• 13 jun 2022

    A guerra na Ucrânia e a fome

A guerra na Ucrânia e a fome

A classe operária tem o seu programa de combate, é preciso aplicá-lo!

Massas 666 – editorial, 12 de junho de 2022

Dizem os porta-vozes do imperialismo que a “guerra está empurrando o mundo para a fome generalizada e resolver essa questão é uma obrigação de todos.” Na realidade, não existe “obrigação de todos”. A burguesia é a classe responsável pela guerra e por suas consequências. E, por isso mesmo, não tem como dar solução à mencionada “catástrofe alimentar”.

O capitalismo atingiu um ponto de desenvolvimento das forças produtivas mundiais que o tornou capaz de resolver a miséria e a fome. No entanto, ocorre o contrário. Em vez de caminhar para a sua superação, as agrava. Essa contradição evidencia o caráter estrutural da miséria e da fome no capitalismo.

Segundo informações, 1,6 bilhão de pessoas não se alimentam suficientemente no mundo. E, deste gigantesco contingente, aproximadamente 440 milhões passam fome.

A explicação dos analistas sobre o agravamento das condições de existência das massas, nos últimos anos, se resume à catástrofe sanitária da Covid-19 e, agora, à guerra na Ucrânia. Em um artigo dedicado a essa questão, a revista The Economist concluiu que “Putin não deveria usar a comida como arma”.

Nota-se que a série de dados expostos pelo redator visa, essencialmente, a apoiar os Estados Unidos e a seus aliados europeus. Mas, se se analisar o processo que levou o governo russo a intervir militarmente na Ucrânia, se verá que a reponsabilidade parte do imperialismo, que anteriormente já vinha utilizando-se da OTAN para cercar a ex-União das Repúblicas Socialistas Soviética (URSS), e, em seguida, a Rússia.

Evidentemente, a guerra tem impactado no preço dos combustíveis e dos alimentos, portanto, na vida da maioria oprimida. No caso dos combustíveis, são mais do que visíveis, os efeitos aterradores das sanções econômicas ditadas pelos Estados Unidos à Rússia. Quanto ao preço dos alimentos, a Ucrânia e a Rússia são grandes provedores de grãos e de fertilizantes. O bloqueio do porto de Odessa e as minas espalhadas nas águas do Mar Negro, sem dúvida, reduzem as exportações ucranianas. Mas, parte da elevação dos preços já vinha ocorrendo desde a Pandemia. A guerra tão-somente comparece como um poderoso agravante.

A insuficiência alimentar e a fome, que atingem milhões, sempre acompanhou o capitalismo. A própria The Economist afirma que, antes de se chegar a 1,6 bilhão de famintos, o contingente perfazia 440 milhões. O salto é sensível, mas reflete apenas o agravamento da fome estrutural, originada das contradições econômicas e sociais do capitalismo.

Acontecimentos como o da Covid, guerra, seca, etc. expõem o caráter estrutural da miséria e fome, uma vez que ressalta o estado de barbárie que parecia natural. O salto de 440 milhões para 1,6 bilhão, em pouco tempo, é um indicador de que as contradições do capitalismo em decomposição tendem a sacrificar as massas mundiais, em escala grandiosa e em ritmo incontrolável; e que a burguesia não tem como proteger os explorados diante das constantes catástrofes.

Somente a classe operária e os demais trabalhadores podem tomar em suas próprias mãos a defesa de sua existência e de toda a humanidade. A regressão organizativa sofrida pelo proletariado em todo o mundo – causada pelo seu desarme ideológico e político, principalmente após a Segunda Guerra Mundial, e, mais recentemente, desde a crise da década de 1970, que culminou com a derrocada da URSS em 1991 – se faz presente na forma de crise de direção revolucionária nas atuais condições de impulso da barbárie social.

Os explorados não têm outra via, a não ser recorrer à luta de classes. O seu programa de reivindicações contra a exploração capitalista, a pobreza, a miséria e a fome, há muito elaborado pela sua vanguarda marxista-leninista-trotskista, mantém a sua vigência. Trata-se de aplicá-lo na luta contra a barbárie capitalista. Quanto à guerra, não haverá nenhuma saída progressiva, a depender do imperialismo e da própria política de opressão nacional, exercida pelo governo e pela oligarquia restauracionistas da Rússia.

As poderosas forças produtivas mundiais podem e devem ser colocadas a serviço da eliminação da miséria e fome. Para isso, têm de ser compatibilizadas com o fim da propriedade privada capitalista, e a edificação da propriedade social dos meios de produção e distribuição.

Os profundos retrocessos sofridos pelo movimento revolucionário não anularam e não anulam as condições objetivas da necessidade de retomar o caminho das revoluções proletárias. O enfrentamento à chaga da fome exige, porém, a reconstrução dos partidos leninistas. Exige a reconstrução do Partido Mundial da Revolução Socialista, a IV Internacional.