• 30 out 2021

    Organizar a classe operária para responder à desintegração do capitalismo e à barbárie social

Organizar a classe operária para responder à desintegração do capitalismo e à barbárie social

            Massas 650, editorial, 31 de outubro de 2021

Instituições e órgãos de imprensa da burguesia estão obrigados a expor o flagelo da miséria e da fome. As cenas de famílias disputando dejetos alimentares, e recorrendo a doações de ossos para não morrerem de fome, sensibilizaram a pequena burguesia, e animaram correntes de esquerda a se lembrarem do socialismo, bem como da necessidade de lutar pelos empregos e da existência de tradicionais bandeiras da classe operária. A indignação com o fato de 1% controlar a maior parte da riqueza e com a constatação de que concentrou ainda mais capital, durante a mortífera Pandemia, é justa, mas carregada de hipocrisia. As instituições da burguesia estão também obrigadas a ocultar as raízes da pobreza, miséria e fome, e a desconhecer que a barbárie – em meio a tanta capacidade produtiva e riqueza acumulada – é estrutural, expressa contradições profundas da sociedade de classes, e não tem solução nos marcos do capitalismo.

Não é de hoje, nem resultado da Pandemia, que famílias famintas vão à procura de restos alimentares e ossos. É bom lembrar, neste caso, a “Geografia da Fome”, do médico sanitarista Josué de Castro, que aspirava reformas progressivas para combater essa endemia social. Nunca a burguesia e seus governos foram capazes de erradicar a miséria, que tortura milhões de brasileiros, diariamente. O reformismo foi pródigo em apresentar caminhos e soluções. Mas, o capitalismo da época imperialista e do saque das semicolônias é irreformável. Ou o proletariado toma a frente da maioria oprimida, e marcha contra a propriedade privada dos meios de produção, contra o regime de exploração do trabalho, e contra a ditadura de classe da burguesia, ou a barbárie continua a sacrificar uma parte considerável das massas oprimidas. Ou se organiza para a revolução social, para constituir a ditadura do proletariado contra a minoria dominante, e para transformar o capitalismo em socialismo, ou continuará padecendo da pobreza, miséria e fome.

Essa constatação histórica emerge da realidade objetiva, demonstrada pelos números catastróficos que foram apresentados pelas próprias instituições dos exploradores. E, também, demonstrada pelas tendências gerais de desintegração do capitalismo mundial, cujas refrações nos países semicoloniais são de retrocesso econômico e potenciação da barbárie.

O ponto de partida da autodefesa dos explorados está na organização e unificação da classe operária como força motriz da resistência. Sem uma poderosa resistência das massas, sob a direção do proletariado, não é possível combater as causas da fome, e avançar no sentido de sua erradicação. Ocorre que a classe operária se encontra submetida à política reformista, de conciliação de classes e burocrática.

Segundo indicadores, desde a crise de 2015, foram fechadas 36.600 fábricas, milhões de assalariados foram demitidos, e o desemprego e o subemprego atingiram marcas históricas. A recessão e a tendência estrutural à estagnação das forças produtivas resultam em ampliação da pobreza, miséria e fome.

O que fizeram os sindicatos e os movimentos populares? Adaptaram-se ao curso da crise capitalista, mantendo-se na passividade e no colaboracionismo. Ignoraram o fechamento maciço de fábricas, e se colocaram em uma posição impotente, diante das contrarreformas trabalhista e previdenciária. Sobreveio a Pandemia. O que fizeram as direções? Fecharam as portas dos sindicatos, se refugiaram no mundo virtual, e colaboraram com o governo, o Congresso Nacional e o patronato, na aplicação da MP 936. Os operários da Renault, do Paraná, entraram em greve contra as demissões. Abria-se, assim, o caminho para reativar o movimento operário. O que fizeram os sindicatos e centrais? Assistiram à derrota da luta. A Ford e, em seguida, a LG anunciaram o encerramento de suas fábricas. O que fizeram as direções? Esperaram que os demitidos se cansassem, desistissem de defender os empregos, e aceitassem um acordo de indenização.

Depois de um ano e três meses agarrados no mastro da política burguesa de isolamento social, que implicava garantir que os explorados não se rebelassem nos locais de trabalho, e não fossem às ruas, as direções sindicais e políticas, em 29 de maio, decidiram abrir as portas dos sindicatos e romper a passividade. Reiniciaram as mobilizações de massas, não para lutar por um programa próprio de defesa da vida dos explorados; não para reagir ao desemprego, ao subemprego, à destruição de direitos e ao avanço da fome; não para mobilizar, desde as fábricas, os bairros empobrecidos e miseráveis. Estava colocada, prematuramente, nas ruas, a disputa eleitoral. O “Movimento Nacional pelo Fora Bolsonaro” se erguia como caixa de ressonância pela abertura do processo de impeachment de Bolsonaro, no Congresso Nacional.

O PT, a CUT e aliados justificaram o sentido da remoção do governo ultradireitista, como um meio para constituir um novo governo, que se ocuparia em resolver a calamidade do desemprego, da redução da renda e da projeção da fome, portanto, em reativar a economia. Com essas promessas eleitorais, se desviou a luta por um programa próprio de reivindicações, e se manteve a classe operária desorganizada.

Agora, neste exato momento, a burocracia da Força Sindical quebrou a greve da GM, por aumento real dos salários e proteção dos direitos dos sequelados. As montadoras estão impondo os lay-offs, que são a porta para as demissões futuras, e os PDVs. As recontratações no comércio e serviços, principalmente, se fazem com o rebaixamento salarial, e cresce a informalidade. A inflação saltou para mais de 10%, rompendo de vez com a meta de 3,5%. A alta dos juros (Selic) já não foi tão gradual. A dívida pública parasitária pesa ainda mais contra a retomada do crescimento econômico. Tudo indica que o País estará à borda da recessão no ano que vem.

Bolsonaro abriu uma grande discussão no interior da burguesia, sobre o mísero “Auxílio Brasil” e os precatórios, em um gesto de desespero eleitoral. Ofereceu ao grande capital e ao imperialismo, promover a privatização definitiva da Petrobras e dos Correios. A montagem das candidaturas passa a dominar a situação política. Finalizaram-se os trabalhos da CPI, e nada indica que seus resultados modificarão a correlação de forças no Congresso Nacional, em torno ao impeachment. Se não houver nenhum grave tropeço do governo, a probabilidade do “Movimento Nacional do Fora Bolsonaro” se esvaziar está colocada. Mas, as condições de existência das massas continuarão agravando-se.

Destaca-se no momento a mobilização do funcionalismo, em resposta à contrarreforma administrativa. Todo esforço de unificação nacional é necessário. Para vencer, é preciso ampliar o movimento de massa. A bandeira do POR de convocação pelas centrais de um Dia Nacional de Luta, como parte da preparação da greve geral, está de acordo com as tendências de luta que se desenvolvem à margem do movimento pequeno-burguês e burguês do “Fora Bolsonaro”. A tarefa continua sendo a de organizar a classe operária, como força motriz do movimento de resistência à barbárie, e de combate ao capitalismo e à opressão imperialista.