• 20 jan 2024

    Editorial: impulso das tendências bélicas

Editorial do Jornal Massas nº 706

Impulso das tendências bélicas

Somente com o programa da revolução social, é possível combater pela paz

Os choques, conflitos e guerras marcam a situação mundial. A guerra na Ucrânia expôs a ponta do iceberg da decomposição do capitalismo e das forças cegas da escalada bélica mundial. Desde antes de seu início, a crise na Ucrânia indicava que seria arrastada pelo imperialismo e utilizada contra a Rússia. Os Estados Unidos e aliados da União Europeia não podiam e não podem permitir que as ex-repúblicas soviéticas continuem subordinadas à Rússia, que manteve parte de seu poder regional após a liquidação da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) pelo processo contrarrevolucionário da restauração capitalista. Os Estados Unidos não podem admitir a qualquer país que coloque limites ao seu controle econômico, principalmente nas condições de afundamento da economia mundial e de seu próprio declínio. A sua formidável capacidade militar de intervir prontamente em qualquer região, contando com a OTAN, lhes permite impulsionar as tendências bélicas em função da proteção de seus interesses e nas condições de agravamento da guerra comercial com a China, cujas consequências têm sido a retomada da militarização na Ásia.

A invasão das tropas russas no território ucraniano se mostrou inevitável quando a oligarquia burguesa e o governo Zelensky tinham tudo preparado para romper definitivamente seus laços com a Rússia e se colocar sob a guarda dos Estados Unidos, da União Europeia e da OTAN. Como uma das mais importantes ex-repúblicas soviéticas, esse deslocamento resultaria em um grande golpe contra o controle da vasta região onde assentava a URSS, rica em recursos naturais e importante como mercado.

A guerra completará dois anos em 24 de fevereiro sem perspectiva de solução. A Ucrânia se encontra devastada, apesar de ter sido armada e sustentada pelas potências. O fracasso da contraofensiva planejada pelas Forças Armadas ucranianas e as dificuldades internas aos Estados Unidos, envolvidos em um novo momento da corrida eleitoral, pareceram favorecer a abertura de alguma negociação no sentido de um armistício e de paz. Pesaria na balança pacificadora o fato do imperialismo ter ingressado a Finlândia e a Suécia na OTAN. Ao contrário, agravaram-se os bombardeios, a França se dispôs a atender ao chamado dos Estados Unidos e da Alemanha para que socorra a Ucrânia com armas e recursos financeiros. Em nome da “segurança europeia”, Macron ativará a indústria bélica francesa e assinará um “acordo bilateral de segurança com a Ucrânia”, como já o tinha feito a Inglaterra. Olaf Scholz, chanceler alemão “duplicou a ajuda militar a Kiev”.

Está claro que a União Europeia foi chamada por Biden a fazer o que os Estados Unidos não podem no momento de embate eleitoral com Trump. A OTAN fará “manobras em grande escala nas quais participarão 90.000 soldados durante vários meses.” Tais decisões indicam que a escalada militar na Europa continuará sua marcha ascendente. É sintomática a declaração do presidente do Comitê Militar da OTAN, almirante holandês Rob Bauer, que afirmou que “a aliança está se preparando para uma guerra com a Rússia”.

A guerra na Ucrânia passou para o segundo plano nos noticiários internacionais com a guerra desfechada pelo Estado sionista de Israel na Faixa de Gaza, que completou três meses em 7 de janeiro. O Oriente Médio se acha mergulhado em uma crise que vem se potenciando com o genocídio praticado contra os palestinos. Os Estados Unidos sustentam o colonialismo sionista na região conflagrada desde a partilha do mundo feita na Primeira Guerra e refeita na Segunda Guerra Mundial. Está aí por que a questão da autodeterminação do povo palestino é motivo de guerra que envolve todos os oprimidos do Oriente Médio.

Enquanto autoridades norte-americanas montam reuniões com governos árabes servis, Israel leva às últimas consequências a política de anexação e realimentam os confrontos com o Líbano, Síria e Irã. Jogam um país contra outro incentivando os interesses das feudais-burguesias na região. O sentido de responsabilizar o Irã pela intervenção de Israel na Faixa de Gaza é bem conhecido. A teocracia nacionalista iraniana sustenta sua independência diante dos Estados Unidos à custa de conflitos permanentes e ameaça de guerra. Assim que se iniciaram os bombardeios contra os palestinos, sob a justificativa do direito de liquidar o Hamas, a Casa Branca postou seus navios de guerra no Mediterrâneo voltado contra, sobretudo, o Irã. Os Houthis do Iêmen passaram a atacar os navios que se dirigiam a Israel manifestando assim a defesa dos palestinos.

Os bombardeios no Iêmen pelos EUA e Inglaterra deram sinais que a guerra já não se limita à Faixa de Gaza. No início de janeiro, um atentado, assumido pelo Estado Islâmico, matou dezenas de iranianos. O Irã respondeu bombardeando no Paquistão, no Iraque e na Síria para atingir a organização sunita que teria praticado o atentado. O governo paquistanês decidiu atacar o Irã, sob a justificativa de atingir uma organização separatista. O governo iraquiano manteve-se no plano diplomático. Imediatamente, a imprensa comandada pelo imperialismo estampou a manchete “Irã cruzou todos os limites rumo à bomba atômica”, propagada desde Agência Internacional de Energia Atômica, que é comandada pelos Estados Unidos. Em uma operação naval na Somália, a marinha norte-americana anunciou que apreendeu ogivas de mísseis iranianas que iriam para o Iêmen. Embora pareça que se trate de acontecimentos colaterais à guerra na Faixa de Gaza, na realidade, refletem as tendências bélicas subjacentes à crise no Oriente Médio e à crise geral do capitalismo. As potências exercem a opressão nacional em todo o Oriente Médio.

As recorrentes guerras civis e guerras de intervenção externa têm servido à dominação do capital financeiro, uma vez que não se transformam em guerras de libertação nacional e guerras civis pela tomada do poder pelo proletariado. A forte presença das tendências bélicas como expressão da guerra comercial e do esgotamento da partilha do mundo do pós Segunda Guerra indica que o imperialismo levará às últimas consequências as guerras na Ucrânia e na Faixa de Gaza. E levará às últimas consequências o intervencionismo da OTAN.

As guerras assumem um caráter bárbaro na fase imperialista do capitalismo. Ou se transformam em guerra de libertação nacional e social, ou a aspiração dos explorados e povos oprimidos pela paz não será alcançada. As massivas manifestações em todo o mundo pelo fim da intervenção do Estado sionista de Israel e o genocídio na Faixa de Gaza indicam que somente por meio da luta de classes é possível derrotar a ofensiva militarista do imperialismo, Uma paz sem anexação e a autodeterminação da Ucrânia dependem da unidade dos explorados para pôr fim à guerra. Somente com o programa da revolução social, encarnado pelo proletariado, é possível derrotar o imperialismo e combater pela paz.