• 26 jul 2021

    Não subordinar as reivindicações dos explorados à estratégia do Fora Bolsonaro e Impeachment

Não subordinar as reivindicações dos explorados à estratégia do Fora Bolsonaro e Impeachment

Somente sob a estratégia de poder da classe operária, é possível combater a miséria e a fome

Massas 643, Editorial, 25 de julho de 2021

Neste dia 24, milhares de trabalhadores e jovens voltam às ruas. Mantêm viva a mobilização que se iniciou em 29 de maio. É o quarto protesto contra o governo Bolsonaro, reconhecidamente, como o principal responsável pela catástrofe causada pela Pandemia. Até mesmo uma fração da burguesia e de seus partidos, passou a qualificá-lo de genocida ou criminoso. Assim ocorreu no momento em que setores da burguesia viram que o bolsonarismo naufragava. Trata-se de uma virada oposicionista, destinada a resolver a crise de governabilidade.

Distintamente, o PT, aliados partidários e boa parte das direções sindicais e dos movimentos populares, já haviam levantado a bandeira do Fora Bolsonaro, que ora se erguia, ora se abaixava, a depender dos ventos da crise política. Essa fórmula propagandística de oposição podia ser preenchida com o impeachment ou eleições presidenciais, também a depender do curso de desintegração do governo Bolsonaro. Como se pode constatar, agora mais nitidamente, trata-se de uma movimentação das forças partidárias, no terreno da política burguesa, anti-bolsonaristas e bolsonaristas.

Os explorados foram crescentemente reconhecendo que esse governo, de fato, era responsável pelo flagelo da Pandemia. Instintivamente, cresceu o ódio entre as massas ao “genocida”. O descontentamento que se generalizou, porém, tem sido canalizado para a bandeira do impeachment, uma vez que as eleições ainda estão distantes. Se Bolsonaro tiver força para barrar, na Câmara dos Deputados, a abertura do processo, mesmo assim, comparecerá nas eleições como um condenado. A candidatura de Lula se afirmou como o maior polo eleitoral oposicionista. O que se tornou um grave problema para a fração burguesa e partidária de centro-direita, encabeçada pelo PSDB.

As massas que vão às ruas estão condicionadas por essa disputa interburguesa, que antecipa a corrida eleitoral. Mas os motivos que as têm posto em movimento são as difíceis condições materiais de existência – desemprego, perda salarial, quebra de direitos trabalhistas, avanço da terceirização e do subemprego.

No horizonte, estão a miséria e a fome endêmicas, que mantêm milhões de brasileiros, ao longo de toda sua vida, na dependência de quirelas assistenciais, que caem da mesa da rica burguesia. Essas são as causas mais visíveis da instabilidade política – também estrutural – e da necessidade dos explorados de ganharem as ruas.

É obrigatório ainda ir às causas menos visíveis. Ou seja, a tendência geral do capitalismo em desintegrar as forças produtivas altamente desenvolvidas, e que já não cabem no marco da propriedade privada dos meios de produção, amplamente concentrada e monopolizada. Ao invés da gigantesca riqueza acumulada, e da potencialidade produtiva alcançada, permitirem diminuir a exploração do trabalho e resolver o problema da pobreza, miséria e fome, bem como o do atraso econômico das semicolônias, os intensificam ainda mais.

A Pandemia pôs à vista as contradições de fundo que se encontram na base econômica mundial, responsáveis pela conservação e avanço da miséria e fome das massas. As particularidades da crise no Brasil, agravada pela política do governo Bolsonaro, são refrações do que se passa em escala mundial. Nem no Brasil, nem em lugar algum do mundo, haverá governo capaz de reverter as tendências de desintegração das forças produtivas, das quais faz parte a força de trabalho. O reformismo tudo faz para ludibriar os explorados, acenando com um novo governo, e uma política voltada ao crescimento, à abertura de postos de trabalho e à distribuição de renda. Sendo assim, se iria diminuindo a “desigualdade social”, e equacionando a chaga da fome. Essa é a promessa feita pela direção política e sindical da “Campanha do Fora Bolsonaro”.

O instinto de revolta leva as massas a combater Bolsonaro nas ruas, e a direção do movimento coletivo o canaliza para a ilusão de que basta trocar um governo burguês por outro, que se criariam novas condições para atender às necessidades vitais da maioria oprimida. Os trabalhadores e a juventude oprimida, assim, são dissuadidos a não combater por suas reivindicações, e a não se confrontarem com os exploradores e seus governos, e convencidas de que se trata de trocar um governo ruim por um suposto governo bom. Não se trata, segundo essa estratégia, de organizar a classe operária e os demais explorados para impor, a Bolsonaro e à burguesia, as reivindicações imediatas, que de fato as defendam dos horrores da Pandemia, do desemprego, do subemprego, da miséria e da fome. Essas necessidades ficam na dependência da troca de governo. Por essa linha, as massas não devem ir às ruas para impor pela força da luta de classes seu programa próprio, mas sim para auxiliar o PT e seus aliados a realizar a estratégia de poder, que se abriga na bandeira do “Fora Bolsonaro”. Nem de longe pensam na possiblidade de derrubar o governo “genocida” por um levante das massas. Apenas querem o impeachment, agora; e eleições presidenciais, em seguida. A miséria e a fome que esperem por um governo salvador do povo.

Essa linha política é tão nefasta para a luta independente dos explorados, que se voltou – mais claramente na manifestação do dia 3 de julho e, poucos dias antes, na entrega do “Superpedido do Impeachment” ao Congresso Nacional – a ampliar a frente, sem limite de “ideologia”, de “política” e de história pregressa, aos partidos que decidirem aderir ao Fora Bolsonaro.

Ao contrário, a tarefa da vanguarda com consciência de classe se centra na luta por não subordinar as reivindicações dos explorados à estratégia do impeachment. E na luta para que as massas encarnem seu programa de reivindicações, e se guiem pela estratégia revolucionária de poder.