• 15 maio 2021

    Crescem as pressões para que as centrais e sindicatos rompam com a passividade

Crescem as pressões para que as centrais e sindicatos rompam com a passividade

Massas 636, Editorial, 16 de maio de 2021

O imobilismo das centrais e sindicatos se choca com a situação de profunda crise por que passa o País. A pandemia permanece descontrolada. A vacinação caminha lentamente. O número de mortes diárias indica que logo atingirá 500 mil. Bolsonaro persiste em seu ataque ao isolamento social. A sua posição de que “é preciso aprender a conviver com a pandemia” (isto é, com as mortes) vem ganhando força. A flexibilização do isolamento no estado de São Paulo é um sintoma das dificuldades dos governadores de contrariarem os interesses do poder econômico. A chegada da Pfizer acirra a guerra comercial dos monopólios, rivalizando com a Coronavac.

Por outro lado, as demissões superam as contratações. O desemprego saltou para 14,423 milhões (taxa de 14,24%). Os considerados “desalentados”, que cansaram de procurar trabalho, correspondem a 5,952 milhões. Somados os que procuraram empregos e os desalentados, tem-se o trágico número de 20,375 milhões de pessoas. O contingente de “inativos” – assim denominados porque estão em condições de trabalhar, mas permanecem fora da força de trabalho ativa – corresponde a 76,431 milhões de brasileiros. Esses dados estarrecedores são do IBGE, portanto, oficiais. Aí está a fonte do subemprego, da informalidade, da miséria, da fome, das doenças, da mortalidade infantil e da criminalidade.

O gigantesco número de desempregados, subempregados e inativos dá a clara dimensão da contradição entre as forças produtivas e as relações capitalistas de produção, condicionadas pelo desenvolvimento desigual e combinado, típico do país semicolonial. A utilização pelos capitalistas de menos de 50% da força de trabalho nacional expõe o poderoso bloqueio às forças produtivas, exercido pelos monopólios industriais, pelo predomínio latifundiário, pelo controle do comércio por poderosas corporações, pela monumental dívida pública, e pela violenta exploração do trabalho. Essa situação tende a agravar-se, como indica a onda de fechamento de fábricas e negócios.

Os salários, por sua vez, estão contidos e o custo de vida aumenta. O desemprego e as perdas salariais comprimem a economia, e impulsionam a pobreza e a miséria das massas. A inflação pressiona os juros da dívida pública, nas condições em que o Tesouro Nacional se acha esgotado, e o Orçamento se volta contra os recursos da saúde, educação e demais serviços sociais. O miserável auxílio emergencial é um pingo no oceano da fome, ao ponto de as instituições burguesas se aproveitarem para despertar o sentimento de “caridade” na população, e lançarem as campanhas hipócritas e interesseiras de filantropia.

A classe operária e os demais explorados suportam um ano e três meses de contaminação, mortes, demissões, liquidação de direitos e perda da capacidade de compra dos produtos mais necessários. Se não bastasse, a polícia do Rio de Janeiro se deu o luxo de matar 27 jovens na favela do Jacarezinho. Armou-se uma enorme nuvem de fumaça sobre se foi ilegal ou não, se justificada ou não, se os jovens eram de grande periculosidade ou não. Oculta-se o óbvio da ação ditatorial e bárbara do Estado burguês, que recai diariamente sobre os favelados, os pobres e os miseráveis.

Nesse quadro de horror, os sindicatos metalúrgicos de Taubaté (CUT) e de São José dos Campos (CSP-Conlutas) fecharam um acordo de indenização pelo fechamento da LG, Sun Tech, 3C, Blue Tech.  Em seguida, o sindicato metalúrgico de Camaçari (CTB), Bahia, foi pelo mesmo caminho que o da Ford de Taubaté, LG, etc. Milhares de demissões fabris foram feitas aos olhos dos governos, dos partidos e dos dirigentes sindicais.

No Congresso Nacional, a CPI da Covid cumpre o papel de desviar a atenção dos problemas que afligem a maioria oprimida. Os velhos politiqueiros da oligarquia, rodeados de alguns pretensos reformadores da democracia, se desmancham em discursos e polêmicas sobre a montanha de cadáveres, do desemprego e da fome. Bolsonaro encolhe os ombros, e continua a ameaçar com decretos pelo “direito de ir e vir dos brasileiros”.

A Câmara dos Deputados aprovou a substituição da Lei de Segurança Nacional pela Lei do Estado Democrático, que de democrático não tem nada. Agorinha, descobriu-se que Bolsonaro e parlamentares do Centrão montaram um Orçamento paralelo e clandestino de R$ 3 bilhões, que serviu para o governo comprar apoio do Legislativo. O procurador-geral da República, Augusto Aras, declarou-se contra investigar a primeira-dama, Michelle Bolsonaro, envolvida no escândalo das “rachadinhas”, montada por Flávio Bolsonaro e Fabrício Queiroz. Michel Temer foi absolvido de crimes que se passaram às vistas da nação. E os sindicatos da burguesia ruralista anunciaram atos no dia 15 de maio em todo o país, para defender Bolsonaro, atacar o STF e exigir o fim da política de isolamento social dos governadores.

É nesse marco que as centrais se negaram a convocar o 1º de Maio presencial, dando continuidade à passividade e à desorganização dos explorados. Os bolsonaristas aproveitaram e tomaram conta das ruas. A questão é até quando a burocracia venal se valerá da pandemia para conter a luta do proletariado. Nota-se que cresce a pressão em suas bases, para que deixem de amordaçar os sindicatos e de cumprir o papel auxiliar dos governadores, incapazes de enfrentar a direita bolsonarista.

A bandeira de que a centrais convoquem um Dia Nacional de Luta, com paralisações e manifestações é a via para alertar os explorados de que a passividade é um veneno, e não a proteção de suas vidas. O POR convoca a vanguarda com consciência de classe a lutar para que os explorados recuperem suas forças sociais organizadas.