• 09 dez 2022

    A farsa de Biden sobre a paz

A farsa de Biden sobre a paz

Somente a classe operária mobilizada e unida pode dar um fim à guerra de dominação

Editorial, Massas 679, 11 de dezembro de 2022

Diante do descontentamento de parte dos governos europeus e das greves que ganharam projeção nos marcos da União Europeia, Biden se referiu a uma certa disposição de discutir com Putin a possibilidade de um acordo de paz. Mas, a abertura de um “diálogo diplomático” depende da decisão do governo russo de retirar suas tropas da Ucrânia. O que significaria colocar a paz nas mãos do imperialismo e, assim, capitular. Essa farsa foi proferida ao lado do presidente da França, Emmanuel Macron, que se encontrava nos Estados Unidos.

Era mais do que previsível que Putin veria com desdém a declaração de Biden. O que, de certa forma, se passou com os governos da Alemanha e França, mais próximos dos Estados Unidos e mais influentes, depois da Inglaterra, na aliança montada para suprir e sustentar a resistência do governo ucraniano. O motivo é bem conhecido. A União Europeia está arcando com o maior peso da crise econômica que se aprofundou com a guerra, dando seguimento aos desastres provocados por dois anos de Pandemia.

A prepotência de Biden em propor que Putin retirasse as tropas russas da Ucrânia soou o contrário da procura de um caminho para pôr fim ao confronto, que já adentrou nove longos meses. Na realidade, os Estados Unidos tudo têm feito para prolongar a guerra, que vem despedaçando a Ucrânia. Desde o início da conflagração, ficou visível que a maior potência imperialista estava interessada em empurrar a Rússia à guerra, e fazer do povo ucraniano bucha de canhão.

A guerra e as sanções econômico-financeiras aplicadas pelos Estados Unidos agravaram a crise mundial, em particular na Europa. No entanto, os monopólios norte-americanos estão obtendo grandes lucros, principalmente os da indústria armamentista e da energia. Acabaram sendo impostos, à Europa, restrições na comercialização do petróleo e gás russos, o que obrigou os países mais dependentes do fornecimento russo a comprarem gás natural liquefeito, proveniente da extração do xisto, a um preço muito mais elevado.

A repercussão no custo de vida causa maior pressão dos explorados sobre os governantes, que, mal respiraram com o controle da pandemia, se lançaram no esforço de guerra, para apoiarem a causa norte-americana, e levarem o povo ucraniano à condição de bucha de canhão.

É reconhecido que, desde a crise de 2014 que abalou a Ucrânia, o imperialismo norte-americano se colocou por elevar o conflito com a Rússia e apertar o cerco da OTAN. Vozes no Partido Social-Democrata da Alemanha começam a questionar mais incisivamente a “aliança transatlântica”, que sustenta a guerra e favorece economicamente apenas os Estados Unidos. É sintomático que o encontro de Macron com Biden tenha servido para o presidente norte-americano lançar o balão de ensaio de estabelecimento de uma “diplomacia de paz”, e o presidente francês reclamar do protecionismo dos Estados Unidos.

A previsão de que esse caminho poderá “dividir o Ocidente” foi um alerta de que a burguesia europeia está apreensiva por ter de arcar com os custos da guerra e, ainda por cima, ter de sofrer as restrições protecionistas vindas justamente de seu aliado. A “Lei da Redução da Inflação” de Biden serve de cobertura a bilionários subsídios a setores industriais, que concorrem com os europeus, a exemplo dos carros movidos a energia elétrica. A previsão da França é que poderá ocorrer um grande deslocamento de indústria para os Estados Unidos. Nota-se que, sob a máscara do enfrentamento aos desequilíbrios climáticos, recrudesce a guerra comercial.

Nessa mesma linha, vem manifestando-se a Alemanha. No encontro do chanceler Olaf Sholz com Xi Jinpimg, foi colocada a questão da paz e da guerra comercial. Em ambos os casos, no centro da crise, estão os Estados Unidos, que necessitam defender-se do declínio econômico, e manter sua poderosa hegemonia, constituída na e após a Segunda Guerra Mundial. O encontro de Macron com Biden, e o de Sholz com Jinpimg, bem como o aceno da França e da Alemanha para que se encontre uma forma de se iniciar negociações sobre a paz, indicam que os governos europeus se veem em grandes dificuldades econômicas, e sob crescente pressão do movimento grevista, embora ainda limitado às reivindicações econômicas.

Os Estados Unidos, no entanto, continuam com a estratégia e a política de prolongar a guerra, ampliar a escalada militar, expandir o raio de ação da OTAN para Ásia e América Latina. A guerra comercial permanece ditando o curso da crise mundial. Nesse exato momento, agudiza-se a disputa pelo controle da indústria dos chips. O objetivo de Biden, de esvaziar o controle de Taiwan sobre esse estratégico e valioso produto, vem cumprindo-se, à custa de fartos subsídios. No centro da guerra comercial, se encontram as novas tecnologias, que os Estados Unidos não podem partilhar, principalmente, com a China.

Na medida em que se potencia a guerra comercial, avançam as tendências bélicas, impulsionadas pelo imperialismo. A guerra na Ucrânia expressa uma confluência de forças econômicas, que se chocam com as fronteiras nacionais e regionais. Eis por que os Estados Unidos estão obrigados a ir fundo no choque com a Rússia, e preparar as condições para um enfrentamento militar com a China. É nesse marco, porém, que crescerão as pressões europeias para se estabelecer a “diplomacia da paz”. A presença dos explorados com as greves é o fator decisivo. É na luta de classes que germinará uma possível paz progressiva, que, para isso, não poderá estar na dependência dos Estados Unidos, da OTAN e de qualquer imposição imperialista.

Eis a campanha internacionalista do Comitê de Enlace pela Reconstrução da IV Internacional (CERQUI) contra a guerra de dominação: fim da guerra, desmantelamento da OTAN e das bases militares norte-americanas na Europa, revogação das sanções econômico-financeiras à Rússia; autodeterminação, integralidade territorial e retirada das tropas russas da Ucrânia. Pelo fim da guerra sem os imperativos dos Estados Unidos, da União Europeia e da OTAN, por uma paz sem anexação.