• 04 out 2021

    Pontos do balanço sobre o ato de 2 de outubro

Pontos do balanço sobre o ato de 2 de outubro

  1. A essência do balanço se encontra na capitulação das esquerdas, que se reivindicam do marxismo, diante da estratégia burguesa do Fora Bolsonaro e Impeachment, da tática da frente ampla;
  2. Essa capitulação causou confusão política nas suas bases. O PSOL definiu, no seu 7º Congresso, pela ampliação da frente originária da Campanha Nacional do Fora Bolsonaro, a todos os partidos que se declarem oposição ao governo; ao mesmo tempo, decidiu por não definir uma candidatura própria, para assim negociar com o PT o apoio a Lula. O PSTU está a favor da frente ampla, mas contra a definição do apoio a Lula. Assim, coloca dois tipos de frente: a) a frente ampla pelo impeachment de Bolsonaro; b) a frente de esquerda por uma candidatura de esquerda. PCO é contra a frente ampla, e advoga uma frente de apoio à candidatura de Lula. Essa confusão tática ocorre sob a mesma estratégia do Fora Bolsonaro e impeachment, que, como caracterizamos, objetiva trocar um governo burguês por outro. A experiência durante esse período da Pandemia, em que predominou na maior parte do tempo a política burguesa do isolamento social, e, depois, com a retomada do movimento de rua em maio, tem demonstrado que as correntes de esquerda, que se reivindicam do marxismo, do socialismo e do comunismo, não têm programa. Em resumo, não se organizam sob a estratégia da revolução e ditadura proletárias. Assim, se comportam como aparatos centristas, sem política própria, e seguidistas do reformismo;
  3. Os atos deste 2 de outubro se diferenciam dos atos de 3 de julho, não em essência, mas em grau. Com a apresentação do Superpedido de impeachment, em 30 de junho, armaram-se as condições para a constituição da frente ampla. Agora, os atos ocorreram sob a bandeira da frente ampla anti-Bolsonaro. Vinte partidos se colocaram a seu favor, incluindo, entre eles, PSDB, MDB e DEM. Somente não teve a fisionomia completa da denominada frente suprapartidária – do tipo da campanha das Diretas Já–, porque os convidados de centro-direita ainda se acham cautelosos. As portas lhes foram abertas, porém, para adentrar, querem compartilhar do comando. Isso poderá ocorrer nas manifestações de 15 de novembro. Mesmo assim, os atos contaram com a presença de representantes da política burguesa, como Ciro Gomes, etc.;
  4. O PT, PCdoB, PDT, PSB e Solidariedade estão empenhados na frente ampla. O PT não quer ser identificado como uma força que monopolize a campanha do Fora Bolsonaro e Impeachment. Os demais aliados querem ampliar a frente, para não ficar sob o monopólio do PT, que tem a candidatura de Lula como a mais viável. E o PT sabe que precisa ter ao seu lado esses partidos, e, inclusive, atrair outros de centro-direita, porque a candidatura de Lula deve expressar uma frente ampla;
  5. A manifestação mais importante é a de São Paulo. Por isso, se destaca diante do movimento geral oposicionista. Tem sido nessas manifestações, que todos os problemas políticos aparecem à luz do dia. Até mesmo o seu formato na Av. Paulista tem sido negociado com a Polícia Militar. É bom lembrar a escandalosa participação de PCO no ato 24 de julho, precedido por um acordo entre partidos e a Polícia Militar. Desta vez, não foi diferente, embora não se tenha divulgado que partidos e direções sindicais participaram da reunião. O enquadramento dos carros de som e dos blocos dos respetivos partidos reconhecidos oficialmente se tornou uma norma, depois do ato de 3 de julho. A forma estanque dos aparatos e blocos é típica de movimento institucional e de classe média. A decisão de não se realizar a marcha, da Av. Paulista até a Praça Roosevelt, foi uma concessão à Polícia, e atendeu aos objetivos da frente ampla. Para agravar, as correntes de esquerda colaboraram, em boa medida, com festividades. Não se tratava de um movimento de combate das massas contra o governo, mas de comícios próprios de eleições. Está claro que tem ocorrido uma deformação crescente do ato que deu origem ao movimento, que foi de 29 de maio;
