• 07 maio 2023

    Editorial: A guerra na Ucrânia entra em seu 15º mês

Editorial do Jornal Massas nº 687

A guerra na Ucrânia entra em seu 15º mês

A classe operária e demais explorados reagem às brutais consequências da decomposição do capitalismo

O Primeiro de Maio expôs o descontentamento e a revolta dos explorados em várias partes do mundo. Como estava previsto, a França se viu tomada por manifestantes. Os protestos foram duramente reprimidos pelo governo de Emmanuel Macron. Cerca de trezentos lutadores, presos. A maioria da população francesa rejeitou terminantemente a contrarreforma da previdência. Os trabalhadores unidos, assim, combateram nas ruas a imposição ditatorial de Macron. Eis por que o 1º de Maio na França se ergueu como referência diante das manifestações combativas que ocorreram em inúmeros países.

Ao lado dos trabalhadores franceses, destacou-se o 1º de Maio na Turquia. O governo ditatorial de Erdogan respondeu com mãos de ferro à marcha que se dirigia à emblemática Praça Taksim, em Istambul. Na Inglaterra, o 1º de Maio se moveu pela greve dos trabalhadores da saúde, que tem se chocado com o governo ultrarreacionário de Rishi Sunak, do Partido Conservador.

A massiva manifestação dos trabalhadores sul-coreanos levantou duas bandeiras que impulsionaram as mobilizações em toda a parte. Com uma só voz, exigiram do presidente Yoon Suk-yeol a redução da jornada do trabalho e elevação do salário mínimo. Na Malásia, Camboja e Filipinas, os protestos se dirigiram contra o desemprego e o miserável salário mínimo. Os trabalhadores da Espanha e da Bélgica ergueram a bandeira da redução da jornada e contra a corrosão das condições de trabalho.

Esteve claro neste 1º de Maio que o proletariado e a classe média europeia não veem outro caminho senão se lançar à luta. A crise mundial que eclodiu em 2008 se faz presente de forma mais abrangente e mais ameaçadora às condições de vida alcançada no velho continente. Os dois anos de pandemia causaram desemprego e desvalorização da força de trabalho. E, na sequência, a guerra na Ucrânia se encarregou de impulsionar mais fortemente as tendências de desintegração do capitalismo e de potenciar ainda mais a voracidade do imperialismo.

Nesse exato momento, agrava a crise do sistema financeiro nos Estados Unidos. A quebra de bancos reflete o bloqueio e retrocesso das forças produtivas. A previsão do Fundo Monetário Internacional (FMI) é de que a economia mundial continuará em descenso. Se assim ocorrer, as condições de vida dos trabalhadores vão se deteriorar ainda mais.

A maioria explorada vem se ressentido dos efeitos econômico-sociais da guerra, mas não chegou ao ponto de reagir politicamente contra os governantes e os capitalistas responsáveis pelo confronto militar, que se desenvolve em território de um país oprimido. A classe operária ainda não pôde reconhecer e reagir diante do fato de a Ucrânia ter sido transformada em bucha de canhão pelos Estados Unidos e aliados da União Europeia, em sua ofensiva anexionista sobre as ex-repúblicas soviéticas, que como tal se impõe pelo domínio militar da OTAN.

Da mesma forma, guardadas as diferenças, a classe operária não pôde ver que a Rússia se confronta com a poderosa aliança imperialista, defendendo interesses econômicos provenientes do processo de restauração capitalista e que se convertem em opressão nacional sobre as mesmas ex-repúblicas disputadas pelo imperialismo, com os meios da guerra econômica e das armas.

Não deve haver dúvida de que somente a classe operária, dirigindo um movimento de maioria oprimida, pode interromper o avanço do imperialismo, combater a escalada militar, derrotar as forças anexadoras e impor o direito à autodeterminação dos débeis povos e nações. O 1º de Maio não teve como expressar esse fundamento classista do combate à guerra de dominação, que caracteriza a conflagração na Ucrânia.

As direções das centrais, sindicatos e movimentos, que estiveram à frente das manifestações mais combativas, como as da França, tudo têm feito para que as tendências de luta, que crescem no interior das massas oprimidas, não se transformem em combate à guerra de dominação e, portanto, contra a burguesia e seus governos.

É sintomático, inclusive, e principalmente, a paralisia do proletariado russo, que se manteve passivo no 1º de Maio. É obrigatório não só reconhecer que a liquidação da URSS se constituiu em um fator histórico de profunda crise de direção, como também base da luta proletária pela recuperação do terreno perdido para a contrarrevolução.

Não é possível à Rússia derrotar os Estados Unidos e a coligação imperialista, impedir que a OTAN penetre em toda a região outrora regida pela União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) e garantir a autodeterminação e integralidade territorial da Ucrânia a não ser pela via da luta de classes, pela união dos explorados europeus e pela retomada do caminho da revolução social.

Tanto no passado, marcado pelos avanços revolucionários, quanto hoje, marcado pela dramática e profunda crise de direção, se confirmam e emergem objetivamente o programa e a estratégia dos Estados Unidos Socialistas da Europa e do Mundo.

O 1º de Maio evidenciou a necessidade e a disposição de luta dos explorados. Indicou, por outro lado, que está posta a tarefa de vencer os obstáculos políticos e organizativos que lhes vêm impedindo de levantar a bandeira de fim da guerra e por uma paz sem anexação e sem nenhuma imposição das potências imperialistas.

No Brasil, o 1º de Maio foi canalizado para a passividade pela ação da esmagadora maioria das direções sindicais e políticas, comprometidas com o governo burguês de Lula. Evitou-se que confluísse com as combativas manifestações em várias partes do mundo, mas as necessidades mais elementares dos explorados estão em choque com a política de conciliação de classes do PT e aliados. O importante é que foi posta à vanguarda com consciência de classe a luta pelo programa próprio e a tarefa de combater pela independência de classe dos explorados.

A marcha da crise mundial avança e aumenta o seu ritmo. Os problemas nacionais se mostram condicionados pelos internacionais. E não há como desvinculá-los da catastrófica escalada militar alimentada pelo imperialismo. A unidade proletária em cada país e internacional em defesa do programa da revolução social está objetivamente posta.