• 09 jul 2022

    Tudo indica que a previsão de possível recessão mundial pode se confirmar

Tudo indica que a previsão de possível recessão mundial pode se confirmar

Quem paga e sofre são os explorados

Preparar a luta desde já!

Massas 668, Editorial, 10 de julho de 2022

O Fundo Monetário Internacional reduz suas expectativas de crescimento econômico mundial para 2022, e avalia que há possibilidade de recessão em 2023. Significa que as maiores economias, a dos Estados Unidos e as da Europa, terão importantes quedas. As previsões sombrias foram acompanhadas pela derrubada abrupta do preço do petróleo e pelo desalinhamento das moedas diante do dólar.

A inflação que atingiu os Estados Unidos obrigou o Federal Reserve – Banco Central – a aumentar a taxa de juro de 1,5% para 1,75%. O aumento de 0,75% é o maior registrado desde 1994. Essa foi a resposta das autoridades econômicas norte-americanas diante da elevação do índice ao consumidor de 8,61%, acumulado em um ano. Também, nesse caso, ocorreu o maior aumento inflacionário desde 1981%.

A elevação da taxa de juro nos Estados Unidos interfere em todo o mundo. Resulta em aumento das dívidas públicas, principalmente dos países de economia atrasada e semicoloniais. Os altos juros atingem o endividamento da população e os investimentos de setores capitalistas. A Europa se ressente da desaceleração da produção de manufaturas e debilitamento do setor de serviços.

A explosão inflacionária e as medidas fiscais dos Bancos Centrais atingem mais ampla e profundamente as condições de existência das massas. O resultado tem sido a projeção da miséria e da fome mundiais. Está absolutamente confirmado que a guerra na Ucrânia contribuiu em grande medida para antecipar e agravar a crise geral do capitalismo.

As medidas econômico-financeiras impostas pelos Estados Unidos e aliado à Rússia atingiram o sistema petrolífero e de gás, cuja desestabilização está em curso. O fato da Ucrânia e Rússia serem dois grandes exportadores de produtos agrícolas, inevitavelmente, afetou o abastecimento mundial e impulsionou as tendências inflacionárias, que vinham se despontando muito antes da conflagração. O imperialismo, que provocou a guerra atraindo a Ucrânia para aderir à OTAN, certamente, tinha em seus cálculos que se abriria um novo período de destruição de forças produtivas em escala europeia e mundial.

A classe operária começa a abrir os olhos para as consequências imediatas e para o futuro de suas condições de existência. As greves de ferroviários, metroviários e aeroviários deram, na Inglaterra, França e Espanha, os primeiros sinais de resistência. O governo norueguês teve de intervir rapidamente para solucionar a greve dos petroleiros, que, se prolongasse, aumentaria ainda mais os problemas do setor de energia.

Na América Latina é visível o descontentamento e a inquietação dos assalariados e camponeses. O levante dos indígenas no Equador e a greve dos mineiros do Chile também sinalizaram a apreensão geral das massas, acossadas pelo desemprego, subemprego, redução salarial, liquidação de direitos trabalhistas e solapamento das condições elementares de saúde, educação e moradia. A enorme manifestação dos desempregados em Buenos Aires, Argentina, é outro sinal das tendências de combate dos oprimidos que tendem a emergir e a fortalecer a luta de classes das massas sofridas contra os capitalistas, seus governos e o imperialismo.

É nesse marco que a Rússia avançou na conquista de posição militar na região estratégica de Donbass e a OTAN realizou a Cúpula de Madri. Ambos os acontecimentos prenunciam o agravamento da crise mundial. Não haverá um acordo que resulte em pacificação entre os Estados Unidos e a Rússia, e que garanta a autodeterminação da Ucrânia. As decisões da Cúpula de Madri foram precisamente no sentido contrário ao da paz. Conduzem a uma escalada militar que traz à memória a situação de pré-guerra mundial.

Os Estados Unidos vão reforçar ainda mais a presença de sua Forças Armadas na Europa. A OTAN apertará o seu cerco à Rússia, e estenderá o seu raio de ação à Ásia, voltado contra a China. Acertou-se o ingresso da Finlândia e Suécia na organização. Os membros da OTAN ficaram comprometidos a contribuir com 2% do PIB, para reforçar militar e administrativamente esse braço armado montado pelos Estados Unidos, movido pela estratégia da Guerra Fria contra a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). Não bastou desintegrá-la com o inestimável auxílio da burocracia estalinista. Não bastou incentivar e provocar uma enorme divisão entre as ex-repúblicas soviéticas, ao ponto de levar a Rússia a intervir militarmente na Ucrânia.

O imperialismo, movido pela desintegração mundial do capitalismo, precisa tornar a Rússia e a China em suas semicolônias, como são a Índia, Brasil, México e a grande maioria das nações oprimidas e saqueadas. Assim, poderá controlar as imensas riquezas naturais da Rússia e das demais ex-repúblicas soviéticas. Todo o Leste Europeu se transformou em Estados vassalo das potências europeias e dos Estados Unidos. Essa regressão histórica põe à luz do dia as tendências destrutivas do capitalismo esgotado e em declínio, bem como o significado e a importância decisiva da crise mundial de direção do proletariado.

Como chama revolucionária, ergue-se a campanha internacional do Comitê de Enlace pela Reconstrução da IV Internacional (CERQUI). Os acontecimentos estão comprovando o valor e a precisão das bandeiras: fim da guerra, desmantelamento da OTAN e das bases militares dos Estados Unidos na Europa, revogação das medidas econômico-financeira contra a Rússia; autodeterminação, integralidade e retirada das tropas russas da Ucrânia. Sob essas bandeiras, lutar pelo não ingresso da Finlândia e Suécia à OTAN! Somente a classe operária organizada no campo da independência política e unida em torno ao seus próprios interesses e programa pode derrotar a ofensiva militar dos Estados Unidos, de seus aliados e da OTAN. Somente assim, é possível a Ucrânia conquistar seu direito à autodeterminação. Somente com o programa da revolução proletária e da estratégia do internacionalismo marxista é possível vencer a barbárie e reconstituir a transição do capitalismo ao socialismo. Esse deve ser o norte da vanguarda com consciência de classe.