• 07 fev 2024

    Quatro meses de carnificina na Faixa de Gaza

Carta do Partido Operário Revolucionário

Quatro meses de carnificina na Faixa de Gaza

A guerra desfechada pelo Estado de Israel exige a unidade dos palestinos e dos oprimidos do Oriente Médio para acabar com o genocídio

O movimento mundial pelo fim da intervenção do Estado sionista na Faixa de Gaza deve prosseguir e se ampliar

Combater com a política, o programa e os métodos da luta de classe a ofensiva dos Estados Unidos e aliados imperialistas no Oriente Médio

Que as Forças de Defesa de Israel parem os bombardeios e se retirem imediatamente da Faixa de Gaza!

 

À classe operária e aos demais trabalhadores brasileiros

A guerra iniciada em 7 de outubro ultrapassou os marcos da Faixa de Gaza. Os ataques dos Estados Unidos no Iêmen, Iraque e Síria às milícias islâmicas vinculadas ao Irã são sinais de que o imperialismo estende a conflagração no Oriente Médio. A justificativa de Joe Biden de que as forças americanas e aliadas não fazem senão responder aos ataques dos Houthis e das organizações da resistência muçulmana, que seriam alimentadas pelo governo iraniano, não tem como ocultar que os Estados Unidos são os principais responsáveis pela chacina praticada pelo Estado de Israel na Faixa de Gaza, bem como pelo longo processo de violenta colonização sionista na Palestina.

Nem bem o governo de Benyamin Netanyahu declarou guerra aos palestinos da Faixa de Gaza, a Casa Branca ordenou o envio de poderosos porta-aviões ao Mediterrâneo. Essa prontidão se deveu ao fato de que o imperialismo esperava um longo confronto das Forças de Segurança de Israel com a resistência do Hamas. Emergia mais uma vez uma enorme pústula da velha ferida aberta desde a década de 1930 e 1940 no território pertencente ao povo palestino. O “princípio” do imperialismo de “direito a defesa” correspondente ao ataque do Hamas em 7 de outubro assinalou que o genocídio do povo palestino teria uma dimensão até então desconhecida.

Passados quatro meses, já são quase 30.000 palestinos mortos, sendo a maioria de crianças e mulheres. As cidades de norte a sul da Faixa de Gaza se transformaram em ruinas. A maioria das famílias foi desalojada e deslocada de um lado para outro. A destruição de hospitais cortou em grande medida os meios de atendimento aos milhares e milhares de feridos, muitos com amputações de parte do corpo. As parturientes e os recém-nascidos não encontram as mínimas condições de saúde. A completa desorganização da economia e os bloqueios a bens vitais do dia a dia da existência da população potenciaram a fome e as doenças. É comum corpos apodrecerem a céu aberto. Muitos se acham soterrados nos escombros dos prédios derrubados pelos bombardeios aéreos contínuos. A abertura de um “corredor humanitário” demorou a ser admitida. Logo se viu que a “concessão” de Israel pouco resolveu. O povo faminto recebeu quirelas. A horda de desesperados para obter uma porção de mantimento retratou a barbárie extrema causada pela guerra de dominação do Estado sionista sobre o povo palestino.

A política de guerra aplicada desde o dia 7 de outubro não é nova, nem em seus fundamentos históricos, nem em seus métodos. Nisso reside o conteúdo e o sentido do genocídio: impor pela força das armas o domínio a um povo que resiste ceder seu território; um povo que nunca teve capacidade militar, uma vez que não pôde se constituir como Estado; um povo que não contou a seu favor com transformações revolucionárias, que foram abortadas pelo nacionalismo burguês e pequeno-burguês árabe, cuja responsabilidade histórica do estalinismo está patente. O método de sufocar pela pobreza extrema e miséria as massas palestinas no decorrer de mais de sete décadas de confrontação se repete na forma de cerco econômico e militar da Faixa de Gaza. A tática militar de destroçar as cidades pelos bombardeios, sem que haja qualquer possibilidade de resposta bélica, não apenas mostra a total superioridade do Estado sionista, como também um meio de espalhar o terror entre a população completamente indefesa. A incursão aérea foi aplicada vastamente na guerra contra o Líbano de 1982 e 2006, quando ainda a resistência palestina era dirigida pelo Fatah. Graças aos bilhões de dólares provenientes dos Estados Unidos e ao fornecimento de avançado aparato militar, o Estado sionista se armou de um poderio bélico incomparável no Oriente Médio e de projeção internacional.

