• 23 jun 2023

    Editorial: Desfechada a contraofensiva da Ucrânia

Editorial do Jornal Massas nº 691

Desfechada a contraofensiva da Ucrânia

Não à farsa da paz pró-imperialista!

A anunciada contraofensiva se iniciou no início da segunda semana de junho. É esperada uma nova fase da guerra. A retomada do território ocupado na região de Donbass pelas forças ucranianas será considerada uma vitória, que dificultará a continuidade da ofensiva russa. Zelensky conta para isso com os armamentos mais sofisticados e poderosos recebidos ultimamente, como bateria de mísseis Patriot, sistema de mísseis Himars, mísseis terra-ar Hawk e Nasams, bem como tanques de guerra Leopard e MI Abrams.

Na cúpula do G7, foi anunciada a liberação de entrega do caça F-16 e o treinamento de soldados ucranianos em bases europeias da OTAN. Outros modelos de caça já estão operando na guerra. Esse aparato bélico, cada vez mais potente, tem garantido a resistência das Forças Armadas da Ucrânia e o prolongamento da guerra que logo completará o 16º mês.

Uma vez que ficou claro a Putin que não era possível impor uma rápida derrota à Ucrânia e que os Estados Unidos e aliados impulsionariam a escalada militar, não importando o preço que pagaria o povo ucraniano, não houve alternativa senão garantir a ocupação da região de Donbass e promover a sua anexação. Com a Crimeia anexada em 2014, a Rússia terá uma fronteira avançada e uma melhor posição geoestratégica, caso a guerra conclua de acordo como tal objetivo.

Os Estados Unidos e a União Europeia necessitam incorporar a Ucrânia de forma que possam avançar em seus interesses econômicos sobre a região outrora controlada pela ex-URSS e em um patamar militar mais elevado diante da resistência da Rússia, que emergiu do processo de restauração capitalista. Se a Ucrânia concluir sua incorporação à União Europeia, o que resultaria em uma anexação, embora sob a máscara do direito da autodeterminação, o imperialismo passará a ter melhores condições para impor à Rússia suas condições de existência na órbita do capitalismo mundial.

O regime restaurador do capitalismo que erigiu na Rússia, mantido por uma ditadura bonapartista, como a de Putin, está obrigado a exercer o domínio econômico na região em que se mantinha a maior conquista revolucionária do proletariado mundial, ou seja, a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). Em última instância, a derrocada da URSS em 1991 foi obra do imperialismo, graças à burocratização estalinista do regime soviético, degeneração completa do Partido Comunista estalinizado e liquidação da mais avançada organização dos explorados, que foi a III Internacional.

As forças econômicas e militares envolvidas na guerra de dominação não veem qualquer necessidade de fazer referência a essa questão de fundo. Isso porque ela é decisiva somente para o proletariado. Diante das enormes dificuldades de vencer a guerra e impor suas condições de paz, Putin mostra que tudo fez para encontrar soluções pacíficas aos conflitos que se abriram com a Ucrânia, que escapava da órbita russa e passava para a do imperialismo norte-americano e europeu.

Nesse preciso momento, acossado pela escalada militar e pela contraofensiva da Ucrânia, Putin responde a uma entrevista: “(…) nós oferecemos todas as opções para nossos parceiros ocidentais (…), pensávamos que éramos um deles, queríamos estar na família das chamadas nações civilizadas. Entrei em contato com a OTAN sugerindo que investigássemos essa possibilidade, (…), eles nem se deram ao trabalho de considerá-lo. (…) Não deixamos pedra sobre pedra em nossos esforços e finalmente concordou que a OTAN não seria expandida (…). Todos querem quebrar gradualmente a Rússia em pedaços (…) A Ucrânia faz parte do esforço para desestabilizar a Rússia. Em geral, isso deveria ter sido levado em consideração quando foram tomadas as decisões sobre a fragmentação da União Soviética. Mas então, aparentemente, esperava-se que nossas relações profundas fossem decisivas. Mas devido a uma série de circunstâncias históricas, econômicas e políticas a situação levou a um caminho diferente. (…) Eles não querem o comunismo. Tudo bem, quem quer isso hoje? Eles estão jogando o fundador da Ucrânia – Lênin – de seu pedestal. OK, isso é com eles, mas eles estão colocando Bandeira lá em cima, e ele é um fascista”.

Tudo indica que, segundo sinais do início da contraofensiva, a Ucrânia dificilmente retomará o território ocupado pelas tropas russas e avançarão sobre a Crimeia. Mas, as informações são de que as forças mais decisivas ainda aguardam o momento para entrar em ação. O rompimento da represa de Nova Khakovka bem no início da contraofensiva causou especulação sobre quem seria o responsável, e denúncias de ambas as partes. O que é secundário, uma vez que nenhuma guerra pode garantir regras de boa conduta. É bom lembrar que os maiores desastres bélicos foram causados pelo imperialismo, o que ocorreu em Hiroshima e Nagasaki no fim da Segunda Guerra Mundial, é o exemplo mais patente.

Nesta fase da guerra – a da contraofensiva -, Zelensky levantou a bandeira da paz. Exortou o Brasil e os países do Sul Global, não alinhados com os Estados Unidos, a participarem de uma reunião que estaria sendo preparada. Está ficando cada vez mais claro para as massas, principalmente na Europa, que os Estados Unidos são os mais interessados em prolongar o máximo possível a guerra e exaurir a capacidade econômico-militar da Rússia. A “paz” aventada por Zelensky é a mesma que o bloco imperialista propagandeou na reunião do G7 e que Biden já havia acenado, que é de capitulação da Rússia. Agora, o governo da Ucrânia está usando a bandeira da paz, sob a orientação do imperialismo, para justificar a escalada militar. Haviam, anteriormente, rechaçado a proposição da China.

Para a classe operária e a maioria explorada, não somente da Ucrânia e da Rússia, mas de toda a Europa, já está mais do que visível o significado da continuidade ou do fim da guerra. O problema está em que não é possível uma paz democrática, justa e duradoura sob a égide do imperialismo. Somente a classe operária tem interesse no fim imediato da guerra, sem imposições das potências e no estabelecimento de uma paz sem anexação. É nesse terreno que os trabalhadores têm de se manifestar, orientados por uma posição de classe diante da guerra e com a estratégia revolucionária do proletariado.