• 27 nov 2021

    Burguesia e imperialismo, em busca de um novo governo

Burguesia e imperialismo, em busca de um novo governo

É nesse terreno que se trava a luta pela independência política dos explorados

Massas 653, editorial, 28 de novembro de 2021

Os arranjos eleitorais, há muito, vêm sendo montados. Mas, agora, começaram a tomar forma mais definida. Desde o momento em que o Supremo Tribunal Federal (STF) restabeleceu os direitos políticos de Lula, o petista se habilitou como principal adversário de Bolsonaro. Assim, a crise política, que vinha aprofundando-se em meio à Pandemia, tomou a forma antecipada de disputa eleitoral.

Uma importante fração da burguesia – a mais poderosa, porque expressa o capital financeiro – se afastou de Bolsonaro, e não aceitou a possibilidade de recondução de Lula para um terceiro mandato. A solução era e é a de levar os arranjos políticos até a constituição de um candidato denominado de terceira via, que não seria, nem de ultradireita, nem de esquerda. O melhor seria alguém que representasse, no espectro partidário, uma posição de centro-direita. Em resumo, um candidato definidamente liberal, portanto, afeito aos objetivos e interesses da fração burguesa comandada pelo capital financeiro.

Nomes interessados não faltaram. O problema é quem seria capaz de arregimentar votos, e deslocar a polarização entre Lula e Bolsonaro. Os velhos partidos da oligarquia – MDB, PSDB e DEM – se mantêm como fortes aparatos de Estado, mas impossibilitados de apresentar um nome para ganhar as eleições, e substituir Bolsonaro. A providencial ruptura de Sérgio Moro com Bolsonaro e a sua saída traumática do Ministério da Justiça acabaram projetando o ex-juiz, comandante da Operação Lava Jato e carrasco de Lula, na condição de figura da terceira via. Não por acaso, Moro ganhou um posto de assessoria, em uma firma nos Estados Unidos, assim que foi escorraçado do governo que ajudou a eleger.

No mesmo momento em que Bolsonaro estava concluindo seus arranjos com o partido do evangélico Valdemar Costa Neto, o PL, para lançar a sua candidatura, bem como o PSDB se preparava para realizar suas prévias, tendo em disputa três pretendentes, Moro é recebido pela imprensa monopolista como a salvação da terceira via. Não importando que o Podemos, partido a que se filiou, não passasse de uma sigla de aluguel, como foi o PSL, para a eleição de Bolsonaro.

Ao agregar o nome do economista Affonso Celso Pastore, um homem de prestígio entre os liberais, portanto, entre os banqueiros, Moro afirmou seu compromisso de ir adiante com a linha geral ditada pelo imperialismo aos países semicoloniais. A filiação do general da reserva Santos Cruz, uma das primeiras figuras militares a ser defenestrada do governo Bolsonaro, foi um gesto voltado às Forças Armadas, que devem preparar-se para uma possível mudança de presidente.

É bem possível que, se Eduardo Leite vencer as prévias, o que é difícil, o PSDB poderá compor com Moro. Esse objetivo foi expresso pelo peessedebista do Rio Grande do Sul. O ex-ministro da Saúde de Bolsonaro, Mandetta, retirou a sua candidatura, para apoiar Moro. O seu partido DEM está em processo de fusão com o PSL, para formar o partido União Brasil. Embora em ambos partidos existam fieis bolsonaristas, a tendência é de se enfileirar por detrás do “lavajatista” Moro.

Toda essa movimentação está voltada a impedir o retorno de Lula à presidência, o que reascenderia o PT na máquina do Estado. A burguesia norte-americana e, principalmente, os democratas, não têm Lula como um inimigo, embora o petista penda para a social-democracia europeia. Mas, não querem nenhum estorvo à sua diretriz ultraliberal. Está claro que Moro é a peça eleitoral instalada pelo imperialismo norte-americano no processo político brasileiro de substituição de um governo burguês por outro.

É preciso aguardar o resultado das prévias do PSDB, que poderá lançar a candidatura de Doria. Tudo indica, porém, que dificilmente o PSDB, dividido e conflagrado, ascenda ao posto da terceira via. É bem visível que os arranjos das forças capitalistas se concentram em inflar o boneco Moro. Se essa via se afirmar, o mais provável é que os lavajatistas desloquem a ultradireita bolsonarista, e reúnam finalmente toda a oposição burguesa de centro-direita para impedir o retorno do PT à presidência.

Lula lançou sua candidatura no Parlamento Europeu, como palestrante da Conferência de Alto Nível da América Latina, promovida pela social-democracia. É bom lembrar que Lula evitou comparecer em qualquer uma das várias manifestações da Campanha Nacional Fora Bolsonaro e Impeachment. A imprensa monopolista desconheceu a presença de Lula no Parlamento Europeu, uma das instituições do imperialismo. Aproveitou uma entrevista ao jornal El Pais, para pintar o candidato petista como aliado de “ditaduras anacrônicas” da América Latina, principalmente, de Cuba, Venezuela e Nicarágua. Armaram uma campanha sórdida, descontextualizando a resposta de Lula, cuja experiência como governante por dois mandatos comprovou indiscutivelmente ser um adepto contumaz da democracia burguesa.

Esse quadro retrata perfeitamente a nova fase da disputa eleitoral, em que as forças burguesas se movimentam para armar a terceira via. O PT e aliados estão presos nessa teia da política de Estado. E não podem se libertar, porque dela fazem parte. Terão de ir ao encontro de setores da burguesia, para se viabilizar. É nesse sentido que se aventou uma aproximação com o ex-governador de São Paulo (PSDB), Geraldo Alckmin. Uma somatória difícil de realizar. Estabelecida a candidatura da terceira via, Lula se movimentará para concluir alianças.

A “Campanha Nacional Fora Bolsonaro e Impeachment” está esgotada, uma vez que não conseguiu montar a desejada frente ampla. A sua orientação eleitoral em torno a Lula cumpriu a função de oposição pequeno-burguesa ao governo de ultradireita. Daqui para frente, apesar de não estar oficializado o período eleitoral, a luta pela independência da classe operária e dos demais explorados se dará nesse terreno da política burguesa. Trata-se da vanguarda com consciência de classe manter a luta em defesa de um programa, estratégia e tática próprios do proletariado.