O problema está em que não basta a guerra desfechada desde o alto. É preciso vencer por terra, ocupando militarmente o território. Os Estados Unidos sabem perfeitamente sobre as condições históricas e o alcance das guerras de dominação. Procuraram encontrar uma forma de domínio sionista pela via da subjugação econômica e política, garantida pelo cerco militar. Os acordos de Oslo de 1993, sob o auspício da ONU e controle dos Estados Unidos, resultaram das dificuldades de Israel em acabar com a resistência dos palestinos, que via de regra concluía com massacres e avanço da anexação territorial. Foi uma importante manobra para dividir a população da Faixa de Gaza e Cisjordânia. A capitulação do Fatah não pôde ser concluída, uma vez que se ergueu o movimento opositor a Oslo na Faixa de Gaza. Muito dinheiro foi despendido pelo imperialismo europeu para fortalecer a fração entreguista da Cisjordânia.

A resistência na Faixa de Gaza contou com o apoio proveniente dos países árabes e do Irã. O Hamas se destacou como força política e militar unificadora de parte do povo palestino. Mas, não conseguiu conquistar a Cisjordânia para a causa da resistência antissionista. As intifadas, de 1987 e 2000, expuseram a revolta instintiva da maioria oprimida. Foram esmagadas pela força militar e policial, embora se valessem tão somente de pedras e paus para contra-atacar o cerco armado do Estado israelense. Tamanha violência contra um adversário incapacitado militarmente se explica pelo imperativo de Israel sufocar a possibilidade de as massas insurgentes colocarem a necessidade do armamento geral do povo, embora não houvesse disposição das organizações políticas dos palestinos de cumprirem essa tarefa.

As guerras de 1949, 1967 e 1973 do Estado sionista nascente e expansionista com países árabes resultaram não apenas em vitórias de Israel, Estados Unidos e aliados europeus, como também em acordos capituladores de parte majoritária dos árabes, cuja essência se encontra na política anexionista contraposta ao direito de autodeterminação dos palestinos. Israel deu um salto à frente na expansão territorial, e assim no processo histórico de opressão nacional, cujo resultado foi o de recrudescer o cerco econômico e militar aos palestinos, de forma a não lhes permitir definitivamente se constituir como Estado. Os acordos de Oslo exprimiram essa situação, contrariando qualquer aspiração nacional dos palestinos. Israel montou um cerco à Faixa de Gaza, transformando-a em uma “prisão a céu aberto”; estabeleceu um poder interno na Cisjordânia garantido pelo desarmamento da Autoridade Palestina, que é serviçal do imperialismo, e impulsionou o colonato sionista. Nesse terreno se encontram as bases e os pilares da dominação após os acordos de Oslo, que, por sua vez, têm suas raízes na decisão de 1947-1948 de implantar o Estado sionista contra a vontade dos palestinos e a sua própria existência como nação.

O choque com o Hamas e precipitação de uma intervenção, como a que se iniciou há quatro meses, era questão de tempo. A bomba retardatária se achava e se acha na Cisjordânia, cuja penetração colonizadora se choca diariamente com os palestinos, representando um simulacro do que se passou no início da implantação do sionismo na Palestina. A matança na Faixa de Gaza estremeceu as placas tectônicas da região e tende a se movimentar em todo o Oriente Médio. Tornou-se insustentável a política da Autoridade Palestina de conviver com a ofensiva da colonização sionista e a ampliação dos conflitos que recorrentemente resultam em expulsão de famílias e mortes de palestinos que localmente resistem.

Os Estados Unidos apoiaram incondicionalmente a decisão de Netanyahu ir à guerra. O problema agora está em como administrar uma saída, uma vez que o Estado sionista não tem conseguido eliminar o Hamas, apesar de ter recorrido aos métodos militares do genocídio. Biden tem em suas mãos a decisão de ampliar a guerra na Faixa de Gaza para o Iêmen e Irã, o que abarcaria o Iraque e a Síria. O problema está em que o objetivo estratégico dos Estados Unidos se concentra na Rússia e China.

Quatro meses de bombardeios em um pequeno espaço territorial superpovoado parece uma eternidade. O crescente número de civis mortos, desarmados, desorientados e famintos permitiu à África do Sul entrar com uma petição no Tribunal de Haia sob alegação de genocídio. A aceitação de abertura de investigação evidenciou o tremendo impacto mundial da matança, embora os juízes rejeitassem o pedido sul-africano de uma resolução para que Israel cessasse fogo. Esse Tribunal é uma criatura da ONU e está sujeito às forças do imperialismo.

Os enviados de Biden aos países árabes servis, para encontrar uma fórmula que convencesse a casta sionista de Israel, se deparam com o obstáculo do Hamas, que não foi esmagado como pretende o governo de Netanyahu. Nesse marco, aumentam os perigos de os Estados Unidos terem de ampliar sua ofensiva contra a resistência do nacionalismo islâmico. Torna-se, cada vez mais clara, a ligação da guerra na Faixa de Gaza e na Ucrânia, bem como a orientação norte-americana de impulsionar a escalada militar na região do Indo-Pacífico.

