• 22 fev 2024

    Resposta do Partido Operário Revolucionário (POR) à campanha sionista contra o pronunciamento de Lula

Resposta do Partido Operário Revolucionário (POR) à campanha sionista contra o pronunciamento de Lula

À classe operária, aos demais trabalhadores e à juventude oprimida

 

O governo de Israel reagiu à declaração do presidente Lula que denunciou a carnificina na Faixa de Gaza nos termos de comparação com a matança de judeus pelo regime nazista de Hitler. Praticamente, o governo de Binyamin Netanyahu se colocou por uma ruptura diplomática com o Brasil.

O Holocausto ficou marcado como genocídio do povo judeu. O nazifascismo foi o ponto mais alto do racismo e a consequente fórmula de eliminação de raças consideradas inferiores. A perseguição racial não se limitou aos judeus, mas foram os que pagaram com seis milhões de mortos.

O antissemitismo é anterior à Segunda Guerra, mas foi com o nazismo que chegou às últimas consequências na forma de genocídio. A perseguição a povos, a opressão nacional e a matança são próprias da sociedade de classes. O Holocausto é identificado com os campos de concentração e as câmaras de gás montadas pelo governo nazista para assassinar em massa os prisioneiros judeus. Por ocorrer na Segunda Guerra Mundial e fazer parte de objetivos militares seletivos contra os judeus, o Holocausto se tornou um acontecimento trágico condenado precisamente no sentido histórico do genocídio. A sua condenação concreta – não apenas formal – resulta em luta contra qualquer ação e movimento que implique genocídio.

É imperativo reconhecer que não apenas os judeus passaram por essa tragédia. Condenar o Holocausto sem condenar e lutar contra todos os acontecimentos que envolvem genocídio resulta em cinismo, próprio da imoralidade burguesa. Não é preciso conhecer bem o percurso do antissemitismo e a política nazista de eliminação do povo judeu, para se saber as particularidades do Holocausto.

A comparação de Lula comparece na seguinte resposta a uma entrevista em Adis Abeba, capital da Etiópia: “O que está acontecendo em Gaza não existiu em nenhum outro momento histórico. Aliás existiu. Quando Hitler resolveu matar os judeus.” Está bem clara a forma prosaica de uma resposta de improviso. Bastou, no entanto, para que se erguesse uma onda sionista denunciando Lula de que estaria “banalizando o Holocausto e tentando ferir o povo judeu e o direito israelense de se defender.” Essas são palavras de Netanyahu. O seu ministro das Relações Exteriores, Israel Katz, declarou Lula “persona non grata” e soltou as farpas: “A comparação do presidente Lula entre a justa guerra de Israel contra o Hamas e as ações de Hitler e dos nazistas que mataram 6 milhões de judeus é um sério ataque antissemita que desrespeita a memória daqueles que morreram no Holocausto.”

Seguindo o governo israelense, a Confederação Israelita do Brasil (Conib) e o Instituto Brasil-Israel “repudiaram as comparações de Lula”. Os editoriais da grande imprensa brasileira orquestraram essa linha que partiu do Estado de Israel. Eis o editorial do jornal O Estado de São Paulo: “Ao dizer que a guerra de Israel contra os terroristas do Hamas se assemelha ao Holocausto vandalizou a História, a memória das vítimas da indústria da morte nazista e os interesses do Brasil.” Na Câmara Federal, o PL, partido de Bolsonaro, e aliados coletaram assinaturas para abrir um processo de impeachment contra Lula. No Senado, seu presidente, Rodrigo Pacheco, fez um pronunciamento exigindo uma “retratação de Lula”. O líder do governo no Senado, o petista histórico Jaques Wagner, na qualidade de judeu, apesar de considerar exagerados os ataques contra Lula, não deixou de dizer que o presidente “passou do ponto”. A manifestação convocada por Bolsonaro antes da entrevista de Lula, para o dia 25, na Av. Paulista, está sendo recheada da sórdida campanha do Estado sionista e da grande imprensa alinhada com os Estados Unidos.

As pressões para que Lula se desculpasse diante do governo de Netanyahu e dos judeus foram e estão sendo gigantescas. A crise política que pendia contra Bolsonaro e seus aliados golpistas voltou-se, como em um passe de mágica, contra Lula. A ultradireita assentada nas igrejas evangélicas viu a oportunidade de potenciar sua reação que será testada no dia 25.

