• 07 jul 2021

    Nota do POR – Sobre o conflito com o PSDB e a ação paralela de grupos que se reivindicam do anarquismo

Nota do Partido Operário Revolucionário

Sobre o conflito com o PSDB e a ação paralela de grupos que se reivindicam do anarquismo

6 de julho de 2021

Na Décima Carta aos trabalhadores e à juventude, de 5 de julho, dedicada à avaliação das manifestações de 3 de julho, apenas nos referimos ao conflito entre militantes de PCO e membros do PSDB. Não fizemos referência à ação policial contra os grupos anarquistas. Somente de passagem, assinalamos a questão da presença do PSDB no ato de São Paulo. Esse critério se deveu à intenção de demonstrar particularmente o motivo político de o PSDB se fazer presente na manifestação. Isso por que dizia respeito às características do movimento “Fora Bolsonaro e Impeachment”. A ação dos grupos anarquistas se passou à margem, uma vez que se valeram das manifestações de massa para realizar as ações paralelas e individuais. Eis por que decidimos não incorporá-la no balanço das manifestações na Décima Carta. Ocorre que a grande imprensa aproveitou os dois acontecimentos, como se fossem, de um lado, uma ação antidemocrática contra o PSDB; e, de outro, as ações antidemocráticas dos grupos anarquistas como fazendo parte da manifestação. Em ambos os casos, se deformam os acontecimentos, de maneira a ocultar os reais problemas políticos do dia 3 de julho.

A repercussão jornalística incentivou uma polêmica entre as correntes de esquerda. Até o dia de hoje, 6 de julho, a polêmica não se generalizou. Parece que se circunscreveu, pelo menos por enquanto, ao PSTU e PCO. É necessário separar e não confundir as duas questões. A ação paralela dos grupos anarquistas e a repressão policial não têm a mesma transcendência política que o conflito de PCO com o PSDB.

A crítica do POR às ações paralelas individuais em referência às massas, na Oitava Carta que avalia a manifestação de 19 de junho, criticamos e rejeitamos a ação paralela de grupos, que, inclusive, se aproximaram da Frente Classista e Combativa, com o objetivo de utilizá-la para seus fins próprios, o que implicou uma discussão crítica, e dois agrupamentos se colocaram contra o cumprimento dos acordos definidos democraticamente pela Frente, e, assim, se afastaram. A repressão policial e as prisões foram denunciadas e rechaçadas pela Frente. O POR, como parte da Frente, defendeu a imediata libertação dos presos e o fim de qualquer processo judicial. Resta ainda a libertação de Matheus Machado Xavier. Esse é um dever revolucionário que não impede, como exige, realizar a crítica aos erros e prejuízos políticos causados pelas ações individuais ao movimento das massas.

O PT utilizou o argumento de que poderia ser uma infiltração bolsonarista, e que o governo paulista investigaria. A possibilidade de infiltração existe, como já foi demonstrado em acontecimentos anteriores dessa natureza. Mas não se pode confundir a ação do infiltrado com a dos anarquistas. De maneira que o PT não se colocou pela libertação dos presos, e apoiou a investigação da própria polícia do governador Doria, colocando-se em uma posição francamente reacionária.

O PSTU procurou responder aos ataques dos bolsonaristas, dando a entender que a polícia facilitou inicialmente as depredações para, em seguida, reprimir a manifestação. Não fez a defesa da libertação dos presos. Avaliou, no entanto, que “a repressão foi absolutamente desproporcional e absurda”. Quer dizer que, se fosse proporcional, se justificaria. Condenar o “terrorismo individual”, como sempre fez o marxismo, não significa o mesmo que justificar a repressão policial. O combate aos métodos estranhos à luta de classes do proletariado se dá no terreno político e organizativo.

Passamos à questão da presença do PSDB no ato. PCO não fez senão cumprir o dever elementar do classismo de se opor à presença dos partidos da burguesia que, em última instância, são responsáveis pelo governo de Bolsonaro, mesmo estando na oposição. A crítica do PSTU ao PCO é reacionária. A bandeira de “Fora os partidos da burguesia das manifestações” está plenamente colocada. Na Nona Carta aos trabalhadores e à juventude, o POR denuncia a direção do movimento, por abri-lo à participação de partidos burgueses. No Manifesto, distribuído no dia 3 de julho, se materializa essa bandeira. Eis: “Fora os politiqueiros da burguesia das manifestações dos trabalhadores e da juventude oprimida! Não subordinar a luta dos explorados à aliança burguesa em torno ao impeachment! Pela independência política e organizativa das manifestações”.

A crítica a ser feita ao PCO não é por ter procurado escorraçar os peessedebistas, mas sim por se encontrar subordinado à estratégia e à política que abriram caminho à intervenção dos partidos da burguesia. Essa crítica foi impressa em nossas Cartas e Manifestos, antes de ocorrer o conflito.