  6. Desta vez, nas manifestações em geral, e, em particular, na manifestação de São Paulo, do PT às correntes de esquerda, houve uma propaganda maior das reivindicações dos explorados, como emprego, salário e direitos. Foi incorporado o impacto da alta do custo de vida. Também se procurou dirigir os discursos contra a reforma administrativa e as privatizações. Em geral, muito se discursou sobre o avanço da fome. É claro que o palavreado, voltado à classe operária e à maioria oprimida, continuou subordinado à estratégia burguesa do impeachment. Jogar a culpa em Bolsonaro não é difícil, principalmente em um quadro de oposição eleitoral, em que predomina a crise social. O difícil é responsabilizar a burguesia e o imperialismo pela catástrofe pela qual passam a economia e as condições de existência dos explorados. As correntes de esquerda procuraram ocultar a incompatibilidade entre a defesa de fato do programa próprio de reivindicações das massas com a estratégia burguesa do Fora Bolsonaro e a tática da frente ampla. A propaganda da greve geral morre nos marcos do movimento pequeno-burguês institucional. Não vai haver nenhuma greve geral, germinada no movimento Fora Bolsonaro e Impeachment. Não por acaso, aqueles que agora procuram incorporar as reivindicações em seus discursos, e falam em greve geral, se negam a defender o único caminho possível, que é o de convocar um Dia Nacional de Luta, com objetivo expresso de combater por uma Carta de Reinvindicações, que una a classe operária e a maioria oprimida contra o governo e os capitalistas. Todos aqueles que se negam a percorrer esse caminho continuam adaptados à Campanha Nacional do Fora Bolsonaro, cujo resultado final mais provável será a disputa eleitoral;
  7. As dificuldades do POR de materializar sua linha se devem, não só ao seu caráter embrionário de construção no seio da classe operária, mas também aos obstáculos que a esquerda centrista levanta, no caminho da luta pela independência de classe dos explorados. A confusão política proveniente do campo centrista se deve à política de seguidismo ao reformismo e às variantes da burocracia sindical, que controlam o movimento. A defesa de um programa e estratégia próprios da classe operária, no interior do movimento pequeno-burguês do Fora Bolsonaro, cada vez mais se distingue do palavreado esquerdista e dos objetivos estratégicos do reformismo. É preciso que a vanguarda com consciência de classe – principalmente a parcela que ainda serve de base ao centrismo esquerdista e ao reformismo – analisar profundamente o significado da frente ampla, e estabelecer um divisor de águas da política do proletariado com todas as variantes da política burguesa. As experiências das várias manifestações, que vêm ocorrendo, desde o final de maio, são taxativas. Não há mais como ocultar que a direção sindical e política da Campanha Nacional do Fora Bolsonaro vem canalizando o ódio das massas ao governo ultradireitista por um governo de conciliação de classes. O POR convoca a vanguarda com consciência de classe, que ainda se acha iludida com as mais diversas tendências centristas, portanto, antimarxistas de fato, a romper com a estratégia burguesa do Fora Bolsonaro, e se colocar pela estratégia do proletariado, que tem por objetivo a constituição de um governo operário e camponês, que se erguerá com a revolução proletária, cedo ou tarde. Os marxistas sabem perfeitamente que estamos mergulhados em uma profunda crise de direção, cujo peso é decisivo para manter no atraso o proletariado, e para dificultar a criação das condições subjetivas da revolução social. O POR, não só se tem empenhado na organização das manifestações, como também no trabalho de orientar a vanguarda revolucionária na luta pela independência de classe dos explorados, que está claramente sendo violada pela política reformista e centrista.

Comitê Central do Partido Operário Revolucionário

3 de outubro de 2021