.

A estratégia de PCO para o 1º de Maio estava de acordo com a do PT e dos seus aliados. A diferença estava em que a live do bloco CUT e Força Sindical se dirigia a constituir uma frente com partidos da burguesia, em torno à Lula. PCO exortou no 1º de Maio por uma frente de esquerda, sob o comando de Lula, para as eleições. A crítica ao refúgio virtual das centrais e do PT estava em que se perdia a oportunidade do 1º de Maio para se lançar a candidatura de Lula. Essa posição inviabilizou a constituição de uma frente de esquerda que convocasse o 1º de Maio presencial da Praça da Sé. O que ocorreu foi uma intervenção da frente de esquerda, POR, FOB e LOI, no ato controlado pelo PCO. A passeata dessa frente, que saiu do Teatro Municipal à Praça da Sé, e a sua participação organizada, definiram dois 1º de Maio em um mesmo espaço: de um lado, PCO com sua estratégia eleitoral; de outro, a frente de esquerda, com as reivindicações e o método de luta. Em particular, o POR compareceu vinculando o programa de emergência e o método da ação direta com a estratégia revolucionária do governo operário e camponês. O pronunciamento do POR na tribuna do 1º de Maio na Praça da Sé expressou o conteúdo e as bandeiras da frente de esquerda, bem como, em particular, a estratégia própria de poder do proletariado. Há ainda que reconhecer o fato de que o significado do 1º de Maio na Praça da Sé não foi o de lançar a candidatura de Lula. Nesse sentido, PCO fracassou em seu objetivo. O lugar do 1º de Maio na Praça da Sé foi o de se opor e se distinguir dos blocos virtuais, que capitularam diante da pressão da burguesia e dos governantes, para que a classe operária não se levantasse e não se levante contra a sua incapacidade de defender a maioria oprimida, atingida pela Pandemia, e contra a sua política de descarregar a crise econômica sobre as massas.

Esse balanço é dirigido aos explorados e, em especial, à vanguarda, que caminha no sentido da luta revolucionária do proletariado. Neste 1º de Maio, a sua organização presencial preservou os fundamentos programáticos, a tática e a estratégia da classe operária, na forma de resistência à passividade e à colaboração de classes. Aí esteve presente o conteúdo da bandeira do 1º de Maio presencial, operário, socialista e internacionalista.

Abaixo a impostura do 1º de Maio virtual das centrais!

Viva o 1º de Maio presencial da Praça da Sé!