• 24 maio 2023

    Editorial: A crise mundial persiste e prolonga-se a guerra na Ucrânia

Editorial do Jornal Massas nº 689

A crise mundial persiste e prolonga-se a guerra na Ucrânia

O fundamental está em que retarda a resposta da classe operária

O governo da Ucrânia anunciou que está em andamento uma contraofensiva para retomar as posições estratégicas conquistadas pela Rússia na região de Donbass. Desta vez, as Forças Armadas ucranianas afirmam estar mais bem preparadas, com novos armamentos e reforço aos já utilizados na guerra que entrou no décimo sexto mês.

Não há possibilidade, tudo indica, de uma completa derrota das forças russas. O imperialismo, chefiado pelos Estados Unidos, tinha ciência de que a Ucrânia não poderia triunfar. Mas, poderia resistir ao ponto de enfraquecer a capacidade econômica, militar e política da Rússia. O que resultaria em debacle do governo Putin.

Joe Biden conseguiu alinhar por detrás da política norte-americana a União Europeia e impulsionar a escalada militar em nível mundial. Mas, o imperialismo não obteve êxito em isolar a Rússia dos países que constituem o G-20. A estratégia do imperialismo foi a de alimentar a guerra na Ucrânia com fartos recursos financeiros e militares, sem que a OTAN se lançasse ao confronto direto com a Rússia. O armamento do governo Zelensky ocorreria de acordo com o desenvolvimento da guerra e as possíveis respostas da população afetada, tanto direta quanto indiretamente afetada. Os armamentos mais modernos e potentes têm sido postos em poder das Forças Armadas ucranianas. Discute-se, no momento, quando o Ocidente entregará os aviões de guerra e os mísseis de longo alcance exigidos pelo governo da Ucrânia.

A contraofensiva, em setembro do ano passado, que levou as forças russas a cederem terreno em Donbass não teve como ser sustentada por Kiev. Agora, o imperialismo aguarda o resultado da nova contraofensiva, que está para ocorrer, para verificar o que fará. Tudo indica que a Ucrânia em ruína e com o seu povo cansado dos bombardeios incessantes não tem como modificar o curso dos acontecimentos a seu favor. O que se pode esperar é mais destruição e carnificina.

Alimentar o governo servil de Zelensky e da oligarquia capitalista com armas mais poderosas, significa aproximar ainda mais a OTAN e os países do leste europeu, pelo menos os mais envolvidos no apoio à Ucrânia, de uma confrontação direta com as forças russas. Uma das hipóteses aventadas por analistas é a de que a contraofensiva, vitoriosa ou fracassada, levará os Estados Unidos a procurarem uma via para estancar a guerra. O motivo estaria nas dificuldades econômicas internas e a necessidade estratégica dos norte-americanos de concentrarem força no enfrentamento à China. A recente quebra bancária trouxe à tona o espectro da hecatombe de 2008-2009, que colocou a maior potência no epicentro da crise mundial.

A guerra comercial com a China atingiu tal ponto de ebulição que o imperialismo não tem outro caminho a não ser se preparar para um possível enfrentamento militar. Não há, porém, como dissociar o choque da Rússia com os Estados Unidos, que se dá por enquanto nos marcos do território ucraniano.

Cada vez mais fica claro e indisfarçável aos olhos da população trabalhadora que a Ucrânia está sendo usada como bucha de canhão e que a oligarquia burguesa ucraniana se vale do fantoche Zelensky para anexar o país à União Europeia, como ocorreu com os países do leste europeu, que sucumbiram ao processo de restauração capitalista. Não por acaso, a Polônia, Romênia e República Checa se tornaram os cães de guarda do capital monopolista e financeiro usados pelos Estados Unidos e pela OTAN. Posição essa que reflete a submissão da Alemanha às ordens norte-americanas, que fizeram do país uma base da OTAN, e que, sob a justificativa da guerra na Ucrânia, assumiu a escalada militar na Europa.

Chegou-se a essa situação devido a que a classe operária e os demais explorados tenham sido arrastados pelo processo de restauração capitalista, que varreu as “repúblicas populares” no leste europeu, levou ao desmoronamento da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), destruiu valiosas conquistas dos explorados e povos oprimidos e desfechou um duro golpe no processo histórico de transição do capitalismo ao socialismo. A herança da contrarrevolução pesa esmagadoramente sobre os ombros do proletariado, que paga pelo retrocesso de suas organizações e pela ausência da direção revolucionária que se ergueu às alturas com a Revolução Russa e edificação da URSS.

A reunião do G7 que se realiza no Japão – justamente em Hiroshima, que serviu de experimento norte-americano de explosão da bomba nuclear, quando a guerra, em 1945, já estava vencida – é de um cinismo inimaginável. As potências que apertaram o cerco econômico-militar à Rússia, que mantiveram e reforçaram a OTAN depois do fim da URSS, portando, sem a justificativa original da “Guerra Fria”, propagandeiam que a escolha de Hiroshima é para o Japão mostrar seu “compromisso com a paz e com a não proliferação nuclear”. Ao contrário, se trata de um encontro dos imperialistas, sob as ordens dos Estados Unidos, para impor novas sanções à Rússia, recrudescer a guerra na Ucrânia, avançar o armamentismo na Ásia e pressionar as nações não alinhadas, como a Índia, Indonésia etc., a mudarem de posição.

A cúpula do G-7, sobretudo, está voltada à escalada armamentista na Ásia, como já está previsto com o aumento de bases militares norte-americanas nas Filipinas. Japão, Coreia do Sul e Austrália estão sendo preparados para enfrentar o “expansionismo chinês”, segundo o conceito do próprio imperialismo norte-americano. Essa movimentação indica que a crise mundial abriu caminho para confrontos militares entre potências com capacidade nuclear.

O prolongamento da guerra na Ucrânia é do interesse dos Estados Unidos, que lideram as manobras para se impor diante da Rússia e da China. São passos dados nos marcos da desintegração do capitalismo impulsionada desde 2008, no sentido de o imperialismo norte-americano reagir ao seu declínio como potência hegemônica. A absorção da Ucrânia e da Geórgia pela União Europeia passou a ser estratégica. E, para isso, a OTAN tem de se implantar em todas as fronteiras da Rússia. O ingresso da Finlândia – e, logo mais, o da Suécia -, no âmbito do militarismo norte-americano, sem dúvida, demonstrou que as tendências bélicas da crise mundial estão se impondo como expressão da política imperialista, que pode levar a uma conflagração mais grave e até a Terceira Guerra.

A posição do proletariado se concentra na luta pelo fim imediato da guerra na Ucrânia e da escalada militar na Europa e na Ásia. Torna-se cada vez mais imprescindível que os explorados levantem a bandeira de paz sem imposição do imperialismo, por uma paz sem anexação.