• 28 mar 2022

    Carta do POR – Por que a juventude oprimida deve lutar contra a guerra na Ucrânia?

Carta do Partido Operário Revolucionário (POR), da Corrente Proletária Estudantil e da Corrente Proletária na Educação à juventude

Por que a juventude oprimida deve lutar contra a guerra na Ucrânia?

Que posição política e programática tomar?

27 de março de 2022

Estamos muito distantes da Ucrânia. No entanto, política e emocionalmente, a guerra aproximou a população brasileira da tragédia que se abateu sobre a população ucraniana. Mas, através dos meios de comunicação, fomos e estamos sendo levados a ver os estragos materiais e em vidas humanas, como se a responsabilidade fosse somente da Rússia.

Nunca uma guerra de ocupação foi diariamente televisionada e comentada por jornalistas, professores, ex-diplomatas e toda sorte de especialistas. Os Estados Unidos destroçaram o Iraque em duas guerras de intervenção, provocaram um grande caos no Afeganistão, derrubando o governo constituído e colocando um títere em seu lugar. A intervenção militar na Líbia dividiu o país e estraçalhou a sua unidade econômica. No momento em que a Rússia decidiu invadir a Ucrânia, agravaram-se os bombardeios da Arábia Saudita ao Iêmen, sendo que os Estados Unidos sustentam a poderosa coalizão militar saudita. Em nenhum desses casos, a imprensa dedicou tamanha publicidade, como a que está sendo dedicada à guerra da Ucrânia.

Pode-se dizer que a diferença está em que, desta vez, trata-se de uma guerra que envolve potências militares, como os Estados Unidos e a Rússia. De fato, o mundo está diante de uma conflagração no interior da Europa, que tem potencial mais abrangente. Fala-se em perigo de uma terceira guerra mundial, se a OTAN se envolver diretamente no confronto militar. Mas quanto à destruição de vidas e de bens materiais, as guerras de intervenção norte-americanas no Iraque, Afeganistão e Líbia foram devastadoras. Quanto às consequências bárbaras, portanto, todas são condenáveis, por serem guerras de dominação, pelas potências imperialistas, sobre povos débeis. E, também, é preciso reconhecer que essas guerras estão por detrás da guerra na Ucrânia. Isso porque refletem a decomposição do capitalismo e, consequentemente, o agravamento da crise mundial, após a Segunda Guerra.

Outro motivo dos explorados e, em particular, da juventude oprimida, aproximarem-se da longínqua guerra da Ucrânia tem sido a retaliação econômica, desfechada por Biden e sua aliança europeia. A economia mundial, como um todo, já está refletindo seus impactos, na forma de disparada dos preços dos produtos essenciais à população. A classe operária e os demais explorados vão arcar com a alta do custo de vida, do desemprego e subemprego.

Constatamos que os trabalhadores brasileiros se aproximaram da distante Ucrânia pela diária propaganda norte-americana da guerra e por uma de suas consequências, que é o agravamento das condições de vida das massas, que sobrevivem do emprego e do salário. Na imprensa monopolista, somente temos a versão norte-americana sobre a guerra, como se os Estados Unidos fossem amantes da paz e a Rússia, a carniceira.

Esta carta à juventude procura expor e definir uma posição de classe sobre a guerra, ou seja, uma posição proletária, socialista. Por que é preciso uma explicação de classe? Porque a guerra na Ucrânia é mais uma das guerras provocadas pelos interesses econômicos dos capitalistas, e não pela luta dos explorados contra a burguesia e o capitalismo decadente.

Os explorados não devem confundir a guerra de dominação com a guerra de libertação. Os Estados Unidos foram obrigados a recorrerem à guerra de independência contra o colonialismo inglês e à guerra civil pelo fim da escravidão. Foram guerras de libertação, que os explorados do mundo todo tiveram de aprovar e apoiar. Mas, a guerra dos Estados Unidos  contra a libertação anticolonialista dos vietnamitas do norte mostrou que, na condição de potência imperialista, somente podem promover guerras de dominação. Esse é o lugar do governo Biden e da burguesia norte-americana na guerra da Ucrânia.

E qual é o lugar da Rússia? Estaria em posição de potência militar libertadora? Não, absolutamente não encarna uma guerra de libertação. Nesse caso, Estados Unidos e Rússia se igualam? Igualam-se quanto a exercerem a guerra de dominação, mas se diferenciam quanto aos motivos e responsabilidade pela guerra. Essa diferença tem importância tática, para unir a classe operária e os demais oprimidos ucranianos e russos, bem como os explorados europeus como um todo e em todo o mundo, contra a guerra de dominação.

A decisão do governo e da oligarquia burguesa ucranianos, de submeter  o país à OTAN, configurou um cerco militar à Rússia. Eis por que os Estados Unidos, que comandam a OTAN, ordenaram a Zelenski que não aceitasse um acordo de neutralidade da Ucrânia. O que, certamente, implicaria discutir a situação da região separatista de Donbass e da Crimeia. O povo ucraniano se viu, de um lado, diante das pressões do imperialismo ocidental, e, de outro, diante da necessidade da oligarquia russa de conservar seu domínio sobre as ex-repúblicas soviéticas, que se desprenderam da ex-União das Repúblicas Socialistas e  Soviéticas (URSS), que se desintegrou em 1991. Sem uma real independência, a Ucrânia passou a ser joguete da União Europeia e dos Estados Unidos na guerra comercial e na disputa geopolítica com a Rússia, que vem restaurando o capitalismo, do que restou da revolução socialista de Outubro de 1917.

