• 06 jan 2024

    Editorial: A crise mundial exige unidade anti-imperialista das correntes de esquerda

Editorial do Jornal Massas nº 705

A crise mundial exige unidade anti-imperialista das correntes de esquerda

Está cada vez mais evidente que o capitalismo adentrou em uma das fases mais avançadas da crise internacional desde a Segunda Guerra Mundial. O imperialismo empurra países e regiões inteiras a conflitos e guerras. É o que se passa na Europa, no Oriente Médio e na África. A situação da Ásia caminha para o mesmo terreno minado e inflamado. A América Latina não deixa de sofrer os reflexos da decomposição das relações mundiais. Ao se observar o quadro geral, se tem visível o agravamento da guerra comercial, os choques entre as fronteiras nacionais, as disputas acirradas pelas fontes de matérias-primas, a projeção gigantesca do capital financeiro parasitário e a frenética escalada militar.

Apesar de o capitalismo ter alcançado uma capacidade de produção muito superior ao período da Segunda Guerra Mundial e ter estreitado ainda mais os laços econômicos entre as nações, a pobreza, a miséria e a fome continuam a golpear as massas em grande magnitude. Apesar de potenciar as forças produtivas em níveis muito superiores desde a década de 1950, as potências imperialistas se distanciaram ainda mais dos países de economia atrasada e semicolonial. Nesse marco de reconstrução do pós Segunda Guerra, de salto nos avanços tecnológicos e na produtividade do trabalho, as forças produtivas voltaram a se chocar com as relações capitalistas de produção e com a camisa de força das fronteiras nacionais.

Esse fenômeno foi reconhecido, estudado e explicado, sobretudo, pelo marxismo-leninismo nas duas primeiras décadas do século passado, que ampliou o conhecimento das leis de transformação da história, preparou programaticamente o proletariado para a revolução socialista, edificou o partido bolchevique, respondeu do ponto de vista de classe à Primeira Guerra e possibilitou abrir um horizonte às contradições do capitalismo da época imperialista por meio da Revolução Russa e da constituição da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). Um grande progresso tomou forma no sentido de abrir caminho para a transição do capitalismo ao socialismo, impor novas derrotas à burguesia e unir a classe operária em torno à revolução mundial.

A vitória da revolução chinesa, por sua vez, quatro anos após o fim da Segunda Guerra Mundial, resultou no segundo maior desastre para o imperialismo. Criaram-se novas condições para a luta internacional do proletariado e da maioria oprimida, embora a fração imperialista vencedora, dirigida pelos Estados Unidos, saísse fortalecida, não apenas pelo seu imenso poder econômico e militar, como também pela política de colaboração do governo soviético de Stalin. A derrota da Alemanha no Leste Europeu, o processo revolucionário que se gestou no seio das massas e a expropriação do grande capital compuseram uma relação de força favorável à luta de classes e à transição do capitalismo ao socialismo.

A reorganização do imperialismo se dirigiu a reconstituir as forças produtivas sob sua direção, a combater as conquistas revolucionárias dos explorados e dos povos oprimidos e a forçar passagem à restauração capitalista na URSS e na China, e assim liquidar todas as revoluções. A desintegração dos regimes que estiveram sob a guarda do Kremlin, no Leste Europeu nos anos de 1980, a liquidação da URSS em 1991 e a ampla penetração do capital imperialista na China a partir de meados dos anos de 1970 deram completa supremacia ao imperialismo norte-americano. A vitoriosa “Guerra Fria” interrompeu e retrocedeu o curso da revolução mundial. Auxiliou o imperialismo a momentaneamente administrar a retomada dos choques das forças produtivas com as relações de produção, que estiveram na base da Primeira e Segunda Guerra.

