• 12 jun 2021

    É preciso romper a passividade dos sindicatos

É preciso romper a passividade dos sindicatos

O peso dos fardos arqueia a espinha dorsal dos explorados!

Massas 639, Editorial – 13 de junho de 2021

A manifestação massiva de 29 de maio ergueu um marco de ruptura no longo período de inércia sob a vergasta da Pandemia. As direções sindicais e políticas, responsáveis pelo desmonte do movimento de massa, desde a suspensão do Dia Nacional de Luta, que se realizaria em 18 de março de 2020, foram obrigadas a dar vazão ao enorme descontentamento acumulado no seio da maioria oprimida. Surpreendidas pela afluência de milhares de manifestantes, se viram na contingência de relevar as divergências internas, e convocaram mais um dia de mobilização para 19 de junho. Por baixo do pano, no entanto, as direções mais importantes, tendo à frente a da CUT, resistem em ampliar as ocupações das ruas, e potencializar os protestos contra a situação caótica, marcada pela persistência da Pandemia.

Os explorados se encontram arqueaados, de tanto carregar o peso da contaminação, dos hospitais abarrotados, das filas à espera de tratamento, da lenta vacinação, das mortes diariamente elevadas, do miserável auxílio emergencial, do desemprego, subemprego, miséria e fome. Não bastando esses fardos, a alta do custo de vida dificulta ainda mais a compra dos alimentos, do gás e o pagamento das contas de luz, água e aluguel. Também, não poderiam faltar as violentas incursões policiais nos bairros empobrecidos e favelas miseráveis, resultando em aumento das mortes.

A combinação desses fatores sanitários, econômicos e sociais deriva de uma situação pregressa, de acentuado empobrecimento da família trabalhadora, principalmente com a recessão de 2015-16, e com baixíssimo crescimento econômico do país nos anos seguintes. No abreviado segundo governo de Dilma Rousseff, as tendências desintegradoras da economia se ergueram poderosamente. Retrocederam o pouco de realizações assistenciais dos três mandatos anteriores do PT. Sob o governo golpista de Temer, se impulsionaram as contrarreformas antipopulares, começando pela trabalhista. O governo de Bolsonaro – cuja eleição foi amparada pela desagregação do governo petista, pelo movimento do impeachment, e pela retomada do controle direto da presidência República pelas oligarquias – deu sequência aos ataques da burguesia à maioria oprimida, impondo a reforma da Previdência.

O período de reação política e de agravamento das condições de existência das massas trabalhadoras se prolongou, sem que a classe operária pudesse contar com os seus sindicatos. Em vez de as direções firmarem as reivindicações dos assalariados, cederam à flexibilização capitalista do trabalho. Engavetaram a defesa dos salários e dos empregos, adotando os acordos de demissão (PDVs), de congelamento ou redução salarial (PLR, lay-off, banco de horas, férias coletivas), e colaboraram para a implantação da terceirização. Na Pandemia, aceitaram a redução salarial e a suspensão do contrato de trabalho. Colocaram-se sob o teto do miserável auxílio emergencial de R$ 600,00, e nada fizeram quando Bolsonaro e o Congresso Nacional reduziram-no à metade, e depois a pó de traque. Diante do fechamento de fábricas e demissões em massa, as direções sindicais e políticas se limitaram a negociar indenizações.

Durante um ano e três meses, as direções contribuíram decisivamente para manter o proletariado e demais explorados na passividade. O governo Bolsonaro pôde tranquilamente se orientar pelo “negacionismo”, sabotar as limitadas medidas de isolamento social, travar a aquisição das vacinas, reduzir o auxílio emergencial, e promover as privatizações.

Não seria a política dos governadores a arrancar as pedras bolsonaristas, colocadas no caminho do enfrentamento à Pandemia. Os opositores aos desmandos de Bolsonaro não poderiam ir além do que o poder econômico permitia, e o Congresso Nacional bolsonarizado admitia. Neutralizada a força social da classe operária, os governantes podiam se bater entre si, sem que resultasse na contenção da Pandemia e na proteção dos pobres e miseráveis. O Brasil aproxima-se dos 500 mil mortos. O desemprego atingiu uma marca histórica. Milhões subiram na escala da força trabalho subutilizada. A miséria e fome deram um salto à frente. E os sindicatos ainda continuam travados.

A manifestação que quebrou a passividade se limitou às camadas da classe média e da juventude oprimida. Não teve a classe operária como alavanca. Essa ausência indica que a política da passividade ainda impera nos sindicatos operários. As direções sindicais e políticas se viram obrigadas a se deslocar da cômoda posição de apoio à política dos governadores e adaptação ao Congresso Nacional, sem, contudo, mudar a orientação geral, voltada à colaboração de classes.

O problema dos explorados é como se defender, depois de tanto tempo suportando o peso da crise. O problema das direções sindicais burocratizadas é como abrir válvulas de escape que evitem explosões sociais. Os cálculos das direções políticas estão sendo feitos em meio a esses dois problemas interligados. O melhor para elas é abrir válvulas para as camadas da classe média descontente, e manter as do proletariado fechadas.

O governo Bolsonaro está acuado pelo quadro catastrófico. As eleições presidenciais ainda estão distantes; e o impeachment aparece no horizonte como última cartada da burguesia. Prevalece a tese do “desgaste” do governo Bolsonaro; do fortalecimento da candidatura de Lula, e constituição de uma frente ampla antibolsonarista. Quanto mais as direções conseguirem adiar a intervenção da classe operária, e disciplinar a mobilização da pequena-burguesia, melhor para esse cálculo estratégico.

Tudo indica que a manifestação de 19 de junho seguirá a tese do desgaste. O que implica evitar a todo o custo que as massas se levantem por suas reivindicações próprias de emprego, salários e direitos, que devem constar apenas verbalmente nas convocatórias e nos discursos inflamados contra Bolsonaro. As bandeiras de romper a passividade dos sindicatos e lutar por um programa próprio de emergência dos explorados devem ser concentradas e amplamente defendidas pela vanguarda com consciência de classe.