Chamamos a atenção da juventude para o fato de que não é possível compreender as contradições e as particularidades da guerra na Ucrânia, sem identificar suas raízes históricas. A campanha dos Estados Unidos, para convencer a população mundial de que a invasão militar no país vizinho se deve a objetivos expansionistas da Rússia, é grosseiramente falsa. O avanço da OTAN, que começou pelas ex-repúblicas populares do Leste Europeu e adentrou em parte das ex-repúblicas soviéticas, de fato, corresponde ao expansionismo dos Estados Unidos, por cima das fronteiras nacionais, que não ficaram sob o seu controle após o fim da Segunda Guerra Mundial.

A Rússia evidenciou sua fragilidade como potência econômica com o desmoronamento da URSS e a perda de influência sobre importantes ex-repúblicas soviéticas, que se aproximaram das potências ocidentais. Para conservar o seu poder regional, depende de submeter as ex-repúblicas soviéticas à opressão nacional, que é típica da dominação imperialista, embora a Rússia não tenha se tornado exportadora de capital, que caracteriza o imperialismo. Ou os Estados Unidos ordenavam Zelenski a fazer um acordo de neutralidade da Ucrânia, ou a Rússia teria de ir adiante com a ocupação militar. Se a Rússia recuasse no cerco montado em dezembro, a oligarquia burguesa ucraniana e Biden estariam, hoje, acertando o ingresso do país na OTAN.

Diante dessa situação, os explorados e a juventude oprimida devem marchar unidos em defesa do desmantelamento da OTAN, fim das bases militares norte-americanas, revogação das medidas econômico-financeiras de retaliação à Rússia, retirada das tropas russas da Ucrânia, autodeterminação da nação oprimida e integralidade territorial.

Que outro caminho poderia ter sido percorrido, que não fosse o da guerra de dominação? A classe operária, russa e ucraniana, teria de se unir em luta contra a ofensiva do imperialismo e de seu braço armado, a OTAN; e pelo fim da opressão russa sobre as ex-repúblicas soviéticas. Ocorre que a  liquidação da URSS se deu sobre a base do processo de restauração capitalista. As consequências foram significativas do ponto de vista histórico. O imperialismo norte-americano se fortaleceu mundialmente. E pôde ampliar o raio de ação da OTAN, ao ponto de montar um cerco à Rússia, começando pelas ex-repúblicas populares do Leste Europeu Em sentido contrário, a classe operária, responsável pela edificação da URSS, recuou de seu lugar de força motriz da transição do capitalismo ao socialismo. Esse terreno terá de ser recuperado, por meio da luta de classes.

A crise de direção, que se instalou desde a ascensão de Stalin no poder do Estado Operário, chegou ao seu ponto máximo. A classe operária e os demais oprimidos das ex-repúblicas soviéticas e das ex-repúblicas populares se dispersaram e se dividiram sob a política de restauração capitalista, sob o domínio das oligarquias burguesas e sob a projeção do nacionalismo xenofóbico. A classe operária, sem os seus partidos nacionais, como seções do partido mundial, como foi a III Internacional, não tem possibilidade de erguer um programa próprio, embora possa se levantar instintivamente contra a guerra de dominação.

Está aí a explicação do porquê a classe operária não teve como apresentar seu caminho próprio à crise do capitalismo; e não tem podido, agora, diante da guerra na Ucrânia, lutar pela autodeterminação do país, respondendo, ao mesmo tempo, ao cerco imperialista dos Estados Unidos e às ações de dominação nacional da Rússia sobre as ex-repúblicas soviéticas. Essa situação desfavorável à luta do proletariado, para retomar o curso da revolução social e do socialismo, não implica que a sua vanguarda não compreenda o caráter capitalista da guerra de dominação e levante as bandeiras e tarefas. A juventude oprimida, uma vez tendo claro o que se passa, pode e deve tomar uma posição correta diante da guerra da Ucrânia.

Os estudantes voltaram às escolas desorganizados e desorientados, depois de dois anos de pandemia e recesso escolar. As direções dos centros acadêmicos, dos grêmios, dos DCEs e da UNE se mostraram impotentes, diante da tarefa de desenvolver uma luta contra a incapacidade da burguesia de proteger a vida dos mais pobres, miseráveis e famintos. No Brasil, morreram mais de 650 mil, e, no mundo, 6,5 milhões, sendo a imensa maioria de trabalhadores.

O prolongamento da pandemia derrubou a economia mundial, agravando o desemprego, atingindo os salários e impulsionando a fome de milhões. Quando se esperava uma reanimação econômica, sobreveio a guerra da Ucrânia e as violentas medidas de sanções econômico-financeiras, que vão prolongar e aprofundar ainda mais a crise mundial. Em toda a parte, as massas oprimidas terão de reagir, e a juventude está chamada a tomar a frente das lutas. E somente poderão enfrentar os capitalistas e seus governos com organização própria; e respondendo à guerra de dominação e ao desemprego e à miséria.

Esta carta faz parte da campanha internacional do Comitê de Enlace pela Reconstrução da IV Internacional (CERQUI), do qual o POR faz parte, como uma de suas seções. Neste chamado, defendemos que a juventude se coloque pelo fim da guerra, sob as seguintes bandeiras: Desmantelamento da OTAN e das bases militares dos Estados Unidos; Revogação de todas as sanções econômico-financeiras contra a Rússia; Pela retirada das tropas russas; Autodeterminação e integralidade territorial da Ucrânia.

O POR, Corrente Proletária Estudantil e Corrente Proletária na Educação defendem que os CEAs, DCEs e UNE convoquem as assembleias em todos os capi. Com essas medidas, é possível dar passos no sentido da superação da paralisia e desorganização do movimento estudantil.

Juventude oprimida, não fiquemos dissolvidos e passivos, diante da guerra e da barbárie capitalista!

Levantemos as bandeiras da classe operária e dos demais explorados!

Retomemos a luta pelo socialismo, única via para combater as guerras de dominação capitalista.