A recente movimentação da OTAN, para sustentar a continuidade da guerra na Ucrânia e reforçar a unidade imperialista contra a China, ocorre nas condições gerais de potenciação das contradições do capitalismo mundial em decomposição. Até mesmo os analistas que servem à burguesia reconhecem que está configurando-se uma situação de pré-guerra mundial. Não há dúvida de que essa conjunção de choques econômicos e de guerras impulsionados pelos Estados Unidos e aliados resulta do acúmulo das contradições do capitalismo que foram se reascendendo após a Segunda Guerra Mundial e se potenciaram em seguida à liquidação da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) e à decretação do fim da “Guerra Fria”.

As gigantescas manifestações das massas contra o genocídio e pelo fim dos ataques de Israel à Faixa de Gaza se levantaram em meio à ampliação da crise internacional. O recente arrefecimento se deve à direção do movimento que segue os passos dos governos que advogam uma solução pacífica e democrática, quando não há possibilidade do Estado sionista admitir a existência do Hamas como força de comando da resistência palestina. A ausência de um movimento de tal envergadura em torno à guerra na Ucrânia, por sua vez, dificultou e dificulta a luta pelo fim da guerra e por uma paz sem anexação, sem as determinações do imperialismo e da OTAN. Na Ásia, persiste a guerra comercial e a escalada militar. As greves operárias e as manifestações que ocorrem em vários países, em oposição às contrarreformas impostas pelos governos burgueses, indicam que a luta de classes latente tende a emergir com maior amplitude e vigor, mas ainda como expressão instintiva das camadas mais oprimidas e controladas pelas direções colaboracionistas. A luta de classe em cada situação particular ocorre em meio às duas guerras que colocam no centro o combate ao imperialismo.

Está posta a luta pela unidade dos explorados em cada país partindo da defesa das condições mais elementares de existência – emprego, salário, direitos trabalhistas – e a unidade internacional contra as guerras de dominação. Trata-se de um só combate à burguesia exploradora e saqueadora. A classe operária e os explorados em geral ainda não avançam nesse sentido devido à crise de direção. Sem os partidos revolucionários e sem o Partido Mundial da Revolução Socialista, atrasa-se e posterga-se a tarefa de unir os explorados em torno às suas bandeiras próprias e à estratégia da revolução social.

As massas que se movimentaram e se movimentam contra o genocídio do povo palestino encarnam a luta contra a opressão nacional. Devem evoluir para a luta contra a opressão social, de classe. Sobre a base desse combate, se avançará no objetivo histórico de reconstituir as direções revolucionárias que têm a seu favor as experiências e as conquistas das revoluções proletárias, que foram transitoriamente desmoronadas pelas contrarrevoluções que tomaram corpo desde meados da década de 1970. Sendo, entre elas, a mais significativa, do ponto de vista histórico, a liquidação da URSS em dezembro de 1991, portanto, há 32 anos.

Diante dos quatro meses de massacre na Faixa de Gaza e nas condições de ataque dos Estados Unidos ao Iêmen e bombardeios no Iraque e Síria, o Partido Operário Revolucionário (POR) dirige-se à classe operária em defesa da autodeterminação do povo palestino e da retirada imediata das Forças militares de Israel. Dirige-se aos sindicatos, centrais e movimentos para que saiam da passividade, passem a compor os comitês de luta e convoquem suas bases para a manifestação de 17 de fevereiro. Dirige-se às organizações que se reivindicam do socialismo e do direito dos povos oprimidos à autodeterminação que rompam com o democratismo burguês e pequeno-burguês colocando-se ativamente pela constituição da frente única anti-imperialista. É com essa resposta à política de guerra do imperialismo que a classe operária tomará a frente da luta mundial das massas.

O POR reconhece que o grande problema se encontra na crise de direção, perante a qual cresce a responsabilidade da vanguarda que encarna a consciência de classe. Lutemos para derrotar os objetivos econômicos e a estratégia de guerra do imperialismo, reconstruindo o Partido Mundial da Revolução Socialista. Fortaleçamos o POR no Brasil e o Comitê de Enlace pela Reconstrução da IV Internacional. Essa é a via que se apresenta diante da perspectiva do avanço das tendências bélicas e da confrontação da aliança imperialista sustentada pela OTAN contra a Rússia e a China. Somente a classe operária, unida e em luta, por meio do programa da revolução social, poderá erguer uma muralha diante dos Estados Unidos e seus aliados. Trata-se da muralha das revoluções proletárias.

Fim imediato da chacina na Faixa de Gaza! Pela autodeterminação do povo palestino!

Pela expulsão dos Estados Unidos e de todas as forças intervencionistas do Oriente Médio!

Por uma República Socialista na Palestina!

Pelos Estados Unidos Socialistas do Oriente Médio!