• 06 abr 2024

    Editorial: 75º Aniversário da OTAN – Um poderoso perigo para a humanidade

Editorial do Jornal Massas nº 712

75º Aniversário da OTAN

Um poderoso perigo para a humanidade

Em Bruxelas, realizou-se a comemoração. Pela primeira vez, o Tratado de Washington, assinado em 3 de abril de 1949, por 12 países, saiu dos Estados Unidos, transladado por um forte esquema de segurança. A forma monumental da festividade, coroada por um bolo de chocolate belga, oculta as tendências de desintegração do capitalismo e o impulso à escalada militar. Seus organizadores compareceram como anjos protetores da paz, quando preparam a OTAN para choques mais amplos e profundos que os manifestados nas guerras da Ucrânia, que já adentrou no terceiro ano, e da Faixa de Gaza que completou seis meses.

Depois do fim da Segunda Guerra Mundial em 1945 e da Guerra da Coreia em 1953, a guerra na Ucrânia, iniciada em 2022, é o acontecimento que mais expõe as profundas contradições do capitalismo da época imperialista. Os Estados Unidos e sua aliança europeia atribuem esse abalo à Rússia. A OTAN estaria tão-somente defendendo o direito à autodeterminação da Ucrânia.

Desde a crise de 2014, a oligarquia ucraniana vinha propondo o ingresso do país na União Europeia e se tornar membro da OTAN. A reação da Rússia diante dos desdobramentos da chamada “revolução laranja”, apoiada abertamente pelos Estados Unidos, e da manifestação de agrupamentos identificados com o nazifascismo foi a de ocupar militarmente a Crimeia, que havia sido concedida em 1954 a ainda República soviética ucraniana, e anexá-la. Eis um ponto alto da crise russo-ucraniana, sob a ofensiva da coligação imperialista e da OTAN.

O fracasso dos Acordos de Minsk, de setembro de 2014 e fevereiro de 2015, resultou da pressão dos Estados Unidos, que estavam decididos a apertar o cerco econômico-militar à Rússia. A invasão da Ucrânia pelas tropas russas em 24 de fevereiro de 2022 foi consequência desse processo de confronto entre os objetivos estratégicos dos Estados Unidos e os da Rússia, que se passou e se passa no território ucraniano.

É necessário ainda considerar a persistência do imperialismo norte-americano em anexar a Ucrânia institucionalmente à União Europeia, refletida nas Cúpulas da OTAN de Bruxelas (junho de 2021) e de Bucareste (novembro de 2021). A Carta de Parceria Estratégica Estados Unidos e Ucrânia, de novembro de 2021, procurou concretizar a decisão de Bucareste. O “convite” à Ucrânia, em 2008, na 20ª Cúpula da OTAN, de Bucareste, de ingressar na OTAN vem sendo alimentado por meio da expansão da aliança imperialista que recrudesce o cerco à Rússia.

Dos doze membros originais, a OTAN passou a ter 32, sendo, os dois últimos aderentes, a Finlândia e Suécia, ampliando assim sua com a fronteira com a Rússia para 1.300 km. O cerco à Rússia pela Europa e Ásia já é poderoso. A inclusão da Ucrânia daria um poder ainda maior ao imperialismo diante da Rússia restaurada, que persiste em manter a sua independência e controle de parte do território sobre o qual se edificou a URSS. O imperialismo necessita projetar a OTAN e falsifica a história.

A celebração do 75º aniversário desse braço armado dos Estados Unidos, do qual se servem as potências europeias como vassalas decadentes, ocorreu sob a impostura de que estaria “sob a sombra da ameaça russa”. A escalada bélica, que lembra a situação de pré-guerra mundial, vem sendo impulsionada pelas contradições estruturais do capitalismo da época imperialista e pelas necessidades da indústria militar que se acha ultrapotenciada nos Estados Unidos.

A realização de uma segunda comemoração à longevidade da OTAN, em Washington, em mais uma das Cúpulas, visa à propaganda eleitoral de Biden em sua disputa com Trump. Os europeus temem que a vitória do republicano poderá prejudicar o fortalecimento da OTAN, lembrando que Trump exigiu de seus membros que pagassem pela sustentação de sua “segurança”.

Com a guerra na Ucrânia, dizem que a OTAN não somente sobreviveu à “morte cerebral”, anunciada pelo presidente da França, Macron, como rejuvenesceu e engrandeceu. Está pronta para seguir as diretrizes dos Estados Unidos em todo o mundo, e, em particular, na Ásia Oriental, marcada pela guerra comercial do imperialismo contra a China.

A OTAN foi concebida nos marcos da “Guerra Fria”, que tinha por principal objetivo destruir a URSS e assim retroceder e barrar a luta mundial do proletariado. A URSS se desmoronou sob os golpes da restauração capitalista, e a “Guerra Fria” foi oficialmente encerrada. Mas, a OTAN permaneceu como instrumento do imperialismo para levar às últimas consequências o processo contrarrevolucionário. Passou a se justificar como meio armado para esmagar a Rússia e a China, dando continuidade à partilha do mundo que resultou da Primeira e da Segunda Guerra Mundial.

A Ucrânia veio a servir de bucha de canhão do imperialismo nas condições de restauração capitalista e de liquidação da URSS. A manutenção da hegemonia dos Estados Unidos depende da OTAN e do disciplinamento às demais potências, imposto após a Segunda Guerra.

Desde meados de 1970, o capitalismo adentrou a um processo de crises sucessivas, de altos e baixos, de guerras e intervenções, e de contrarreformas que destroem antigas conquistas dos explorados. Em 2023, os gastos militares foram de US$ 2,2 trilhões. Os países da OTAN elevaram em média 8,5% os dispêndios militares. Isso se se desconsiderar os dos Estados Unidos que despenderam 3,8% do PIB, mas que detêm “40% do orçamento militar global”. A justificativa para tal dispêndio parasitário e destrutivo é que tamanho gasto se deve à “ameaça latente do expansionismo russo sobre o Leste Europeu”.

O problema central não está na Rússia, mas no domínio imperialista e na decomposição do capitalismo. O que se passa com a Rússia que recrudesce os laços da opressão nacional sobre as ex-repúblicas soviéticas é parte desse problema. Independentemente de se a política de Putin sairá vitoriosa, a escalada militar e o cerco à Rússia vão continuar. O problema da opressão nacional continuará se agravando.

A classe operária e os demais explorados estão diante e sob essas contradições. Os explorados são a única força social capaz de reagir e enfrentar as tendências bélicas em curso.

As manifestações contra o genocídio na Faixa de Gaza têm sido um sinal favorável à luta do proletariado mundial. As massas ficaram presas à camisa de força do imperialismo, quanto à guerra na Ucrânia e à luta contra o cerco da OTAN. É questão de tempo e experiência, vão reagir à barbárie. A resposta de conjunto à guerra na Ucrânia e na Faixa de Gaza, bem como a guerra comercial dos Estados Unidos com a China, depende de a classe operária e os demais trabalhadores entroncarem suas revoltas instintivas com o programa de transformação do capitalismo em socialismo. A luta pela autodeterminação das nações oprimidas se encontra no centro da tormenta. Só é possível interromper a escalada militar e o cerco da OTAN à Rússia com as bandeiras, o programa e os métodos de luta próprios do proletariado.

Trata-se da vanguarda revolucionária lutar sob a estratégia da revolução social e do internacionalismo proletário. É preciso insistir no objetivo de superar a crise de direção, construindo os partidos marxista-leninista-trotskista, como parte da reconstrução do Partido Mundial da Revolução Socialista, a IV Internacional.