A situação internacional incide diretamente na crise política interna ao Brasil. Os Estados Unidos e seus aliados procuram apertar o cerco ao governo de frente ampla, para que se alinhe à ofensiva do imperialismo envolvido na guerra da Ucrânia e no massacre dos palestinos na Faixa de Gaza. Esse é o fundo da reação sionista que não é de agora, mas que ganhou altitude diante da declaração de Lula na Etiópia.

Lula foi pressionado, logo no início do conflito, a classificar o Hamas de organização terrorista, para contrabalançar seu desacordo com a intervenção militar de Israel na Faixa de Gaza. Diante de sua crítica às potências e à Israel, de que não há empenho em um cessar-fogo e de que o Brasil não compartilhava da decisão dos Estados Unidos e aliados de interromper as contribuições à Agência da ONU para os Refugiados Palestinos (UNRWA), sob a justificativa de que alguns de seus membros estariam apoiando o Hamas, feita na cúpula da União Africana, o imperialismo aproveitou a comparação de Lula para desencadear um movimento de desmoralização de suas críticas, ao ponto do governo israelita montar uma farsa no memorial do Holocausto para desmoralizar a diplomacia brasileira.

Essa ofensiva dos sionistas contra as posições brasileiras de não alinhamento ao Estado de Israel e aos Estados Unidos ocorre justamente quando Netanyahu ordenou suas Forças Armadas a apertarem o cerco de ferro e fogo em Rafah. Explicitou seu objetivo de anexar a Faixa de Gaza, custe o que custar de vidas civis, que já atingiu trinta mil mortos e setenta mil feridos.

A condenação da política de guerra do governo israelense pela maioria dos países e pelas populações mundiais atingiu o ponto máximo. Mas, somente uma grande rebelião das massas no Oriente Médio e em todos os continentes poderá pôr fim à carnificina e derrotar as forças destruidoras da Faixa de Gaza. Agora mesmo, os Estados Unidos acabam de vetar no Conselho de Segurança da ONU um plano de cessar-fogo, sob a alegação que logo apresentarão um plano mais factível.

É nesse contexto que Lula acusou as potências de não fazerem nada para barrar a carnificina dos palestinos indefesos. Como presidente de um governo burguês e sujeito às forças internas da crise, Lula não faz senão criticar e propor uma solução que saia das entranhas da ONU, que é controlada pelas potências e, à frente delas, pelos Estados Unidos. Lula age como um Don Quixote, cutucando os moinhos de vento com as palavras. Ocorre que suas palavras refletem os choques de posições que vêm se desenvolvendo entre os Estados Unidos e seus aliados com a China e a Rússia.

Não há como ocultar que a destruição da Faixa de Gaza e a carnificina de sua população são produtos históricos da imposição à força do Estado sionista na Palestina. A comparação de Lula tem apenas um sentido: o que Israel está praticando é genocídio. E os Estados Unidos são os maiores responsáveis. Essa última consideração não podemos afirmar que esteja nos cálculos de Lula. Mas, quanto à denúncia de genocídio, se comprova com o apoio do governo brasileiro à moção da África do Sul. É claro que nem Netanyahu nem Biden podem admitir o significado histórico do genocídio.

O movimento sionista para erguer um Estado na Palestina teve de expulsar passo a passo pela força das armas os palestinos e impedir-lhes de constituírem-se como Estado. Economicamente, Israel necessita expandir-se territorialmente, e o faz como colonialista. A Cisjordânia, que se acha sob o controle de Israel e da coligação de potências, vem sendo ocupada pelo sistema de colonato. Parte do território da Síria – as Colinas de Golan – foi anexada como resultado de uma guerra vitoriosa por parte de Israel. O Líbano teve de enfrentar uma guerra mortífera para não ter parte de seu território anexada. A anexação sempre é uma política de dominação.

Não por acaso, os Estados Unidos imediatamente postaram seus porta-aviões no Mediterrâneo e no Mar Vermelho. Seu poderio é imprescindível para Israel manter suas conquistas territoriais e garantir a subserviência dos países árabes regidos pela feudal-burguesia. O Oriente Médio continua sob a égide dos Estados Unidos, principalmente, pela existência de um enclave na região, que é o Estado sionista.