O ataque do PSTU ao PCO é mais uma comprovação da justeza da crítica do POR a todas as correntes de esquerda que se abrigam sob a bandeira do “Fora Bolsonaro e Impeachment”.  Em seu comunicado de 5 de julho, a direção do PSTU diz: “O PSDB não estava ´infiltrado´ no ato. Pelo contrário, já havia anunciado que iriam ao protesto”. Faltou completar que a frente ampla do “Superpedido de Impeachment” abriu as fileiras das manifestações para os partidos da burguesia, inclusive a movimentos direitistas, como o MBL. E que a direção do movimento cedeu a tribuna para seus pronunciamentos. É necessário assinalar que o PSTU/CSP-Conlutas assinam o “Superpedido de Impeachment”. A Folha de São Paulo informou que o presidente do diretório estadual do PSDB, Fernando Alfredo, somente não ocupou a tribuna porque havia divergência no diretório. O PSTU, assim, rasgou a máscara do “Fora Bolsonaro”, e expôs o seu real conteúdo, que é o do impeachment. Rechaça o conflito do PCO com o PSDB, defendendo: “Na luta pelo Fora Bolsonaro, ou seja, para se pôr fim a esse governo, que é praticamente um consenso (ou deveria ser) que conta com um projeto autoritário, deve-se contar com todas as forças políticas que se disponham a ir às ruas contra ele. Todos os setores, incluindo a direita democrática-liberal. É o caso, por exemplo, do PSB, que já estava nos atos e passou incólume pela fúria tresloucada do PCO. Não só é uma imbecilidade completa hostilizar o PSDB nas manifestações, como se deve fazer exatamente o contrário: exigir que todos os setores que defendem as liberdades democráticas e o fim desse genocídio participem também”. De repente, o PSDB passou a ser considerado, pelo PSTU, como parte das forças que defendem as “liberdades democráticas”.

Segundo os morenistas do PSTU, essa seria uma política “trotskista” para a “unidade de ação”.  Está claríssimo que tal “unidade de ação” objetiva criar as condições para o impeachment, cujo resultado é substituir um governo burguês ultradireitista por outro, que pode ser de direita, de centro-direita ou de centro-esquerda. Se não for pelo impeachment, o “Fora Bolsonaro” vai concluir nas eleições de 2022. PCO procura voar com uma asa quebrada. De um lado, com a asa do impeachment e eleição de Lula; de outro, sem a asa capaz de combater no terreno do proletariado a presença dos partidos burgueses no movimento do impeachment. É pura ilusão de PCO sobre a possibilidade de erguer um poderoso movimento pelo impeachment, sem que se realize uma ampla aliança da oposição burguesa. É pura fantasia do oportunismo esquerdista acreditar em uma frente puramente de esquerda, liderada pelo PT, para afastar Bolsonaro da presidência pela via do Congresso Nacional, onde se realiza o impeachment. O embate entre o PSTU e PCO se dá sob a mesma estratégia do impeachment, com a diferença tática de que o PSTU defende a frente ampla nas manifestações de rua, e o PCO a frente restrita dos partidos reformistas e de esquerda.

Como se vê, a contradição da política esquerdista e oportunista do PCO se manifestou nesse limitado conflito com o PSDB. E a contradição da política esquerdista e oportunista do PSTU, na descarada defesa de uma aliança, inclusive com a direita liberal, para afastar Bolsonaro do poder.

O POR vem se opondo terminantemente condicionar e canalizar as manifestações para o impeachment e as eleições vindouras. Para isso, tem sido necessário desvendar o conteúdo de classe da bandeira “Fora Bolsonaro”, que tem unido praticamente todas as correntes de esquerda. A mudança de percurso depende da intervenção da classe operária, que permanece como observadora das manifestações tipicamente da pequena burguesia democratizante. As direções sindicais e políticas mantêm o bloqueio nos sindicatos, onde ainda impera a política da passividade, rompida parcialmente em fins de maio, depois de um ano e três meses de Pandemia. O fato de o movimento iniciado em 29 de maio não ter como base o programa de defesa dos empregos, salários e direitos trabalhistas inviabilizou a presença física do proletariado, e favoreceu o desenvolvimento da política burguesa e pequeno-burguesa do “Fora Bolsonaro”, que, finalmente, desaguou no impeachment, no “Superpedido”.

PCO não pode entender e aceitar essa linha, porque caminha cegamente por detrás da candidatura de Lula. O PSTU, por sua vez, também não pode aceitar, porque camuflou o tempo todo sua posição de defesa do impeachment, sob a bandeira do “Fora Bolsonaro e Mourão”. As correntes, que se negaram e se negam a se constituir como programa revolucionário, não podem guiar sua política diária pela estratégia da revolução e ditadura proletárias. Estão obrigadas a se comportar como esquerda ou ultraesquerda do democratismo pequeno-burguês. Quando se veem diante de uma crise política tão profunda, caminham em ziguezague, ora pela esquerda, ora pela direita.

Na Décima Carta do POR, fazemos um chamado às correntes que se reivindicam do socialismo a romperem com a estratégia do PT e com sua aliança burguesa materializada na bandeira do “Fora Bolsonaro e Impeachment”. Chamamos para que integrem a Frente Classista e Combativa, em defesa do programa de reivindicações dos explorados, do método da ação direta e da organização independente dos explorados, diante de todas as variantes da política burguesa.