Não era possível, no entanto, superar as leis da história que colocaram o capitalismo no seu mais alto patamar de desenvolvimento e que determinaram o seu irremediável processo de decomposição. O marxismo-leninismo-trotskismo caracterizou essa fase superior do capitalismo como de crises, guerras, revoluções e contrarrevoluções. As contrarrevoluções se impuseram levando à destruição da URSS, a mais avançada cidadela da revolução mundial. Arrastou a China para a restauração capitalista. O acontecimento histórico mais surpreendente se estampa na elevação da China a uma potência econômica que passou a encarnar a contradição entre as forças produtivas e as relações capitalistas de produção, e a expressar o esgotamento da partilha do mundo realizada durante e após a Segunda Guerra Mundial. Nota-se o quanto os conflitos e guerras atuais encontram suas raízes nas duas grandes guerras. E o quanto a contrarrevolução se valeu e se vale das guerras generalizadas. Constata-se a interdependência das guerras com as revoluções e com as contrarrevoluções.

O sentido dessa explicação se deve aos imperativos do momento que vêm da guerra na Ucrânia, da guerra na Faixa de Gaza e das guerras na África. Em fevereiro, a conflagração no território ucraniano completará dois anos. Esteve colocada a possibilidade de os Estados Unidos empurrarem a União Europeia à guerra com a Rússia, uma vez que a Ucrânia é um pião em disputa. A OTAN foi concebida para a possibilidade de uma conflagração contra a ex-URSS. Esse era um curso possível da contrarrevolução. A disputa pelo controle da Ucrânia é parte desse processo contrarrevolucionário. Os perigos de um envolvimento geral da Europa permanecem. Os Estados Unidos não conseguiram a incorporação da Ucrânia na União Europeia e na OTAN, mas avançaram na Finlândia e na Suécia. A disputa territorial onde se assentou a URSS é de ordem estratégica para o capital internacional. Sobreveio a guerra do Estado sionista de Israel contra os palestinos na Faixa de Gaza. Está armado mais choque militar nesse campo de combate, em que se tornou o Oriente Médio desde a Primeira Guerra Mundial, tendente a generalizar-se. Completaram-se três meses de bombardeios diários com mais de vinte e dois mil palestinos mortos. Os Estados Unidos garantem a continuidade do genocídio com suas armas apontadas para o Irã e países árabes, principalmente para o Líbano e Síria.

Os ataques dos houthis iemenitas aos navios que servem aos interesses do imperialismo no Mar Vermelho vêm servindo de motivo para os Estados Unidos ameaçarem uma intervenção no Iêmen. Israel bombardeia o Líbano e mata um dirigente do Hamas. Em seguida, os Estados Unidos atacam no Iraque e assassinam um comandante de uma organização militar pró-Irã. No Irã, um atentado a bomba mata dezenas de manifestantes que homenageavam o general Qassim Suleimani assassinado em um atentado pelos Estados Unidos. O Estado Islâmico reivindicou a operação terrorista. Mas, se sabe que o maior interessado na crise são os Estados Unidos e Israel. Na Ásia, a Coreia do Norte diz preparar-se para o intervencionismo dos Estados Unidos e a escalada militar do Japão e Coreia do Sul. O governo norte-americano acusa a Rússia de usar armamentos norte-coreanos, para justificar o recrudescimento do cerco ao regime adversário. Em qualquer uma dessas regiões conflagradas, pode desencadear-se uma guerra chefiada pelos Estados Unidos, envolvendo a Rússia, China, Irã e outros aliados. Se depender das forças em choque, por enquanto localizadas, a escalada militar continuará ascendendo.

As grandes manifestações pelo fim do genocídio na Faixa de Gaza expressam as forças sociais capazes de fazer frente ao imperialismo. A classe operária está em atraso diante da tarefa de pôr em pé um amplo movimento anti-imperialista. A guerra na Ucrânia ensejou os primeiros sinais na Europa, mas não prosperou. Isso se deve à profunda crise de direção. A responsabilidade das correntes de esquerda que se reivindicam do socialismo está posta à luz do dia. Têm de romper sua adaptação ao capitalismo e à democracia burguesa. A crise mundial exige uma poderosa unidade anti-imperialista sobre a base da luta de classe e da defesa da estratégia revolucionária do proletariado.