É uma falsificação grosseira quando se diz que a comparação de Lula degrada o Holocausto e fere o sentimento dos judeus. Ao contrário, está mostrando aos judeus que o Estado israelense está arruinando o significado histórico do Holocausto praticando um genocídio. Lutar contra o massacre do povo palestino, é elevar o valor do exemplo do Holocausto, que não se deve reproduzir, como no caso concreto da carnificina na Faixa de Gaza de um povo sem a mínima capacidade militar para resistir a tamanha barbárie. Um judeu consciente dirá: o Estado sionista se mostrou e se mostra uma arma de opressão de um povo, que, guardadas as diferenças, o povo judeu padeceu antes do nazismo se estabelecer na Alemanha e sofreu às últimas consequências com o Holocausto hitlerista. Não há nada de antissemitismo condenar a destruição da Faixa de Gaza e matança de trinta mil palestinos, sendo a maioria de crianças e mulheres. Não há nada contra os judeus como etnia e como um povo denunciar que a política de guerra de Netanyahu, dos Estados Unidos e aliados imperialistas se assemelha à brutal perseguição que os judeus sofreram na história.

Os sionistas se cobrem com o manto do odiado antissemitismo para justificar a criação do Estado de Israel, como se fosse produto da perseguição e do Holocausto sofridos, e não da partilha do mundo realizada como resultado da Segunda Guerra Mundial. Lula não pode ser consequente com sua correta avaliação de que o que ocorre na Faixa de Gaza é um genocídio. Como chefe de um Estado burguês, tem de submeter-se às forças em conflito, procurando conciliá-las por meio da ONU. Vem fracassando diuturnamente. O que tem feito é procurar um alinhamento em torno a países e governos que advogam um cessar-fogo antes que a mortandade cresça ainda mais. Lula curvou-se ao caracterizar o Hamas de organização terrorista, ponto de partida defendido por Israel e os Estados Unidos para se justificar a licença de bombardear, ocupar militarmente o território de Gaza, arrancar parte da população de suas casas, empurrá-la do Norte para o Sul, destruir hospitais, escolas, acampamentos, e chegando agora ao ponto de cercar Rafah, considerada como último reduto a ser destroçado para caçar o Hamas.

Que nome se dá a esse método de dominação e opressão senão de genocídio? O governo Lula não tomou nenhuma ação concreta, como a de romper as relações econômico-comerciais com o Estado de Israel. E não poderá tomar porque depende das forças políticas da burguesia brasileira que é serviçal dos Estados Unidos e que apoiou a criação do Estado sionista. A intervenção dos Estados Unidos, por meio do chefe da diplomacia, Antony Blinken, na reunião do G20, que se realiza no Brasil, está voltada a pressionar o Brasil a se manter sob a tutela do imperialismo no marco de avanço da crise mundial, expressa nos dois anos da guerra na Ucrânia e nos quatro meses de bombardeios sobre a Faixa de Gaza.

O Partido Operário Revolucionário (POR), que trabalha por constituir uma oposição revolucionária ao governo Lula, se viu no dever de contrapor-se à ofensiva dos sionistas contra uma declaração de Lula que, em sua essência, condiz com a realidade da carnificina que o Estado de Israel realiza na Faixa de Gaza. De forma alguma, a repulsa da campanha sionista representa um apoio à política geral do governo burguês de Lula. Ao contrário, se coloca no campo da independência política e organizativa dos explorados, sem a qual não é possível combater consequentemente o genocídio.

O POR chama a classe operária e os demais trabalhadores a combaterem as falsificações dos sionistas! Chama os sindicatos e organizações populares a organizar atos massivos em todo o país pelo fim do genocídio. Chama as correntes político-partidárias que estão pela defesa do povo palestino a pôr em pé uma frente única anti-imperialista, para enfrentar e derrotar a política de guerra do imperialismo. Chama os sindicatos e correntes políticas a massificarem os comitês de frente única anti-imperialista, levantando as bandeiras: pelo fim do genocídio do povo palestino e pela retirada imediata das Forças Armadas de Israel da Faixa de Gaza! Nenhuma vida a mais dos palestinos que vêm sendo arrancadas pelas mãos do Estado sionista de Israel! Chama os sindicatos e correntes políticas a confiarem somente na organização e nos métodos próprios de luta da classe operária e dos demais explorados!

Abaixo a política genocida da burguesia sionista e de Netanyahu! Pelo desmantelamento das bases militares dos Estados Unidos! Fora os Estados Unidos e aliados imperialistas do Oriente Médio!